Paulo Rogério Sousa Santos
Santo André /2011
Sumário
Resumo
O conceito de
anarquismo tem, durante a história, vulgarmente sofrido uma distorção brutal de
sua real significação enquanto ideal político filosófico. Não apenas durante a propagação proposital
dos patrões em difamar a ideia e o movimento anarquista na década de XX, bem
como algumas definições estranhas ao próprio conceito que surgiram no decorrer
do tempo, fazendo necessário deixar evidente sobre o que tratamos aqui e como
compreendemos esse ideal o conceito de anarquismo ao qual esse trabalho se
refere é evidenciado nesse primeiro capitulo.
A seguir apresentamos as
ideias dos pensadores pra embasar nossa pesquisa. Começando no primeiro
capitulo com Proudhon, sucedido por Bakunin e Kropotikin.
O anarquismo contemporâneo de Proudhon disserta sobre diversos
desses problemas perpassando pelas questões econômicas, políticas e morais com
um prima libertário que vai influência os seus predecessores de forma
fundamental. Bakunin apesar de estar sempre comprometido com diversas
insurreições e levantes, por ter mostrado ser durante sua vida um
revolucionário de muita ação e inquietude, e em grande medida devido ter sido
perseguido por diversos governos da Europa, nos deixa uma como legado uma obra
que se traduz em partes pelo seus escritos e pelas sua ações, a preocupação de
Bakunin são desde organização coletiva e autogestão a sua preocupação com a
educação e a divulgação dos seus ideais propondo a possibilidade de uma
educação libertária. A seguir
Kropotikin, com toda a sua competência, nos trás uma concepção política mais
densa, com base em seus estudos e em contraposição a tendência positivista, o
pensamento de Kropotikin nos conduz a novas possibilidades onde a adaptação
natural é compreendida através do apoio mutuo e da solidariedade, o mutualismo
de Kropotikin não encera as possibilidades apresentadas pelo viés libertário,
mas sem dúvida colabora consideravelmente para compor o embasamento do
pensamento anarquista.
Abstract
The concept of anarchism has, throughout
history, commonly suffered a brutal distortion of his real significance as an
ideal political philosophy. Not only during the deliberate spread of the bosses
to discredit the idea and the anarchist movement in the late twentieth century,
as well as some strange settings on the very concept that emerged over time,
making it necessary to make clear what we treat here and we understand that the
ideal concept of anarchism which refers to this work is evidenced by this first
chapter.
The
following are the ideas of thinkers to base our research. Beginning in the
first chapter with Proudhon, Bakunin, and succeeded by Kropotikin.
The contemporary anarchism of Proudhon
talks about several of these problems by passing by economic, political and
moral libertarian with a material that will influence their predecessors in
fundamental ways. Bakunin despite being always committed to several uprisings
and insurrections, as it has shown during his lifetime to be a revolutionary
lot of action and concern, and largely due to have been pursued by several
European governments, leaves us a legacy as a work that is translates into
shares through his writings and by their actions, are the concern of Bakunin
from the collective organization and self-management concern with education and
dissemination of their ideas by proposing the possibility of a libertarian
education. Next Kropotikin, with all their skill, brings us a more dense design
policy, based on their studies and in contrast to positivist tendency, the
thought of Kropotikin leads to new possibilities where the natural adaptation
is realized through the mutual support and of solidarity, mutuality of
Kropotikin not wax the possibilities presented by the libertarian bias, but no
doubt contributes considerably to form the basis of anarchist thought.
Justificativa
Este trabalho tem o
objetivo de demonstrar o ideal anarquista sem a alcunha de utopia impossível
que há muito tempo é propagandeado através de livros de história mal elaborados
e vulgarizado por políticos e intelectuais, burgueses, fascistas e Marxistas,
na intenção de desmerecer esse ideal que se impõe a suas ideologias. O conceito
de anarquismo já é trabalho de diversas pesquisas acadêmicas, o que resgata
suas características e princípios, o que é um trabalho de grande resgate
histórico , não apenas para referenciar fatos mas sim resgatar ideias que são
fruto do desenvolvimento humano e do aperfeiçoamento social.
Os diversos autores que
desenvolveram esse ideal se distanciando dos processos e práticas autoritárias
de organização social nos propõe o anarquismo como caminho para esse
aperfeiçoamento social.
O anarquismo propõe
soluções para os problemas de injustiça, autoritarismo e desigualdade social,
balizado na ideia de liberdade e igualdade de direitos a todos. Verificar como
os seus idealizadores buscaram soluções para essas questões.
Proponho demonstrar
esses ideais através da visão dos autores de maior influência na formatação do
ideal anarquista e suas soluções para os problemas de natureza político
filosófica
Objetivo
Fazer uma apresentação
dos ideais anarquistas através da bibliografia dos teóricos libertários de
maior expressão, e através dessa dissertação demonstrar a contemporaneidade
desse ideal e seus acrescimentos para a solução dos problemas humanos e a
formatação de uma sociedade melhor arquitetada.
O anarquismo propõe soluções para os problemas
de injustiça, autoritarismo e desigualdade social, balizado na ideia de
liberdade e igualdade de direitos a todos.
Ao recusar qualquer forma de poder e de dominação se propicia a
possibilidade da configuração de uma forma superior de organização humana, sem
sufrágio universal sem ditaduras ou fascismo. Apresenta-se assim o anarquismo,
sem a necessidade de dirigentes ou lideres, na crença da capacidade de cada um
de seguir seu próprio caminho, onde o direito de cada um seja respeitado e os
deveres entendidos como uma relação solidária e necessária para a manutenção do
bem comum, onde as atribuições de cada um sempre sejam escolhidas de forma
autônoma, sem subordinação a nenhum tipo autoridade constituída.
