Centro Universitário Claretiano
Anarquismo como uma proposição
hodierna
Paulo Rogério Sousa Santos
Santo André
2011
Resumo
Este trabalho tem o
objetivo de demonstrar o ideal anarquista sem a alcunha de utopia impossível
que há muito tempo é propagandeado através de livros de história mal elaborados
e vulgarizado por políticos e intelectuais, burgueses, fascistas e Marxistas,
na intenção de desmerecer esse ideal que se impõe a suas ideologias. O conceito
de anarquismo já é trabalho de diversas pesquisas acadêmicas, o que resgata
suas características e princípios, o que é um trabalho de grande resgate histórico,
não apenas para referenciar fatos, mas sim resgatar idéias que são fruto do
desenvolvimento humano e do aperfeiçoamento social.
Proponho demonstrar
esses ideais através da visão dos autores de maior influência na formatação do
ideal anarquista e suas soluções para os problemas de natureza político
filosófica.
Apresentar os ideais
anarquistas através da bibliografia dos teóricos libertários de maior
expressão, e através dessa dissertação demonstrar a contemporaneidade desse
ideal e seus acrescimentos para a solução dos problemas humanos e a formatação
de uma sociedade melhor arquitetada.
Palavras
chave: anarquismo, organização social, liberdade
Sumário
Introdução
Este trabalho demonstra a inquietação dos pensadores e
intelectuais anarquista que desenvolveram trabalhos importantes no intuito de
pensar um ideal social que de fato se comunicasse com a realidade dos agentes
sociais e pode-se proporcionar melhor condição de vida para as pessoas em uma
ação voltada para igualdade e justiça social. Ideal esse que propõe um diálogo
constante com a realidade vivenciada e sendo ajuizadas suas premissas na medida
em que venham sempre a servir a sociedade na justeza de suas necessidades e
desejos.
A questão política não é um problema novo a ser analisada pela
filosofia, essa preocupação tem um histórico semelhante à própria história da
civilização humana, no entanto os conceitos passam a ser vistos do pelo prisma
da filosofia a partir das indagações de diversos pensadores e intelectuais
durante a história.
Procurando assim, através dos trabalhas dos teóricos anarquistas
como Bakunin, Proudhon e Kropotikin, expor as ideias politico filosóficas do
anarquismo e suas principais características e proposituras. Convencionando um
diálogo entre os conceitos desses autores no intuito de proporcionar uma compreensão
de como o anarquismo foi idealmente perpetrado pelos teóricos anarquistas, bem
como foram compostas as premissas desse ideal.
Proudhon critica para uma nova perspectiva
Para inicio desse
trabalho apresento as idéias de Proudhon e sua critica a política econômica e
as relações sociais que contrariam os princípios de igualdade, onde o filosofo
passa a compor suas proposições contra o sistema político de sua época e compor
sua proposições.
O que é a propriedade?
Assim com esse questionamento Proudhon inicia sua tese, a pergunta feita pelo
filosofo é pouco intrigante em sua formação, porém a resposta que ele nos
apresenta é para muitas pessoas inusitadas. A propriedade é um roubo diz
Proudhon, sim um roubo e a ainda mais espantosa é a comparação de que o
proprietário é um criminoso visto a analogia feita pelo pensador, onde a
escravidão é comparada a um assassinato e a propriedade a um roubo, ambos
considerados (assassinato, roubo) crimes segundo o estado de direito.
Proudhon faz uma
distinção entre propriedade e posse, a posse é um direito comum a todos, a
propriedade é que é uma irregularidade, se toda a sociedade e compreendida
entre um acordo entre iguais o proprietário que arrenda sua propriedade e cobra
do arrendatário uma porcentagem da sua produção demonstra ai o desequilíbrio e
a irregularidade se torna clara. Como pode quem não trabalha se beneficiar do
lucro da produção de outro, não obstante o estado e a igreja apóiam e
reivindicam ter direito a parte desse lucro, recaindo sobre o trabalhador
pesado fardo sobre condição de impostos, dízimos e outras modalidades e
confisco.
“O operário civilizado, que dá o seu trabalho por um bocado
de pão, que constrói um palácio para dormir numa estrebaria, que fabrica os
tecidos mais ricos para usar andrajos, que produz tudo para abdicar de tudo,
não é livre. Não sendo seu associado pela troca de salário e de serviços, o
patrão para o qual trabalha é seu inimigo” ( O que é propriedade Proudhon?,
1975,p.116)
A
organização social tem que ser livre para que a igualdade seja assegurada os
meios de produção e os demais benefícios que um ajuntamento de pessoas possa
proporcionar devem ser divididos da forma mais justa possível e a diferença
entre as pessoas não deve existir, apoiando sua genialidade na liberdade e na
igualdade os homens devem redefinir seus costumes e sua conduta moral, sem as
discrepâncias proporcionadas pela propriedade privada e os privilégios
econômicos que ela proporciona.
