quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A singularidade no desenvolvimento do pensar individual, na pluralidade do entendimento coletivo.


As novas relações e conexões sociais, restabelecidas pela revolução tecnológica, demonstram como a inteligência social pode influir de forma positiva na compreensão e na elaboração dos valores da sociedade globalizada, facilitando o entendimento das novas estruturas e relações sociais.

Palavras chaves: Tecnologia, Informação, Comunicação e sociedade.

 Neste momento estamos interessados em fazer uma reflexão sobre o mundo virtual, inteligência coletiva, tecnologia e informação suas influencias nos meios de comunicação, na cultura e na sociedade, acima de tudo as influencia positivas e negativas nas relações humanas.
Enfatizar a importância do conhecimento associado à tecnologia voltada para a responsabilidade social.
A escalada tecnológica se apresenta com grande bipolaridade, todas as classes sociais se beneficiando ou não com a globalização, reforma ou revolução, tirania ou democracia.
A globalização que teve inicio no começo do capitalismo (quando se deu inicio as navegações e a expansão do comércio), vem passando por um processo de rebuscar o passado, globalizam-se perspectivas sociais, pessoais, políticos econômicos e culturais.
Recriando o presente apresentando desenvolvimentos nas áreas tecnológicas trazendo uma forte revolução nas áreas da comunicação e nos fluxos de informação, o mundo social rompe cada vez, mas com o mundo individual alterando o comportamento e o pensamento das massas.
Imaginar no futuro a tecnologia interagindo entre as pessoas e todos os ramos da sociedade em busca do saber e do conhecimento, o aprendizado trabalhando em prol do aprendiz possibilitando aos mesmos, novos caminhos a reconstrução de sua identidade uma nova postura diante de si mesmo, da sociedade e do mundo.
Ao compartilhar o entendimento de uma mesma informação o coletivo precisa construir o senso comum através da conferência, da união e da associação das proposições individuais, através de uma rede que os conecta que os liga a outras interpretações, de uma mesma mensagem que esteja e possa ser reinterpretada e compartilhada.
Trabalhar, estudar, viver, conversar fraternalmente com outros seres, cruzar um pouco por sua história.
 O conhecimento em suas múltiplas formas de se processar encontra-se hoje em um momento de construir uma bagagem de referências e associações comuns, uma rede hipertextual unificada, um contexto compartilhado, capaz de diminuir os riscos de incompreensão.
“Um texto já é sempre um hipertexto, uma rede de associações.” (Pierre Levy).
O uso dos computadores na década de 80 se intensificou e deixou de ser potentes calculadoras, diversificando seu uso.
As redes de informação no mundo surgem como uma nova forma de relações entre as pessoas, não mais restrita ao exercito ou as universidades, mas sem limites de irrestrito tanto para empresas como para pessoas comuns. Forma-se a grande rede de acesso “livre” sem fronteiras e restrições políticas com uma base de cooperação anarquista e que é chamado por Levy de ciberespaço.  
O grande dilema é que a sociedade global tem que ser diferente, a constituição de seus princípios que surgem com todos os problemas e dificuldades como a desigualdade, os preconceitos e as diferenças entre as classes, frutos da sociedade industrial as mesmas tensões, diferenças e injustiças... , a solidão.
A esperada conscientização política que poderia surgir com a vulgarização da informação e propagação das novas tecnologias, a terceira onda, como relatou Pierre Levy, a revolução tecnológica não abalou nem amenizou as mazelas da sociedade industrial.
 A sociedade globalizada ou globalizante apresenta as mesmas dificuldades em compor uma verdadeira revolução tecnológica e subverter o estado de ignorância em diversos aspectos da maioria esmagadora dos agentes sociais que proporcionam uma política de aristrocacia que se reveza no poder e procura utilizar as inovações tecnológicas apenas para manter o estado de coisas e o poder.
No que se refere ao alarde da globalização apenas houve um ajuntamento de interesses entre o estado liberal e o que poderia ser uma mudança de um estado de noções rivais em uma aldeia global e com a reconstituição do quadro das relações políticas e sociais amenizando as desigualdades geradas pelas políticas de colonização e exploração dos paises menos desenvolvidos..., é hoje apenas a união de empresas que passam a se localizar em diversos paises simultaneamente como em uma segunda colonização e uma reorganização das políticas econômicas e dos acordos internacionais, e o surgimento de grandes blocos econômicos como a União Européia, o Mercosul, Nafta e outros.
Reformulando as relações de trocas, mas com cuidado de manter as classes sociais em seus respectivos lugares.
A cidadania continua a ser expressa através das notas e moedas corrente.
A liberdade cada vez mais vinculada à propriedade e a quanto se possui.
A democracia e a declaração de direitos humanos é como letra morta, os direitos de liberdade, de dignidade, de fraternidade compreendem apenas uma carta de intenções, a ciência a cultura não é prioridade para a grande maioria dos indivíduos e sim a fome.
 A ética e a moralidade não são palavras de ordem, mas reivindicações daqueles que têm como único compromisso manter-se vivo no aguardo de uma possível próxima refeição.
Onde estão às tecnologias salvadoras, as soluções da ciência moderna?
A violência da sociedade capitalista e industrial que antes comprometia apenas as classes sociais desprovida de consciência política e poder econômico agora atinge a todos se á algo nesta sociedade que não distingue por cor, por condição social e econômica nem por sexo é a violência imperando em todos os ramos da sociedade.
E a sociedade globalizada e globalizante têm como herança esse legado.
“... O individualismo aparece como se fosse uma sofisticada elaboração antológica e epistemológica, na qual se projeta muito da subjetividade do individuo que se perdeu de suas coordenadas conhecidas, sedimentadas, institucionadas e sacralizadas. E como se o singular fugisse para dentro de si, precisamente quando os universais se alteram,recriam em outros níveis...”.
(Octavio Ianni).

