quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Nietzsche e a metafisica da existência


 O conhecimento é adquirido através do processo de interpretação do real, feito pelos sentidos do homem, o que Nietzsche definiu como uma troca de informações entre o ser e o real. As coisas em que o ser tem contato inferem na interpretação feita pelo sujeito, bem como, através dos sentidos o ser humano desenvolve suas interpretações dos objetos aos quais é contatado.
As interpretações da realidade são feitas através da razão do homem que valoriza as coisas e qualifica os fenômenos do universo em que o homem participa.

A forma como os significados e interpretações se sucedem na compreensão do real são feitas de diferentes modos, e seus significados compõe formas diversas. Através da interpretação e conceituação dessas interpretações que o mundo passa a ter valores e sentido delimitados por essas interpretações. Não sendo possível a existência de sentido sem a interpretação humana, visto que é, em ultima análise, a criação do homem em sua interpretação do sentido real das coisas.
Os valores e causas são criação do homem, e não apenas a sua intepretação, mas sua finalidade causa conjectura, motivo, razão e os demais juízos concebidos pelo homem. Tudo sem exceção construção é do homem.
O que coloca em o homem como responsável pela criação do seu mundo, excluindo de sua existência o demiurgo criador e responsável pela existência, tornando o homem o único responsável pelos seus atos e sua existência. Em uma criação autônoma e motivada pelo que Nietzsche chama de “vontade de poder”, no que nos esclarece:
“A vida mesma é essencialmente apropriação, ofensa, sujeição do que é estranho e mais fraco, opressão, dureza, imposição de formas próprias, incorporação ((...) vida é precisamente vontade de poder”.) Todo acontecimento do mundo orgânico é um subjugar e assenhorear-se, e todo subjugar e assenhorear-se é uma nova interpretação, um ajuste, no qual o ‘sentido’ e a ‘finalidade’ anteriores são necessariamente obscurecidos ou obliterados (...)Todos os fins, todas as utilidades são apenas indícios de que uma vontade de poder se assenhoreou de algo menos poderoso e lhe imprimiu o sentido de uma função; e toda a história de uma ‘coisa’, um órgão, um uso, pode desse modo ser uma ininterrupta cadeia de signos de sempre novas interpretações e ajustes.”(Nietzsche, apud Carvalho)
 O homem produz seus conceitos metafísicos através da razão que e elabora seus valores entre outros princípios norteadores de sua qualificação propositiva o principio da não contradição, sendo assim para nortear a razão da existência, o intelecto providencia seus motivos metafísicos.
Sem a tutela divina, visto que Nietzsche declara a morte de Deus, o homem se torna então, criador de seus próprios valores, a grande pergunta que faz então o pensador alemão é a seguinte, será o homem capaz de ser seu próprio criador?
A construção de uma nova metafisica com bases na razão e consciência humana se faz um desafio proposto pelo filósofo desafiando a moral tendenciosa e dogmática das religiões, bem como os saberes herméticos de verdades universais, cujas bases têm como principio a crença na cultura e na tradição.
A concepção dos valores não existe independente do homem (nas coisas em si), mas através do homem e somente através da interpretação humana.
O conhecimento metafisico se volta para o entendimento e significação do real, não de forma puramente imaginada, mas com a interpretação e valorização definida pelo homem. A questão da existência passa de ser puramente imaginada, sobre compreensão da essência para o plano real de significação da existência.
A vida é vontade de poder, e ao homem cabe movimentar essa ação de expansão do poder da vida em um processo modificador e dinâmico de afirmação de existência, impondo suas próprias formas, significados e intepretações.
O conhecimento é construído pela ação humana e as verdades são interpretações feitas pelo homem, o que compete dizer que as verdades universais são transitórias e não podendo configurar de fato interpretações apodíticas de compreensões físicas no que se refere à existência em si, arremetemos as conceituações metafisicas.
Com a falta da crença na moral religiosa e a base mitológica para fundamentar os valores construídos durante séculos de afirmação e especulação imaginadas, Nietzsche proclama a morte de Deus, e sintetiza a nova ferramenta para a construção de uma metafisica pautada no real a multiplicidade das verdades, a partir de Schopenhauer  e a vontade como representação o homem passa a ter um papel central na construção dos seus valores. Havendo assim uma ruptura com a metafisica tradicional já questionada por Kant em sua critica da razão pura, a unicidade do ser nos propõe a pluralidade de interpretações e conceituações, o que não se torna um impedimento para a formação de entendimentos, mas somam de forma dialógica as interpretações diversas.
Embora Schopenhauer vise à vida como um sofrimento sujeito a negação da vontade para suportar a fadiga da existência, Nietzsche dá uma nova perspectiva para essa vontade que não deve ser negada e sim provocada, compreendendo que é através dessa provocação que a vontade se manifesta como ação criadora no homem.
“Nietzsche afirma que nós, os homens, somos “doadores” e “ofertadores” de valor ao mundo, e que mesmo o que é chamado de “realidade”, é apenas um construto humano fruto de um “humano acréscimo”. Ao reconhecer o caráter artístico da vida humana, aquele que o reconhece pode se alegrar ou denegar o fato reconhecido. Colocar-se com amor no lugar de criador e de artista, no lugar antes ocupado pela ideia de Deus, é afirmar a vida em suas particularidades, já que a vida é precisamente esse movimento incessante de interpretação, valoração e criação de sentido. Denegar isso, como faz o niilismo moderno de que Schopenhauer é exemplo, é sinal de fraqueza, decadência e cansaço” (Carvalho).

A vontade de poder descrita por Nietzsche pode ser entendida como uma força que impulsiona o homem para interpretar de forma criativa o significado da vida, tornando inversa a condicionante pessimista proposta por Schopenhauer a vida nos proporciona a condição de sermos criadores singulares na arte de viver e de interpretar a existência. Cabe a cada um compreender a vida como esse movimento incessante de interpretação, valoração e criação pluralizando seu sentido. 

A coragem de pensar a existência por intermédio do pensamento filosófico de forma a justificar a existência, sem as muletas dos dogmas e do costume tradicionalistas, dentro de uma perspectiva criadora possibilitam-te de uma nova compreensão da vida e consequentemente compondo novos saberes a suprir as necessidades que se faz necessário para viver. Nietzsche pensa a vida como arte, seu pensamento propõe uma filosofia estética da existência, modificando o ambiente de reflexão sobre a existência do plano puramente imaginado para o real. E é nessa capacidade criadora, artística, do homem que o filosofo aponta o novo caminha para a metafisica e a arquitetura da formação dos valores.

Referências bibliográficas
Apostila de filosofia Metafisica II. Centro Universitário Claretianos. 2011.
Bilate de Carvalho, Danilo. Da Justificação Estética da Existência: Nietzsche e a Arte da Interpretação. UFRJ. Disponível em: www.gamaon.com.br/pdf/vol6/danilo-artigo.pdf. Acessado em: 10/09/2011