A história social é uma modalidade da prática historiográfica que é rica na interpretação e registro dos fatos históricos, visto seu comprometimento com os fatos e os agentes históricos em detrimento da historia oficial e oficiosa.
O surgimento da história Social tem como referencia o Grupo dos Annales, na França, que apresenta uma forma diferente de compreender a história opondo-se ao tradicionalismo da história oficializada pelos governos. A história passa a ser vista como uma ação social conjunta onde a participação dos agentes sociais é vistos e entendidos como verdadeiros motivos da construção e registro da história. Com um direcionamento para o povo e suas características, cultura, economia e suas relações interpessoais. Os heróis e personagens que são destacados em eventos diversos da história da humanidade não são o objeto de analise da história social
A relevância dos fatos sociais é tomado pela história social em todos os seus aspectos a Política, a Cultura, a Economia, as relações humanas na sua diversidade.
O resgate da história através da ótica da história social enfrenta algumas dificuldades no que se refere a obtenção de documentação e registro por parte de pessoas que não fazem parte da elite econômica ou da política de suas épocas, as prerrogativas das classes mais abastadas tende a manter a memória e preservar a história dessas pessoas, no entanto a maioria da população não tem essa prerrogativas.
Com a história dos trabalhadores e militantes anarquistas não é diferente, o esforço de alguns historiadores em resgatar a história pela ótica da história social, e sobre tudo, o resgate das atividades e a memória desse ativistas é de suma importância para preservar e levar adiante as idéias desses homens e mulheres que influenciaram de forma determinante na vida cultural, política e econômica da sociedade que participaram, deixando um legado de luta e conquistas para as futuras gerações.
Para colaborar com essa ação de resgate da história desses agentes sociais vou transcrever uma palestra feita por Jaime Cubero (anarquista, coordenador do CCS, em 11/07/1987) sobre a greve de 1917, evento que foi tratado no curso e que demonstra a ação dos personagens em questão e sua importância histórica e política.
A greve de 1917: história e cotidiano, Jaime Cubero
A situação anterior a greve: o mundo estava em guerra e o Brasil priorizava a exportação de matéria prima na área de alimentação; a importação era muito pequena(..) apesar do encarecimento priorizava-se a importação.outro fator foi uma grande emissão de moeda em função da exportação e do câmbio, tudo isso acarretou uma alta no custo de vida, e uma situação de miséria e fome, a exploração se acentuou ao mesmo tempo que houve uma grande perda do poder aquisitivo.
Essa situação provocou o desenvolvimento do movimento associativo dos trabalhadores. Começam a surgir as ligas e associações de resistência (sindicatos) para dar encaminhamento as reinvidicações econômicas e outras reinvidicações mais especificas dos trabalhadores. As ligas e associações surgem em grande parte dos Centros de Cultura e dos Ateneus já existentes.
No dia 02 de junho, há uma reunião da união dos operários de fábrica de tecidos da Liga dos Operários da Móoca (Rua da Moóca,292 - SP) para fazer um levantamento da situação, que no momento era de desespero, e decidiu fazer uma reinvidicação de 25 % de aumento para os trabalhadores do Contonifìcio Crespi .
Como Crespi recusou-se a atender os trabalhadores os mesmos entraram em greve, fazendo várias manifestações e uma passeata onde vários homens e mulheres foram presos.A greve dos tecelões vai atingindo várias fábricas.(..)No Crespi, a pauta aumenta para a abolição das multas(..)e a suspensão da contribuição pró pátria.(contribuição para a Itália que estava em guerra e precisava de auxilio para manter o custo da guerra, o que proporcionava honrarias aos donos das fábricas italianos ricos que se passavam como heróis as custas dos trabalhadores) O jornal “Avante” 19/01/1901 denuncia uma contribuição obrigatória para o funeral do rei Humberto.
Começam a pipocar greves pelo interior (..) dai começa uma violenta repressão; fecham as sedes das associações dos trabalhadores.
A fábrica Mariengela estava em greve(..)no dia 09/julho num confronto com a policia é atingido o operário Antonio José Martinez (..) que faleceu no dia 10.
Na volta do enterro aconteceu algo imprevisível. No Largo da Concórdia havia um carro de distribuição de pão, o carro foi saqueado e a população passou a saquear armazéns, saqueia o armazém de farinha do moinho inglês onde houve violenta reação da policia.
Mais ou menos nesse momento foi criado o comitê de defesa do proletário, com um comitê de negociação que era composto por Edgard Leuenrouth, Antoni Candeias Duarte (Hélio Negro) Francisco Tchange, Rodolfo Felipe (serrador e fundador do jornal “A Plebe”) Gigi Damianni, Theodoro Imonitele (diretor do “Avante”), esse era somente o comitê de negociação, poi o comitê de defesa proletário era bem maior, composto de operários de diversos ramos, militantes anarquista, secretários das ligas e socialistas no plural, favoráveis ao movimento( pois, segundo Gigi Damianni, nem todos os socialistas eram favoráveis).(..)
A greve não foi espontânea pois havia todo um trabalho de preparação houve uma autogestão da greve, os trabalhadores se auto-organizaram e as decisões refletiam sua vontade.
Jaime Cubero
Esse pequeno relato da greve de 1917 foi feito durante uma palestra no Centro de Cultura Social, onde participaram além de Jaime Cubero, Magareth Rago e Maria Auxiliadora Guzzo Decca.
Transcrevi apenas as informações gerais embora o texto completo aborde os acontecimento de forma cronológica e com mais detalhes.
A história vivenciada tem essa peculiaridade e penso que através da história social podemos obter o resgate da história verdadeiramente.
Referencias
Ciclo 70 anos da greve de 1917
Palestra realizada no CCS, Rua Rubino de oliveira, 85 Brás - SP
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