Introdução
J.J. Rousseau foi um grande filosofo iluministas suas ideias foram motivadoras de grandes mudanças sociais e discussões filosóficas. A obra em questão é sem duvida uma critica social de grande repercussão, que ira modificar inclusive a vida do próprio autor, que gozava de grande prestígio na sociedade e que vai ser duramente criticado pelos seus pares, na academia de Dijon, após a publicação de sua obra o discurso sobre a desigualdade entre os homens.
A contra posição que Rousseau propõe é contraria as afirmações de outros pensadores como Hobbes que defendiam um estado forte pela impossibilidade do homem de gerenciar a sua vida social sem a inferência do Estado para coibir sua natural condição de selvageria. Rousseau, no entanto afirma que o homem é bom por natureza e é justamente o processo civilizatório que o tornou ambicioso, individualista e antisocial. É a convivência social que degenera as qualidades boas do homem, segundo Rousseau, e através de seu discurso ela procura demonstrar essa sua afirmação.
O Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens
No primeiro momento de sua obra Rousseau faz uma dedicatória aos cidadãos e aos governantes como forma de agradecer sua agradável relação com a sociedade e o prestigio que lhe era conferido, no que diz Rousseau;
“Convencido de que só ao cidadão virtuoso cabe dar à sua pátria as honras que ela possa reconhecer, há trinta anos que trabalho para ter o mérito de vos oferecer uma homenagem pública; e essa feliz ocasião suprindo em parte o que meus esforços não puderam fazer, acreditei que me seria permitido consultar aqui o zelo que me anima, mais do que o direito que deveria autorizar-me. Tendo tido a felicidade de nascer entre vós, como poderia eu meditar sobre a igualdade que a natureza pôs entre os homens e sobre a desigualdade que eles instituíram, sem pensar na profunda sabedoria com a qual uma e outra, felizmente combinadas nesse Estado, concorrem, da maneira mais próxima da lei natural e mais favorável à sociedade, para a manutenção da ordem pública e para a felicidade dos particulares? Procurando as melhores máximas que o bom senso possa ditar sobre a constituição de um governo, fiquei tão impressionado ao vê-las todas em execução no vosso, que, mesmo sem ter nascido dentro dos vossos muros, achei que não poderia dispensar-me de oferecer este quadro da sociedade humana àquele de todos os povos que me parece possuir as maiores vantagens delas e ter melhor prevenido os seus abusos.”(Rousseau)
Incitando sua dedicatória ele agradece a hospitalidade dos cidadãos de Genebra e inclui agradecimentos a seu pai e as mulheres e sua participação na sociedade, dando monstra do que foi feito no decorrer da obra na medida em que elogia a sociedade e o estado, mas faz ressalvas de que a sua atual formatação é boa por se aproximar do estado natural que seria segundo Rousseau o ideal.
Em um segundo momento Rousseau apresenta o as primeiras questões que iram dar corpo a sua obra, o que é o homem, como ele se situa historicamente e como o processo civilizatório o modifica moral e intelectualmente.
“O mais útil e o menos avançado de todos os conhecimentos humanos me parece ser o do homem (...) como conhecer a fonte da desigualdade entre os homens, se não se começar por conhecer os próprios homens? e como chegará o homem a se ver tal como o formou a natureza, através de todas essas transformações que a sucessão dos tempos e das coisas teve de produzir na sua constituição original, e a separar o que está no seu próprio natural do que as circunstâncias e o progresso acrescentaram ou modificaram em seu estado primitivo?”(idem)
Os avanços civilizatórios alcançados pelo homem são, sem duvida muito importantes, para as atuais condições demográficas em que a humanidade se encontra porém seu desenvolvimento moral e social não acompanhou o ritmo da sua evolução tecnológico, nem tampouco o senso de justiça não foi apropriadamente configurado as necessidades da sociedade como um todo, tornando o homem civilizado moralmente arcaico e se distanciando da sua boa conduta própria do seu estado natural.
Para conhecer o homem é necessário refletir sobre sua história e de como ele chegou até aqui, Rousseau convida o leitor a fazer um esforço reflexivo e pensar sobre como era o homem em seu estado de natureza, antes das modificações ocasionadas pelo sistema civilizatório e o estado. Na intenção de descobrir como poderia ter sido sua conduta em seu estado natural, esquecendo-se de como é o homem civilizado sua necessidades e valores, assim podemos chegar a concluir, segundo Rousseau, que as ações do homem primitivo são guiadas por dois sentimentos o de autopreservação e o de comiseração sem os quais não poderia ter se organizado em grupos de convivência para a própria preservação da espécie.