As grandes mudanças tecnológicas nos proporcionam uma oportunidade para um repensar as verdades socialmente instituídas, para um esforço de reflexão no sentido de promover a melhora das relações humanas e suas convenções, para aprimorar ou até mesmo decompor certos valores que proporcionam a manutenção do convívio social como nós o conhecemos na tentativa reparar alguns desvios no caminho da formação de uma verdadeira aldeia global.
 De certa forma tem que ser revisto os princípios já apresentado por Nietsche em Além do bem e do mal, numa tentativa de construir valores que não sejam constitucionalizados, mas convencionados e voláteis adequando assim uma nova fase na história dos avanços tecnológicos, os avanços para a sociedade e para o social.
De repente o mundo se torna grande e pequeno, fraco e forte dos incluídos aos excluídos a tecnologia vem se apresentando como divisor de água entre classes sociais, favorecendo, mas uns do que os outros. Mas uma vez o que se apresentaria ou era apresentado como uma maquina para acabar com a alienação social e trazer grandes benefícios a esta sociedade falhou a tecnologia trouxe a internet que trouxe entre outras bestialidades o orkut estava instaurada então a ignorância e a propagação da intolerância e da violência.
 Aos privilegiados a informação, a tecnologia o conhecimento os melhores equipamentos, boa vida e a paz tão desejada por todos, mas só adquirida por aqueles que têm como comprá-la.
Aos infortunados as dificuldades do familiar ao social, lutasse para comer, para estudar, trabalhar e viver..., a grande batalha é para romper com o ciclo da miséria humana, buscar pelo conhecimento e o saber são as maiores armas com estas se ganham utopias, força e nada, mas se perde ou se é roubado.
A democratização nos meios virtuais aproxima dois mundos distintos o pobre do rico, o forte do fraco, as revoluções tecnológicas, as novas ciências e tecnologias vêm produzir um novo conhecimento com novos saberes.
A sociedade global não acaba com as diferenças e nem com as desigualdades sociais não se apresenta boa nem má é apenas, mas uma etapa pela qual toda a civilização tem que passar e mais uma ferramenta pela qual podemos mudar as relações sociais.
Por fim as mudanças nas mentalidades provocadas pela globalização e pela revolução tecnológica nos permitem tudo ou quase tudo desde que não ousemos violar a sagrada família, a propriedade privada, poder centralizado do estado e nem alimentar com conhecimento e saber os famintos e desprovidos de tudo.

Paulo Rogério Sousa Santos


Bibliografia:


CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: Reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade.. São Paulo: Jorge Zahar, 2003.
IANNI, Octavio. A sociedade global, Editora Civilização Brasileira, 8º edição. Rio de Janeiro. 1999.