O proprietário não
apenas se apropria do produto do trabalho de quem realmente produz como exige
valor e tempo específicos a fim de sanar a sua usura.
O costume e as leis não
são pautados na justiça, mas na consideração da defesa da propriedade, que
consome a sociedade pelos seus princípios sem lógica e suas práticas injustas.
No que salienta o pensador a justiça tem como premissa irrevogável a igualdade,
não apenas a igualdade de ação concomitantemente a igualdade de condições. A
razão e a lógica que Proudhon lança mão definem em suma o fato concreto de que
o direito ao lucro é em outras palavras o direito ao roubo, confisco e
apropriação indevida do esforço e trabalho alheio.
A propriedade consome o
fruto do trabalho por usura e não por necessidade, e esgota o trabalhador
impossibilitando seu progresso, o que define a sociedade com base na
propriedade como inviável no que toca a justiça e a igualdade. “A propriedade é
impossível; a igualdade não existe. A primeira nos é odiosa e queremos
destrui-la: a segunda absorve todos os nossos pensamentos e não sabemos
concretizá-la.” (Proudhon, idem, 1975, p.195)
Para que se
estabeleça igualdade de direitos e deveres a liberdade deve ser o ponto de
partida a convergência social, a liberdade deve ser à base da sociedade não a
propriedade. A distinção feita por Proudhon entre propriedade e posse demonstra
sua compreensão sobre o uso da terra, a terra deve ser de quem nela produz, bem
como as fábricas e os meios de produção aos que deles fazem uso, e engrandecem
a sociedade com seus resultados. A presença do proprietário é a de um ser estranho
e de certa forma uma abstração surreal do processo produtivo.
A essência
da organização social é a liberdade, e a única forma de assegurar a justiça e a
igualdade social tornando equânimes as relações entre os entes sociais e
possibilitando uma comercialização justa entre os centros urbanos e os
trabalhadores agrícolas.
A posse deve ser
individual, nos indica Proudhon, o que torna a propriedade ilegal ação que por
si só modifica todas as relações econômicas da sociedade, tornando mais justa à
distribuição de terras e moradias, proporcionando a todos de forma igual o
direito de ocupar variando de acordo com o numero de ocupantes na intenção de
impossibilitar a propriedade, o trabalho passa a ser um dever de todos e o
resultado do emprego dessa força de trabalho passa a ser propriedade coletiva.
No que conclui, o trabalho acaba com a
propriedade e a exploração do homem pelo homem. As transações comerciais devem
se feitas na medida da troca do produto pelo produto, impossibilitando uma
renda desproporcional nas transações comerciais, toda troca dever ser feita de
forma livre e equivalente entre os interessados, observando essas condições a
desproporcional diferença entre ricos e pobres deixara de existir e problemas
como a escassez de alimentos será coisa do passado. O homem sozinho não produz
nem mesmo para suprir todas as suas necessidades, mas em grupo ultrapassa as
necessidades econômicas.
Por intermédio de livre
associação e cooperação mutua com a manutenção da igualdade de direitos e
deveres preservando a liberdade individual é, com efeito, a única maneira de se
promover uma sociedade justa e igualitária.
Segundo Proudhon,
“IX. - A associação livre, a liberdade que se limita a manter a
igualdade nos meios de produção e a equivalência nas trocas é a única forma
possível de sociedade, a única justa, a única verdadeira
X,
- A política é a ciência da liberdade: o governo do homem pelo homem, qualquer
que seja o nome que se lhe atribui, é opressão; a maior perfeição da sociedade
encontra-se na união da ordem e da anarquia. ”(
Proudhon, ibidem, 1975,p.247)
Não existe
possibilidade de justiça em uma sociedade onde a base econômica é a propriedade
e a desigualdade produzida por essa forma de economia que gera pobreza e
riqueza de forma diretamente proporcional, o governo de poucos sobre os demais
é mantido pela ação violenta do estado e de suas instituições. A organização
social deve ser pautada em uma política de liberdade e igualdade que terá como
conseqüência justiça social, a busca por uma sociedade perfeita tem como base
de apoio a fusão entre a ordem e a anarquia.
Organização social, proposições de Bakunin
Para nos auxiliar na
compreensão da fisiologia da organização proposta pelos teóricos anarquistas
analisamos as proposições de Bakunin.
As idéias de Bakunin se
opõem a instituição de um poder centralizado e da fragmentação das organizações
revolucionárias, tornando sua idéia ao mesmo tempo contraditória e inovadora,
sua proposta inclui uma dialética organizacional, o que seria um embrião para o
federalismo libertário, o coletivismo de Bakunin não propõe uma organização
modelo, mas sim aponta que a organização revolucionária deve ser feita por
alianças sociais de forma ampla e aberta tanto no âmbito regional como de forma
macro e internacional.