Para o autor é no decorrer do processo civilizatório que a desigualdade se instaura entre as comunidades, não sendo própria da condição natural do homem, mas fruto da má formação do sistema social.
No seu discurso Rousseau distinguiu as formas de desigualdade que ele identifica na sociedade, sendo a primeira física e, portanto natural e a desigualdade moral e politica. Rousseau não a aborda as questões referentes a desigualdade física visto que acredita ser natural, e não interfere na questão levantada por ele sobre a desigualdade entre os homens, é a desigualdade moral o objeto de sua analise que é onde acredita residir o problema da desigualdade entre os homens.
O pensador procura rebater as afirmações de Thomaz Hobbes, filosofo inglês que acreditava que o homem era mau por natureza e necessitava de um estado forte e leis adequadas para manter a ordem social. O argumento de Hobbes não é aceito por Rousseau que acredita na bondade do homem em estado de natureza.
Segundo Rousseau;
“Hobbes pretende que o homem é naturalmente intrépido e não procura senão atacar e combater.” No que argumenta Rousseau “(..) Tenhamos, pois, cuidado em não confundir o homem selvagem com os homens que temos sob os olhos.(...) nada é tão tímido como o homem em estado de natureza, sempre trêmulo e prestes a fugir ao menor ruído que o impressione.(..)” E conclui. “(..)o homem natural é bom”(idem)
A partir da refutação dos argumentos dos filósofos que seguem uma linha de pensamento como a de Hobbes, Rousseau afirma que o homem natural é uma criatura boa, possui um instinto de autopreservação e compaixão para com os de sua espécie, é inocente e se diferencia dos outros animais pela sua capacidade de evolução e de melhorar suas habilidades o que Rousseau da o nome de perfectibilidade, outra característica que diferencia o homem natural dos demais animais e a liberdade. Para o pensador o homem natural não tem ligação com o homem social, impossibilitando sua comparação em valores e princípios. A desigualdade entre os homens vai ser ocasionada no processo de mudança do homem natural para o homem social.
Na sua condição solitária e totalmente integrado a natureza, a qual lhe provem todas as suas necessidades o homem não sente necessidade de nada que não esteja fora do seu alcance. È com do desenvolvimento da linguagem e da comunicação, da associação para melhorar sua capacidade de adquirir alimentos e abrigar-se, outro sim, na constituição da família de forma similar a que vemos no homem social que possivelmente começam as divergências.
Rousseau cria uma história hipotética sobre a formação da propriedade privada onde diz que em um determinado momento um homem cerca um pedaço de terra e diz aos demais isso é meu, e convence outros a aceitarem sua imposição e ainda a defenderem sua terra, é segundo o filosofo que começa toda a desigualdade entre os homens. A ambição, a disputa por territórios, o lucro e a exploração são consequências da civilização e da convivência do homem em sociedade, não é imposição da natureza m s consequência de uma moral mal formada e perversa, onde apenas o eu interessa sem compadecer-se do semelhante como fazia anteriormente o homem natural e é assim que o homem se distancia de sua condição primeira.
Segundo Rousseau,
“O homem selvagem, quando acabou de comer, está em paz com toda a natureza, e é amigo de todos os seus semelhantes. (...) Mas, no homem da sociedade, é tudo bem diferente; trata-se, primeiramente, de prover ao necessário, depois, ao supérfluo. Em seguida, vêm as delícias, depois as imensas riquezas, e depois súditos e escravos. (...) De sorte que, após longas prosperidades,(...) até que seja o único senhor do universo.”(ibidem)
Diferentemente de Hobbes e Locke, o filosofo iluminista coloca como causa principal da condição imprópria do homem social o estado, o sistema civilizatório distancia o homem de sua condição de bom e lhe embute características ruins.
O filosofo nos convida a refletir sobre a moralidade do homem social em detrimento de suas características naturais.
“Comparai, sem preconceitos, o estado do homem civilizado com o do homem selvagem, e investigai, se o puderdes, como além da sua maldade, suas necessidades e suas misérias, o primeiro abriu novas portas à miséria e à morte.” (ibidem)
Se na sua condição primitiva o homem apenas tinha compromisso em alimentar-se e abrigar-se, sua capacidade de perfectibilidade lhe confere novos conhecimentos para agir contra as dificuldades que lhe vão surgindo, até compreender que em grupo lhe é mais fácil adquirir alimentos e abrigar-se, bem como agir contra as intempéries da natureza.