LEVY, Pierre. A inteligência coletiva, trad. De Luiz Paulo Rouanet. Editora Loyola. 4ºedição. São Paulo. 2003.

sábado, 4 de agosto de 2012

Pierre Joseph Proudhon, O que é a Propriedade?


Esse trabalho tem a proposta de fazer uma resenha da obra de Pierre Joseph Proudhon, O que é a Propriedade? , e como esse pensador deu a esse tema um tratamento inovador, na origem do seu entendimento e na sua inferência nas relações sociais. Os valores são questionados na medida em que se tornam verdadeiros entraves para o desenvolvimento da sociedade, no que diz respeito a aos indivíduos sociais bem como  no comportamento e nos costumes de forma coletiva.
O filósofo Pierre Joseph Proudhon foi sem duvida um dos mais importantes teóricos anarquistas, suas considerações serviram de base para o desenvolvimento da maioria das teorias anarquistas e influenciou de forma determinante filósofos como Bakunin, Kropotkin, Malatesta entre outros.
Das obras de Proudhon se destaca a tese sobre o que é propriedade? Questionamento que dá nome a seu livro mais celebre.
A orientação politica de Proudhon é o anarquismo, sendo esse o primeiro teórico a se declarar anarquista de forma clara e explicita, na tentativa de diferenciar o socialismo autoritário e a social democracia burguesa do socialismo libertário (anarquismo).
“Em suma, não sistematizo: peço o fim dos privilégios, a abolição da escravatura, a igualdade de direitos, o reino da Lei; Justiça, nada mais que Justiça; tal é o, resumo do meu discurso; deixo a outros a tarefa de “disciplinar o mundo”.” (Proudhon, O que é a propriedade?).
Proudhon figura como um grande ativista anarquista além de teórico muito perspicaz e comprometido com a causa da liberdade. Tendo nascido em Besançon na França em 15 de Janeiro de 1809 e vindo a falecer no dia 19 do mesmo mês, porém no ano de 1865 aos 56 anos na cidade de Passy.
A vida politica desse pensador confunde-se com suas teorias, o que uma característica que é própria dos teóricos anarquistas, não apenas pela ascensão da ciência positivista daquele momento histórico a qual os anarquistas se serviam para compor algumas analogias entre a ciência exata e a politica.