“É
próprio do privilégio e de toda posição privilegiada matar o espírito e o
coração dos homens. (..) Eis uma lei social que não admite nenhuma exceção e
que se aplica tanto a nações inteiras quanto às classes, companhias e
indivíduos. E a lei da igualdade, condição suprema da liberdade e da
humanidade.” (Deus e o Estado, Bakunin, p.25)
A sociedade somente
pode se desenvolver de forma plena através do empenho coletivo e da manutenção
da igualdade e liberdade.
Para
que a liberdade de fato se estabeleça na sociedade é necessário que os meios de
produção e os diversos setores da sociedade sejam gestados pelos seus membros
de forma direta, através de associações de trabalhadores quer sejam do campo ou
urbanos da indústria ou dos diversos setores necessários a manutenção da
economia e dos serviços pertinentes a satisfação das necessidades da sociedade.
A
sociedade deve estar de tal maneira organizada que todos os indivíduos tem que
ter garantidos recursos para a sua manutenção e o seu desenvolvimento tanto
para o trabalho como para as suas necessidades individuais para o pleno
desenvolvimento de suas faculdades intelectuais e físicas. A preocupação com a
formação de grupos gestores é para que não haja novamente a exploração do
trabalho alheio e prerrogativas econômicas a grupos que desfrutam da riqueza
social sem participar da produção dessa riqueza diretamente.
Que
a terra seja de quem cultiva a terra e as fábricas de quem trabalha nas
fábricas, essa é a configuração do plano econômico proposto por Bakunin, um
processo de autogestão nas fábricas e nas associações rurais.
O
que configura o ponto principal do coletivismo de Bakunin é disponibilização
dos bens e riqueza produzida pelos trabalhadores quer sejam do campo ou
urbanos, a todos os membros da sociedade, reivindicando a provisão das
necessidades dos indivíduos sociais desde sua infância, sem distinção de gênero
ou faixa etária, todos os indivíduos devem ter suas necessidades garantidas a
partir de seu nascimento. Porém é proporcionado a cada membro da sociedade condições
para desenvolver e executar trabalho produtivo, de modo a auxiliar (de acordo
com sua capacidade), na manutenção das necessidades da coletividade. A máxima
coletivista tudo é de todos engloba o dever como sendo também de todos, a
exploração do trabalho alheio é inaceitável na visão coletivista.
A
necessidade de uma mudança radical na configuração econômica e social, para que
haja uma real emancipação dos trabalhadores da servidão a que estão submetidos
pelo sistema capitalista. A relação patrão e empregado senhor e escravo deve
ser extinta de forma definitiva, em todas as suas manifestações e configurações
que se apresentaram durante a história das civilizações. O poder político que é
efeito causador dessas desigualdades, por manter e defender as classes
dominantes e propiciar as prerrogativas dos grupos que se estabelecem no poder
deve ser aniquilado do meio da sociedade. Somente assim a sociedade pode
caminhar para o socialismo verdadeiramente.
De acordo com o entendimento de Bakunin, para que o
povo de fato possa se emancipar e tornar-se livre definitivamente do estado, se
faz necessário a aquisição do conhecimento, através da educação.
“(..)a igualdade dos meios de
desenvolvimento, isto é, de alimentação, instrução e educação em todos os meios
da ciência convencido que isso terá por resultado que a igualdade somente
econômica e social em princípio, chegara a ser também intelectual, fazendo
desaparecer todas as desigualdades fictícias(..)” Bakunin, aput, Valverde,
p.65)
A educação para Bakunin não é apenas a simples
democratização dos entendimentos e saberes adquiridos pela humanidade durante a
história, a educação é plena completa proporcionando ao individuo total
compreensão de como ele deve se situar dentro do corpo social, e ser capaz de
gerir sua própria vida e fazer suas escolhas de acordo com suas predileções. A
educação deve ser completa no que se refere à formação intelectual e nos
valores individuais e na cultura.
Não se faz escolhas sem ter informação, e não é
possível compartilhar as escolhas sem ter educação. O conhecimento é para
Bakunin um agente libertador, que proporciona a seu detentor condições para
exercer sua liberdade de forma plena.
Dentro dessa
perspectiva existe uma proposição, que por meio da educação, possa haver uma
mudança na consciência dos trabalhadores, dando a população ferramentas para
levar adiante uma revolução sociocultural.
“(...) devemos repudiar a hereditariedade fictícia
da virtude, das honras e dos direitos, assim como a da fortuna. O herdeiro de
uma forma qualquer não é mais o filho de suas obras e, em relação ao ponto de
partida, é um privilegiado.