Rousseau acredita que até determinada época a sociedade humana era boa, podia sanar todas as suas necessidades sem grandes disputas ou sentimentos impróprios para a convivência social, o homem mantinha as características da sua condição natural, porém sua perfectibilidade não permitiu e foi evoluindo até as civilizações mais avançadas tecnologicamente e politicamente corrompidas. As pequenas comunidades eram felizes e mantinham a preocupação com o seu bem estar, o que não ocorre em um sistema social de maiores proporções. A ausência de lideres, juízes ou qualquer tipo de lei que regulamenta-se as disputas oriunda do ajuntamento dos homens, bem como o surgimento da agricultura e outras modificações na sociedade primitiva, traz um estado de disputa entre os homens que não havia anteriormente, dando espaço para necessidade de leis para proteger as recém formadas propriedades privadas e a configuração da diferenciação entre os homens, com a divisão do trabalho alguns se tornam ricos e outros pobres e as leis são para proteger as propriedades dos ricos e as prerrogativas dos mais abastados
Rousseau passa a indagar que tipos de governos podem ter surgido. De antemão descarta a possibilidade de um governo despótico ter sido o iniciador do processo, pois o sentimento de liberdade do homem não o permitiria. Jean-Jacques diz que os governantes devem ter surgido de forma eletiva, isto é, se em uma comunidade uma única pessoa era considerada digna e capacitada para governá-la surgiria um estado monárquico; se várias pessoas gozavam ao mesmo tempo de condições para tal surgiria um estado aristocrático, porém se todos as pessoas possuíam qualidades homogêneas e resolvessem administrar conjuntamente surgiria uma democracia. O desvirtuamento dessas formas de governo pela ambição de alguns é que deram origem a estados autoritários e despóticos.
Concluindo que a civilização cria as disputas pelo poder e a desigualdade entre os homens, em defesa da riqueza de poucos, da superficialidade moral, e é na propriedade privada que reside todo o mal da desigualdade entre os homens.
Conclusão
A análise de Rousseau é feita de forma a demonstra suas proposições morais e sociológicas em relação às afirmações defendidas por filósofos como Hobbes. O estado para Rousseau não tem características benéficas para o homem, nem tampouco as leis que defende a propriedade privada e o estado como gestor dos bens sociais encontram apoio moral na teoria defendida pelo filosofo. Se não tem harmonia social liberdade e direitos iguais, não é uma sociedade moralmente aceitável, o que questiona Rousseau é como pode o homem ter se desviado de sua condição primeira, após ter demonstrado os descaminhos do homem até chegar a condição de homem social Rousseau vai propor um novo caminho a seguir primeiro pela educação e em seguida por um contrato social, se não para sanar as dificuldades do homem social pelo menos auxiliar em uma configuração de um estado mais justo.
As ideias desse, Rousseau, pensador trazem novidades na compreensão das organizações sociais de sua época, contrapondo-se a resignação dos pensadores que ele rebate, propões uma quebra com a tradição e com o erro, avançando para uma sociedade que pense o gênero humano como iguais não como senhores e escravos, mas sim como concidadãos munidos do direito a liberdade e a convivência justa e igualitária.
Bibliografia:
Rousseau, Jean Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Editora Ática. São Paulo.1989.
Rousseau, deixa bem claro. "O homem é bom em sua natureza, ou condição primária".Este pensamento, era contrário a outros filósofos de sua época. Ele cria que o processo civilizatório, com seus avanços tecnológicos, deixou o homem mal, ambicioso, atraído por querer mais, e mais do que necessariamente precisava, tirando o do seu estado natural, que era bom, e o degradando no sentido da moral social e da igualdade. Por isso, o homem da civilização atual,não acompanhou o avanço tecnológico, pelo contrário, se tornou pregresso em termos de convivência humana. (John Heaven)
ResponderExcluirCom certeza John, pregresso acho que é eufemismo, o homem desenvolveu um comportamento anti-social, tornou impossível a convivência entre as pessoas. Agora somente se aglomeram em cidades e se relacionam através de convenções pautadas na falsidade, recompensa e castigo, um horror. Mudar e evoluir é preciso..
ResponderExcluir