3 – Justificativa:
O que é a propriedade?
Assim com esse questionamento Proudhon inicia sua tese, a pergunta feita pelo filosofo é pouco intrigante em sua formação, porém a resposta que ele nos apresenta é para muitas pessoas inusitadas. A propriedade é um roubo diz Proudhon, sim um roubo e a ainda mais espantosa é a comparação de que o proprietário é um criminoso visto a analogia feita pelo pensador, onde a escravidão é comparada a um assassinato e a propriedade a um roubo, ambos considerados (assassinato, roubo) crimes segundo o estado de direito.
A provocação do pensador é interessante na medida em que esclarece de forma definitiva sua discordância com a lógica social e econômica da sociedade moderna e capitalista.
Para informar de forma didática ao leitor suas considerações Proudhon faz uma serie de analogias entre as ciências e suas descobertas em relação a ciências politicas e a dificuldade em aceitar questionamentos e novas propostas vista o imperativo da manutenção do exercício do poder.
Como a politica moderna tem como lastro as ideais de Aristóteles e suas considerações, em evidencia nesse caso em particular suas afirmações sobre as diferenças entre as classes sociais, demonstra então como houve erros por parte de diversos filósofos em diversas áreas da ciência, a saber; "Como é que não veem, dizia Santo Agostinho (..) que, se houvesse homens sob os nossos pés, estariam de cabeça para baixo e cairiam no céu? O bispo de Hippone, que julgava a terra plana, porque lhe parecia vê-la assim(..)” E assim segue demonstrando como os alegados princípios lógicos e as categorias definidas pelos pensadores não se sustentaram diante das novas descobertas tanto na astronomia como nos diversos seguimentos da ciência.
Proudhon nos fala de como o julgamento é feito através das aparências das coisas e de simples induções embora forjadas em uma lógica que se atribui realidade aos conceitos, nos levando ao erro e ao engano e passamos a acreditar em um numero enorme de absurdos e lorotas. E se passarmos das ciências físicas para as ciências morais existem diversas verdades construídas da mesma forma, através de aparências, influências e falsos axiomas. Porém seja qual for o conceito ou a crença sobre a terra e sua forma ou constituição física não ira alterar o rumo natural do planeta e as leis naturais, no entanto as leis morais dependem da ação do homem e dos conceitos formulados pelo homem no que nos diz Proudhon; “(..) é em nós e por nós que se cumprem as leis da nossa natureza moral: ora estas leis não podem executar-se sem a nossa participação pensante, se não as conhecermos. Portanto, se a nossa ciência das leis morais é falsa, é evidente que, desejando o bem, provocaremos o mal; se ela é incompleta, bastará durante algum tempo ao nosso progresso social, mas acabará por nos fazer tomar um caminho falso e por precipitar-nos então num abismo de calamidades.”
É nessas questões que devemos atentar para obter mais conhecimento visto sua inferência na vida econômica e politica da sociedade, e que nos afeta diretamente. Entre as crenças oriundas dessas leis morais a que mais tempo acompanha as civilizações, segundo Proudhon, é a crença em Deus instigada pelos sacerdotes e precursora de um grande número de injustiças e desigualdade na história das civilizações. Como refutar essas crenças que durante tanto tempo persiste no imaginário humano, as classes sacerdotais sempre aliadas do poder e dos mandatários fustigando o povo a não acreditar em novidades e se manterem fiéis as tradições e aos costumes.
Os romanos e seus costumes viveram e morreram por suas leis e tradições afogados em sua luxuria e adorando seus imperadores loucos sem se darem conta de sua própria derrocada. O cristianismo pregando uma nova lei e uma religião mais justa não ultrapassou o momento da sua permitividade eclesiástica e logo foram engolidos pelo sistema, tornando parte da mesma arquitetura contraria a solidariedade e a justiça.
O homem segundo a orientação dos teólogos cometeu um pecado imperdoável (o pecado original) e nada pode ser feito para revoga isso sua condição de miserável é inevitável, tal é a crença que se propagou no ocidente através da nova religião. Todos os mártires desde Jesus e seus seguidores que diziam trazer uma boa nova, nos traz por meio dos sacerdotes uma péssima noticia, viver em penúria,  mais penitencia, jejum privação, escravidão por uma promessa de recompensa pós-morte,. “A verdade cristã não ultrapassou a idade dos apóstolos; o Evangelho, comentado e simbolizado por Gregos e Romanos, repleto de fábulas pagãs, tornou-se um sinal de contradição; e até hoje o reinado da Igreja Infalível apenas engendrou um grande obscurecimento.”(Proudhon).