A abolição do direito de herança é fundamental para
a abolição das classes sociais, pois enquanto houver um grupo que detém a
propriedade e a transmite para seus filhos, a divisão entre uma classe
proprietária e a classe dos deserdados permanecerá.
A eliminação da divisão entre trabalho intelectual e
manual Uma outra transformação econômica é a eliminação da divisão entre
trabalho intelectual e trabalho manual. O trabalho intelectual, que é
apropriado pelos privilegiados capitalistas, compreende “(...) as ciências, as
artes, a idéia, a concepção, a invenção, o cálculo, o governo e a direção geral
ou subordinada das forças operárias”. (BAKUNIN, 1999, p. 99. aput, Anarquismo
Coletivista, 2005.)”
<http://pt.scribd.com/doc/22741378/O-Bakuninismo-Anarquismo-Coletivista>
Na medida em que as
pessoas possam compreender o seu papel na sociedade e sua verdadeira condição
dentro de um sistema baseado na exploração do trabalho e na divisão injusta dos
bens de consumo e riquezas produzidas pela sociedade, os anarquistas como
Bakunin acreditam que a mudança dos valores ocasionara uma revolução social
verdadeira e profunda.
A crença na mudança
motivada pela conscientização do povo e no desejo positivo das pessoas em fazer
o melhor para si e para os seus semelhantes é uma característica marcante do
coletivismo libertário de Bakunin, no que rejeita qualquer forma de
direcionamento ou vanguarda intelectual que venha a conduzir a revolução.
O principio da não
doutrinação é explicito nas proposições de Bakunin, outro sim é sua crença na
natureza humana em evoluir e conspirar para uma sociedade melhor e mais justa,
essa crença que Bakunin expressa em seus escritos é alimentada, em grande medida,
pela sua atuação nas frentes de revolucionárias e no ambiente de grandes
mudanças e descobertas cientificas, rasgando o véu de Maia em que a sociedade
vivia há séculos.
E é nessa dialética que
Bakunin apóia sua proposta de federalismo coletivista, com grande dose de
otimismo e fé na bondade das pessoas e na mudança através da educação.
“A Aliança se declara atéia; ela quer a abolição
definitiva e completa de classes e a igualdade política, econômica e social dos
indivíduos de ambos os sexos; ela quer que a terra, os instrumentos de
trabalho, bem como qualquer outro capital, tornando-se propriedade coletiva de
toda a sociedade, possam ser utilizados somente pelos trabalhadores, isto é,
pelas associações agrícolas e industriais. Ela reconhece que todos os Estados
políticos autoritários atualmente existentes, restringindo-se cada vez mais a
simples funções administrativas dos serviços públicos em seus países, deverão
desaparecer na união universal das associações livres, tanto agrícolas como
industriais”.
(Bakunin, James
Guillaume)
<http://pt.scribd.com/doc/61338471/Bakunin-James-Guillaume>
O que Bakunin aponta
como principal fator para que haja uma revolução social, é uma mudança no
estado de coisas não apenas na economia ou na política social, mas uma mudança
nos valores sociais e nas relações sócio econômicas, uma mudança radical na
sociedade uma revolução verdadeira e profunda na sociedade.
A organização libertária segundo Piotr Kropotkin
Por meio da filosofia e
das diversas correntes de pensamentos e seus métodos de investigação, podemos inquirir
investigar e propor várias formas de saber e como compreender e apresentar as
coisas de acordo com o nosso entendimento, na busca pelo conhecimento apurado,
testado, avalizado e que mais se aproxime do verdadeiro saber filosófico.
A maneira de como esse
conhecimento é fomentada e disseminado na sociedade é que tem uma inferência a
versa a simples busca pelo conhecimento e muito mais próxima dos interesses de
grupos que detém prerrogativas econômicas e políticas bem como os privilégios
de acesso a ciência e a prerrogativas de comunicação e informação.
Distanciando assim o
conhecimento produzido pela sociedade um tanto distante da filosofia com
interesses notoriamente classistas e para manutenção do poder de grupos de
políticos profissionais a serviço de uma elite que detém o poder econômico, o
que submete as investigações cientificas e filosófica, em grande medida, a
conveniência econômica e política dessas oligarquias.
Os paradigmas políticos
filosóficos, durante a história das civilizações, seguem esse padrão
subserviência as oligarquias dominantes com poucas exceções, que quando se
manifestam são rechaçadas ou comumente taxadas de insurreições ou levante
subversivo.
O anarquismo é uma
dessas exceções, onde não configura um pensamento político filosófico voltado
para manutenção do poder e nem tampouco das prerrogativas das oligarquias
dominantes, mas sim tem o compromisso com uma mudança radical na sociedade
visando aprimorar as relações humanas e buscar um melhor entendimento entre a
os indivíduos que se propõe a viver em sociedade.
E nessa trilha chama a
atenção o trabalho desenvolvido por um pensador russo chamado Piotr Kropotikin,
o qual nos serviremos de sua proposições para demonstrar uma das dificuldades da formatações das políticas
filosóficas e suas adaptações na sociedade de forma efetiva, visto a motivação,
interesses de classes, como um entrave na configuração de políticas filosóficas
que sejam pautadas na busca da melhor forma de se conviver em sociedade de
forma justa e igualitária a solidariedade não seja uma conveniência, mas sim
uma cultura.
As considerações de
Kropotkin começam por referenciar a mudança que passou a sociedade humana
durante o processo civilizatório desde sua vivencia nas cavernas até a idade
moderna, apontando principalmente a sua conduta em relação ao acumulo de bens e
a herança.
Se todo o avanço da
civilização é participado pela história da humanidade como um todo e do esforço
de todos em comum, por que o beneficio é regrado e propiciado apenas há uma
pequena parcela da sociedade? Não faz o menor sentido que se possam negar a
ninguém as conquistas adquiridas por todos, dando a algumas prerrogativas e a
maioria nada sendo servido.
A
propriedade privada invenção imoral que permite a determinados grupos sociais
se apropriar da riqueza produzida por outros para si. O que chamou Proudhon de
roubo é o que ocorre na sociedade moderna com o aval do Estado e ratificada
pelas leis, onde o trabalhador não fica com o produto do seu trabalho mais é
repassado para o patrão, que de certa forma tomou o lugar do senhor feudal, e o
Estado se dedica a providenciar a manutenção e a garantia dos direitos da
classe patronal e dos detentores do poder econômico é o capitalismo. .
“Mas
sucedeu que tudo quanto permite ao homem produzir e acrescentar suas forças
produtivas foi açambarcado por alguns. O solo, que precisamente saca seu valor
das necessidades de uma população que cresce sem cessar, pertence hoje a
minorias que podem impedir e impedem ao povo o cultivá-lo ou lhe impedem o
cultivá-lo segundo as necessidades modernas. (Kropotkin, 1956, p 6.)”
Os
meios de produção foram arrancados dos trabalhadores e tudo passou a ter um
proprietário, não sendo possível sobreviver sem se sujeitar a exploração e a
venda da sua própria força de trabalho o camponês e o trabalhador urbano se
sujeita a produzir para o enriquecimento das elites proprietárias, a lógica
econômica não se aplica a prática capitalista já que se produz apenas para
avançar no acumulo de riqueza e de lucro dos proprietários e não para sanar as
necessidades econômicas da sociedade. O que compromete, em grande medida, a
“saúde” econômica do próprio sistema.
O que ocorre é que
devido o sistema se balizado no provento do lucro e da usura de alguns poucos,
não se pode produzir com toda a capacidade real, a existência de verdadeiros
exércitos de desocupados sobrecarrega os trabalhadores produtivos e
sobremaneira a quantidade imensa de atravessadores que não produzem nada, mas
ganham com as negociações das mercadorias frutos do trabalho alheio, o processo produtivo é sobrecarregado com o
esquema montado para valorizar o produto na chamada “lei da demanda” se um produto não tem seu valor acrescido nas
infindáveis manobras do sistema capitalista,
o gargalo produtivo faz com que com a escassez do produto esse se valorize no
mercado. O sistema com base na elevação do lucro incessante não é um sistema
econômico é sim antropofágico, se auto consome.
A
proposição de bem-estar para todos, feita pelo anarquismo, é possível se todos
esses milhares de parasitas deixem de ser apenas um estorvo social e passem a
contribuir com sua força de trabalho e os proprietários não sejam mais senhores de toda a riqueza
produzida pelos trabalhadores. Promover a igualdade de condições e bem estar a
todos é perfeitamente possível.
O
que nos diz Kropotkin: “O bem-estar para
todos não é um sonho. É possível, realizável, depois do que fizeram nossos
antepassados para fazer fecunda nossa força de trabalho. ( Kropotkin,
1956, P.7)”
O que se espera da revolução não é uma mudança
representativa, mas a tomada dos meios de produção e dos bens de consumo pelo
povo e para o povo. Tomar para si toda a
riqueza propicia ao povo conhecer o que é bem-estar, e como é viver na fartura
assim como se conhece o trabalho duro e a escassez do que se deseja e
necessita.