A sociedade que se estabelece não é uma sociedade igualitária, mas sim uma sociedade com base no direito diversificado entre os entes sociais. O direito do nobre o direito do rei o direito do sacerdote e o direito do plebeu.  O Rei o sacerdote e toda a classe de possuidores tinham diversos privilégios baseados em direitos de nascença e de posse e tantos quantos sua imaginação real pudesse criar, para a sustentação de tantas prerrogativas a privação e a miséria se tornaram o direito do povo. Somente em 1793 o povo se livra desse julgo e arranca a cabeça do monarca Luiz XVI, porém a falta de conhecimento e o costume fazem com que a revolta momentânea não deixe que a revolução se consolide e se opera apenas mudanças já que a derrocada da monarquia apenas do lugar a democracia e uma e o estado continua com suas instituições de poder embora de forma mais distribuído, porém não menos opressor e injusto.
O que nos aponta Proudhon é que o povo ao combater a estrutura politica não compreende a principal causa da manutenção da desigualdade social, a propriedade privada, o acumulo de capital que provoca o desequilíbrio e as diferenças sociais.
Proudhon faz uma distinção entre propriedade e posse, a posse é um direito comum a todos, a propriedade é que é uma irregularidade,  se toda a sociedade e compreendida entre um acordo entre iguais o proprietário que arrenda sua propriedade e cobra do arrendatário uma porcentagem da sua produção demonstra ai o desequilíbrio e a irregularidade se torna clara. Como pode quem não trabalha se beneficiar do lucro da produção de outro, não obstante o estado e a igreja apoiam e reivindicam ter direito a parte desse lucro, recaindo sobre o trabalhador pesado fardo sobre condição de impostos, dízimos e outras modalidades e confisco. “Outrora a nobreza e o clero não contribuíam para as despesas do Estado senão a título de ajuda voluntária e doações; os seus bens eram inacessíveis mesmo para pagamento de dívidas: enquanto o plebeu, sobrecarregado de tributos e impostos era incomodado sem descanso, tanto pelos cobradores do rei como pelos dos nobres e do clero”(idem).
Com a revolta o povo sonhou com a propriedade sendo utilizada por todos assegurando o direito a terra, não compreendendo que mantinha o mesmo principio do regime que acabava de destituir, a propriedade foi mantida e colocada como coisa principal a se defender, tornando a propriedade intocável.
A organização social tem que ser livre para que a igualdade seja assegurada os meios de produção e os demais benefícios que um ajuntamento de pessoas possa proporcionar devem ser divididos da forma mais justa possível e a diferença entre as pessoas não deve existir, apoiando sua genialidade na liberdade e na igualdade os homens devem redefinir seus costumes e sua conduta moral, sem as discrepâncias proporcionadas pela propriedade privada e os privilégios econômicos que ela proporciona.
Não obstante, o proprietário reivindica o lucro o ganho sobre seus bens sem que ele próprio tenha condições de produzir sozinho o mesmo ganho que julga merecer. O direito que os ilustres proprietários querem defender não tem base na razão e na lógica quer seja econômica ou moral, a justa porção que recai sobre o proprietário não pode ultrapassar o que ele é capaz de produzir sozinho. Ora o que se prática é a oneração do trabalho alheio para suprir a ganancia e o roubo do lucro do trabalho alheio. Não há limites para as perspectivas de ganho dos patrões  e arrendatários, querem ganhar dez, cem, mil ou um milhão de veze mais do que sua capacidade individual de produção. O proprietário sozinho não seria capaz de faturar nem mesmo metade do que reivindica para si, o lavrador deve arrendar a terra e pensar em como pagar o dono das terras, os impostos, o custo da produção e o dizimo da igreja.
No que diz Proudhon, “Portanto. tudo o que transaciona das mãos do ocupante para as do proprietário a titulo de lucro e como preço da licença para ocupar, é irrevogavelmente adquirido pelo segundo, perdido pelo primeiro, nada podendo voltar a este senão como doação, esmola, salário de serviços ou pagamento de mercadorias por ele entregues.”
O proprietário não apenas se apropria do produto do trabalho de quem realmente produz como exige valor e tempo específicos a fim de sanar a sua usura.
O conceito de propriedade como fonte permanente de lucro faz com que o proprietário que utiliza seu imóvel da prejuízo a si mesmo e acumula o percentual de perdas a cada mês que permanece no imóvel que deixou de alugar para aferir lucro. O pequeno proprietário core o risco de acumular dividas com impostos e obrigações com o fisco, provenientes do suposto lucro que deveria aferir caso não ocupasse sua propriedade podendo até mesmo ser tomada pelo governo por falta de pagamento dos impostos compulsórios.
O arrendatário, porém é obrigado a pagar todas às dividas provenientes do direito de propriedade com o fruto do seu trabalho, devendo pagar o que não é capaz de produzir. Como o trabalhador não consegue sanar todas as dividas as quais foi submetido , fica sujeito a adquirir empréstimos que vão se acumulando e não consegue acabar de pagar nunca. O proprietário se ausenta do trabalho mas não se distancia da propriedade, sempre atento a situação da produção pronto para exigir mais dos trabalhadores a sua disposição, no que diz Proudhon se o trabalhador pode produzir 10 o proprietário lhe exige como sua parte nos lucros 12, deixando o trabalhador sempre em divida e preso a seu contratante.