Como os anarquistas imaginam a possibilidade de uma
sociedade igualitária e economicamente possível na forma de proporcionar
bem-estar a todos? Essa sem duvida é uma pergunta importante a ser elucidada, e
Kropotkin assim como outros teóricos anarquistas nos apresentam várias
proposições, entre elas o comunismo anarquista que é justamente a proposição de
Kropotkin. No que diz: Toda sociedade que rompa com a propriedade
privada se verá no caso de organizar-se em comunismo anarquista. (Kropotkin, idem,
p.11)”
Para uma sociedade onde os meios de produção serão
de todos, denotando uma mudança total na formatação do trabalho e nas
atividades e relações de trabalho, a distribuição dos produtos desse trabalho
também tem que sofrer uma mudança radical, não com a forma suavizada de um
comunismo de estado (Marxismo), mas se todos tralham então que todos possuam. O
fim da propriedade traz consigo essa mudança proporcionalmente, não havendo
proprietários cada um tem para si o apenas a posse do que necessita para o seu
bem estar, e não sendo pago pelo trabalho ou recebendo bonificações, mas
possuindo as riquezas assim como o trabalho é coletivo as riquezas também devem
ser.
O anarquismo não compactua com os conceitos
retrógrados onde figura a idéia de “estado gestor”, soberano na manutenção do
bem estar social e da segurança econômica da sociedade, o mito ideológico não
tem reflexo na realidade, a maioria das atividades produtivas da sociedade são
desassociadas da gestão do estado, quanto maior a interferência do estado nas
atividades econômicas maior à possibilidade de insucesso e fracasso. Em síntese
a ação do estado interfere no processo produtivo apenas para confisco e não
como provedor e administrador. Os processos necessários para garantir uma nova
organização econômica, que faças jus a essa ciência, compreender as
necessidades humanas e promover formas de satisfazê-las, terão duras e difíceis,
não se modifica uma estrutura social de forma tão radical com mudanças e
reformas singelas, é como utilizar pano novo para remendar roupas rotas, com o
tempo tudo está rasgado novamente, após sublevar o antigo sistema e
apropriar-se dos meios de produção é necessário integrar as ações de trabalho e
compondo uma verdadeira conexão entre os trabalhadores do campo e o trabalhador
urbano podendo haver através das livres associações trocas de mantimentos
necessários para a vida urbana por produtos manufaturados que interessem aos
camponeses, a tudo que for abundante que se peguem sem regulação e o que for
escasso que tenha comedimento.
Dessa forma que compreendemos a mudança econômica
sugestionar sobre a economia não quer dizer padronizar as relações econômicas,
porém as livres associações sabem de que forma podem contribuir para a
manutenção da sociedade e como pode ser mais bem aproveitado as riquezas da
comunidade sem tornar necessárias legislações e penalidades para a execução de
tarefas e o bom uso das riquezas produzidas pela comunidade. As práticas burguesas
devem morrer com o sistema capitalista, uma nova sociedade requer esforço e
vontade de todos, na certeza de se estabelecer o melhor para todos.
“(..) nosso comunismo não é o dos
falansterianos nem o dos teóricos autoritários alemães, senão o comunismo
anarquista, o comunismo sem governo, o dos homens livres. Esta é a síntese dos
dois fins perseguidos pela humanidade através das idades: a liberdade econômica
e a liberdade política.” (Kropotkin, idem, p.2)”
Almejando promover uma sociedade solidária onde a
liberdade e o respeito às individualidades seja uma prática comum, as ações
positivas para elucidar os problemas cotidianos serão reforçadas pela vontade
de melhor e avançar para uma sociedade superior.
Não em simbologia e ideologias vazias de propósitos
reais, mas superior nas relações e no respeito aos semelhantes, que a igualdade
de direitos não passem de letra morta em legislação imprópria, mas de se
consolide todos os dias na prática das relações de trabalho e de solidariedade
em uma sociedade anarquista.
Conclusão
O anarquismo é uma
política-filosofica que tem como base a não aceitação de qualquer tipo de poder
e hierarquia como modo de organização social. Com as ações e métodos
organizacionais pautados na livre organização e na iniciativa autônoma e
voluntária.
O que podemos concluir
com as proposições dos pensadores e teóricos vistos até aqui através desse
nosso trabalho é o que será exposta a seguir.
Para a formatação de
uma sociedade anárquica se faz necessário uma mudança radical e completa do
estado de coisas, ou seja, uma revolução social. A forma como se pode instaurar
uma sociedade anarquista é uma questão que tem diversas opiniões, cujas
proposições deram origem a muitas vertentes desse pensamento político
filosófico.
O anarquismo propõe
soluções para os problemas de injustiça, autoritarismo e desigualdade social,
balizado na idéia de liberdade e igualdade de direitos a todos. Ao recusar
qualquer forma de poder e de dominação se propicia a possibilidade da
configuração de uma forma superior de organização humana, sem sufrágio
universal sem ditaduras ou fascismo. Negando a suposta necessidade de
dirigentes ou lideres, que conduzem as massas e representam seus anseios
dirigindo a vida de todos.
O anarquismo preconiza
que todos são capazes de seguir o seu próprio caminho, onde o direito de cada
um seja respeitado e os deveres entendidos como uma relação solidária e
necessária para a manutenção do bem comum, onde as atribuições de cada um
sempre sejam escolhidas de forma autônoma, sem subordinação a nenhum tipo
autoridade constituída ou norma institucionalizada que reprima a vontade do
individuo e seu inalienável direito de ser livre.
O principio da não
doutrinação é um dos conceitos que diferem o anarquismo das ideologias em
geral, não se propões uma doutrina anarquista, mas sim sugestões de como se
organizar com base em determinados princípios como a liberdade individual, a
igualdade universal e a justiça social. O anarquismo não é uma ideologia pelo
fato de não estabelecer doutrina que compromete a realidade social em uma
concepção de mundo dogmática embasada em pontos de vista de seus criadores.
Assim como o pensamento
é heterodoxo, não havendo limites para o entendimento do mundo e como ele se
apresenta para nós, o anarquismo não se limita a uma interpretação absoluta da
realidade, o que tornaria seu ideário engessado em uma ideologia, a realidade
não se apreende, mas se compreende, se a realidade é heterodoxa as proposições
de como a sociedade devem ser organizadas somente podem ser desenvolvidas de
forma heterodoxa. Sempre respeitando os princípios de igualdade, liberdade e
justiça social.
Cada indivíduo social
deve ser capaz de compreender sua função social, responsável pela construção de
sua própria razão e dos seus valores, a participação do indivíduo não está
apenas na produção de bens de consumo, mas também na construção intelectual da
sociedade, seus hábitos sua cultura seus valores éticos e morais. Todos os
indivíduos devem possuir ferramentas intelectuais que propicie formular juízo
de valor sobre a realidade que participam ter autoconsciência e a liberdade de
ser de forma plena.
Se formos de fato o
resultado de nossas escolhas somente podemos ser de fato se houver liberdade
para a execução das escolhas que fazemos, de forma individual e sem a
inferência das imposições feitas através das convenções sociais que são feitas
antes mesmo do individuo nascer.
A liberdade de escolha
potencializa a própria condição do ser enquanto individuo social, quando
compreende que a igualdade se consolidada na comparação do diferente e não pela
similaridade, mas sim pela diferença que é próprio de cada individuo e a
solidariedade e a ajuda mutuo fomenta a construção de uma sociedade
igualitária. Pois é no exercício das nossas diferenças que nos tornamos
verdadeiramente igual.
Qualquer forma de
governo é vista pelos anarquistas como autoritário e ilegítimo, pois apenas
perpetua a dominação e a exploração do homem pelo homem, e mantém as
prerrogativas de um a elite dominante em detrimento do resto da população. A política
organizacional anarquista é também chamada de socialismo libertário, onde a
existência de um governo gestor não é admitida nem mesmo para uma transição de
sistema, o que já foi preconizado por vertentes socialistas autoritárias que
afirmavam que apenas após uma gestão provisória de um estado operário poderia
alcançar condições para uma mudança socialista de fato. De pronto essa
ideologia não condiz com os ideais do socialismo libertário, visto que a
liberdade não pode ser exercida através do emprego da coação da liberdade, da
violência legal de um estado instituído, somente se pode exercer a liberdade na
real prática da liberdade, não se socializa por decreto, mas por ação
socializadora de todos.
A organização social se
da de forma livre e sem normas e regras impositivas, os bens de consumo e as
propriedade são socializadas, dentro do entendimento de que se todos trabalham
todos tem o direito de usufruir dos bens de consumo produzidos na sociedade.
Sem que aja para isso a necessidade de autoridades reguladoras ou qualquer tipo
de liderança ou governança, as organizações em todas as esferas sociais devem
se feitas de forma livre, e assim como se compõe devem se desfazer, sem
pretensas obrigações e imposições desnecessárias ao bom convívio e a manutenção
do bem estar social. O que apenas objetiva a garantia plena da liberdade de
escolha dos agentes socais, tanto no que vão fazer como irão se associar.
O socialismo libertário
tem sua funcionalidade totalmente vinculada à ausência do poder centralizado ou
em qualquer de suas manifestações, burocrático ou absolutista, defendendo uma
forma de organização pautada na livre iniciativa e na autogestão. O que
possibilita assim o exercício real da liberdade individual em condição de
igualdade e de forma justa para todos os entes sociais.
As divisões sociais são
negativas para a formação de uma sociedade justa e igualitária visto que gera
conflitos impróprios para a sociedade e propicia incompatibilidades na
coletividade e para a ação solidária, o que torna descartável qualquer tipo de
divisão social. Todos devem ser compreendidos moralmente iguais como o são
naturalmente, sem que para isso seja considerado sua localização espacial ou
características genéticas proeminentes.