O costume e as leis não são pautados na justiça, mas na consideração da defesa da propriedade, que consome a sociedade pelos seus princípios sem lógica e suas práticas injustas. No que salienta o pensador a justiça tem como premissa irrevogável a igualdade, não apenas a igualdade de ação concomitantemente a igualdade de condições. A razão e a lógica que Proudhon lança mão definem em suma o fato concreto de que o direito ao lucro é em outras palavras o direito ao roubo, confisco e apropriação indevida do esforço e trabalho alheio.
A propriedade consome o fruto do trabalho por usura e não por necessidade, e esgota o trabalhador impossibilitando seu progresso, o que define a sociedade com base na propriedade como inviável no que toca a justiça e a igualdade. “A propriedade é impossível; a igualdade não existe. A primeira nos é odiosa e queremos destrui-la: a segunda absorve todos os nossos pensamentos e não sabemos concretizá-la.”
Para que se estabeleça igualdade de direitos e deveres a liberdade deve ser o ponto de partida a convergência social, a liberdade deve ser a base da sociedade não a propriedade. A distinção feita por Proudhon entre propriedade e posse demonstra sua compreensão sobre o uso da terra, a terra deve ser de quem nela produz, bem como as fábricas e os meios de produção aos que deles fazem uso, e engrandecem a sociedade com seus resultados. A presença do proprietário é a de um ser estranho e de certa forma uma abstração surreal do processo produtivo.
Conclusão
A essência da organização social é a liberdade, e a única forma de assegurar a justiça e a igualdade social tornando equânime as relações entre os entes sociais e possibilitando uma comercialização justa entre os centros urbanos e os trabalhadores agrícolas. O apoio mutuo consolidando as relações entre as nações federadas de acordo com as condições de cada uma, compartilhando os entendimentos as tecnologias e os bens de produção fomentando o desenvolvimento coletivo. De modo que a justa proporção seja a medida da troca e que não haja acumulo de riquezas desnecessárias a economia, que nenhum ligar tenha mais do que necessita e que não tenha carência em nenhuma região e que ninguém passe por dificuldades em detrimento do luxo de alguns poucos. “A propriedade e a realeza estão em decadência desde o principio do mundo; como o homem procura a justiça na igualdade, a sociedade procura a ordem na anarquia”(ibidem). É essa a proposta de Proudhon como organização social, tendo o homem como medida para a constituição de uma ordem social justa e igualitária, sem mestres ou patrões senhores ou lideres, apenas a sociedade sendo autogestionada e a vontade popular sendo efetivamente aplicada sem intermediação ou imposição de grupos ou pessoa exercendo o poder do estado e de suas instituições.
A posse deve ser individual, nos indica Proudhon, o que torna a propriedade ilegal ação que por si só modifica todas as relações econômicas da sociedade, tornando mais justa a distribuição de terras e moradias, proporcionando a todos de forma igual o direito de ocupar variando de acordo com o numero de ocupantes na intenção de impossibilitar a propriedade, o trabalho passa a ser um dever de todos e o resultado do emprego dessa força de trabalho passa a ser propriedade coletiva. No que conclui, o trabalho acaba com a propriedade e a exploração do homem pelo homem. As transações comerciais devem se feitas na medida da troca do produto pelo produto, impossibilitando uma renda desproporcional nas transações comerciais, toda troca dever ser feita de forma livre e equivalente entre os interessados, observando essas condições a desproporcional diferença entre ricos e pobres deixara de existir e problemas como a escassez de alimentos será coisa do passado. “Os homens estão associados pela lei física e matemática da produção antes de o serem pelo seu pleno acordo: portanto, a igualdade de condições é justa, quer dizer, de direito social; a estima, a amizade, o reconhecimento apenas de direito equitativo ou proporcional.”(ibidem)
O homem sozinho não produz nem mesmo para suprir todas as suas necessidades, mas em grupo ultrapassa as necessidades econômicas.
Por intermédio de livre associação e cooperação mutua com a manutenção da igualdade de direitos e deveres preservando a liberdade individual é, com efeito, a única maneira de se promover uma sociedade justa e igualitária.
Não existe possibilidade de justiça em uma sociedade onde a base econômica é a propriedade e a desigualdade produzida por essa forma de economia que gera pobreza e riqueza de forma diretamente proporcional, o governo de poucos sobre os demais é mantido pela ação violenta do estado e de suas instituições. A organização social deve ser pautada em uma politica de liberdade e igualde  que terá como consequência justiça social, a busca por uma sociedade perfeita tem como base de apoio a fusão entre a ordem e a anarquia.
Paulo Santos