A formação de cada
indivíduo esta propensa a ser influenciada de acordo com o universo cultural em
que ele esta inserido, o que não torna o espaço geográfico um determinante, mas
a sociedade que com ele convive, cada civilização tem a sociedade que escolhe
que deseja durante a constituição da sua história.
O inerente caráter
global do ideário anarquista o faz uma política filosófica totalmente distinta,
não sendo baseado em interesses capitalistas ou imperialistas, com uma visão
globalizada sem impor fronteiras políticas, comerciais ou de qualquer natureza
ideológica, afastando qualquer tensão proveniente de disputas por território ou
lucro comercial, o anarquismo propõe uma globalização integral, onde tudo seja
mutuamente compartilhado entre todos, e não apenas prerrogativas de alguns ou de
determinados países que tem suas estruturas industriais e comerciais
privilegiadas e detendo o monopólio e grande vantagem nas relações comerciais
internacionais.
A divulgação do
conhecimento e o acesso à informação para todos é algo preconizado pelos anarquistas
como fundamental para a formação de pessoas capazes de formar seus próprios
conceitos e fazer juízo de valor sobre as ações e coisas dentro do ambiente
social, tornando-se auto-suficientes na gestão de suas vidas. Para tanto a
proposição anarquista perpassa pela idéia de educação libertária e educação
integral.
O anarquismo quebra
toda a cadeia de dominação desestruturando a arquitetura de poder e de divisão
de classes, a classe dos endinheirados e dos sacerdotes, os lideres políticos e
espirituais não encontram lugar em uma sociedade anarquista.
As codificações de
conduta sempre ressaltadas de punições são descartadas pelo ideal anarquista,
visto que sua funcionalidade não encontra reflexo na realidade vivenciada, mas
sempre foi utilizada para privilegiar a classe dominante e nunca para favorecer
a mediação de conflitos ou estabelecer a igualdade de fato.
O federalismo
libertário vai muito além da condição de assembléia administrativa ou de
conselho comunal para a configuração de conector de uma rede solidária que
auxilia na comunicação e no apoio mutuo dos diversos grupos que fazem parte da
federação. Não sendo assim um representante de grupos e seus interesses, mas
participando das necessidades pessoais de cada integrante da sociedade, o que o
caracteriza como política singular na competência de união ordenada para a
satisfação das necessidades do indivíduo social.
A definição
organizacional é definida pela dinâmica natural da vida cotidiana, visto que a
participação de todos naturalmente proporciona essa ação e potencializa essas
mudanças. As acepções precedentes organizacionais são consideradas induções que
se complementam de forma dialética através da concepção da federação
libertária.
A responsabilidade
individual é inerente a cada ação operada pelo individuo, não sendo imputada a
nenhum conceito de moralidade abstrata sua conduta, mas de forma concreta e
objetiva a autoconsciência e os valores individuais regem a ação de cada
individuo.
No aspecto dos
deveres coletivos aparece a perspectiva do interesse geral, em oposição ao
desejo individual. O que não é fato verdadeiro o interesse individual converge
para a vontade do individuo na medida em que esse é ator ativo na coletividade
e se vê refletido na ação social, na cooperativa, associação ou grupo social
que emerge para a execução de qualquer ação coletiva. Onde o individuo se
esforça para ultrapassar as dificuldades enfrentadas pela coletividade, que
também o beneficiara no âmbito pessoal.
Assim como no âmbito
individual as ações provenientes dos grupos emergentes são de total
responsabilidade desses agrupamentos, toda a decorrência é de sua inteira
responsabilidade os projetos ajustes e conseqüências são totalmente de seu
encargo.
A operacionalidade
dos agrupamentos sociais deve ser feito de forma organizada e com o máximo de
empenho para que cada um possa colaborar com a sua parcela de trabalho sem
onerar a ninguém, a contribuição deve ser na medida de cada um segundo a sua
capacidade.
A preocupação com a
formação de uma idéia político social que tenha a capacidade de dialogar com a
moral social e a necessidade coletiva nos seus mais diversos aspectos,
econômico, organizacional e político se mostra uma tarefa de e dificuldade
extrema devido a circunstancias civilizatória e suas implicações.
O que o anarquismo
propõe, em grande medida, é uma ação coletiva no sentido de mudar os valores
cultuados há séculos, revolucionar o pensamento e o comportamento social na
medida em que os indivíduos tenham consciência da necessidade dessa mudança e
passem a desejar essa mudança. Pensamento esse que seja pautado na justiça
social, na igualdade de direitos e na responsabilidade coletiva, e tenha como
novo paradigma a liberdade a igualdade e a solidariedade.
O que o anarquismo busca é sem duvida uma
revolução, uma mudança profunda em todas as estruturas sociais, políticas,
econômicas e éticas. Harmonizando ordem, liberdade, igualdade, paz e
solidariedade.
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