Introdução
A questão política não
é um problema novo a ser analisada pela filosofia, essa preocupação tem um
histórico semelhante à própria história da civilização humana, no entanto os
conceitos passam a ser vistos do pelo prisma da filosofia a partir das
indagações de pensadores gregos como Sócrates e Aristóteles entre outros, a
proposição política filosófica que expomos aqui se distancia das indagações de
Aristóteles e Sócrates pelo seu caráter racional dado as preocupações que este
ideal aborda, bem como o ambiente revolucionário em que se desenvolvem suas
premissas, tendo sua base conceitual desenvolvida por intermédio da reflexão
comprometida de diversos pensadores que em um momento de inquietação com os
conceitos tradicionais e a inconformidade com as injustiças sociais ousaram
pensar além, e nos apresentam uma forma diferente de compreender a organização política
para a construção de uma sociedade mais justa, uma política filosófica cunhada
de anarquismo. O anarquismo é uma proposta que ousa quebrar os padrões
estabelecidos por ideais convenientes a intelectuais preguiçosos e
tendenciosos, e defende a analise política de forma verdadeira e desinteressada
em prover conceitos para a manutenção de interesses na manutenção do poder as
classes dominantes, visto que sua principal preocupação é a extinção do poder político,
dando lugar ao direito político universalizado. A ação anarquista fomenta a
igualdade na medida em que compreende ser através da liberdade o caminho mais
apropriado para se estabelecer a justiça social e a felicidade humana.
Durante a história da
humanidade houve diferentes maneiras de se compreender o homem, tanto no que se
refere a sua condição subjetiva como nas suas relações sociais. Porém se faz
evidente a condição primeira do homem que é de ser um agente ativo no meio em
que vive o homem não é um personagem passivo na história, ele a constrói e a
desenha de acordo com os seus valores e com o ambiente em que vive. Influenciando e sendo influenciado pelo meio
social em que vive.
Os valores sociais são
em grande medida, a soma dos valores dos indivíduos que compõe a sociedade.
Na Grécia antiga,
apesar das preocupações em relação ao bem estar e dos direitos e deveres do
cidadão, não podemos nos esquecer de que a economia grega era baseada na
utilização de escravos como mão de obra, uma sociedade onde a economia era
escravocrata. Então o homem grego era o centro das questões antropológicas, mas
os escravos não eram considerados homens sim animais. A distinção entre classes
e a desigualdade social são características marcantes na história dos estados
organizados, a defesa e legitimação das oligarquias são preservadas pela força
da espada.
Rousseau fala do grande mentiroso que
cerca um pedaço de terra e fala isso é meu, e acha um bando de pessoas ingênuas
o suficiente para acreditar. E segue “O homem nasce livre, e por toda
a parte encontra-se acorrentado”. Proudhon nos
fala da propriedade privada e o roubo, de forma a demonstrar uma analogia entre
ambos os princípios. E afirma que a propriedade privada é um roubo e ladrão é
quem a possui.
Bakunin nos fala da
formação do poder como agente de corrupção do homem, para o pensador o poder
corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.
A forma como a
sociedade se organizou e está estruturada é o grande problema social, as
sociedades antigas e atuais não formaram sistemas políticos com base nas
questões de ordem sociológicas, mas apenas econômicas, as relações sociais são
fruto da necessidade econômica e da manutenção do individuo na comunidade.
Assim se produziram sistemas políticos deficientes e sem nenhum compromisso com
as relações sociais que não ultrapassa a manutenção da economia. A sociedade
capitalista surgiu através dessa ótica, claro que a diversas causas e
acontecimentos históricos envolvidos, que não compõe a busca pela felicidade do
homem.
Pensar a sociedade como
ela se apresenta hoje é, de certa forma, lançar um olhar ao passado, e
compreendermos o legado que nos foi passado.
Se hoje a sociedade
capitalista, ou o capitalismo de estado que é o chamado “marxismo”, é composta
de indivíduos que não tem seus valores baseados na igualdade, liberdade, solidariedade,
justiça social proporcionando a busca pela felicidade a todos os atores
sociais, é fruto de um sistema com bases unicamente economicistas. Onde o que
importa é produzir e consumir, muitas vezes não importando o que se consome nem
tão pouco o que se produz.
Porém o homem não é o
“homem econômico”, as necessidades econômicas não são um fim em si, são uma
condição constante para todos. O homem é “o homem social” e a estrutura
organizacional das sociedades deve ser pensada a partir dessa condição humana.
Este trabalho demonstra
a inquietação dos pensadores e intelectuais anarquista que desenvolveram
trabalhos importantes no intuito de pensar um ideal social que de fato se
comunicasse com a realidade dos agentes sociais e pode-se proporcionar melhor condição
de vida para as pessoas em uma ação voltada para igualdade e justiça social. Ideal
esse que propõe um diálogo constante com a realidade vivenciada e sendo
ajuizado suas premissas na medida em que venham sempre a servir a sociedade na
justeza de suas necessidades e desejos.
Procurando assim,
através dos trabalhas dos teóricos anarquistas como Bakunin, Proudhon e
Kropotikin, expor as ideias político filosóficas do anarquismo e suas
principais características e proposituras. Convencionando um diálogo entre os
conceitos desses autores no intuito de proporcionar uma compreensão de como o
anarquismo foi idealmente perpetrado pelos teóricos anarquistas, bem como foram compostas as premissas desse ideal.
Proudhon e o ideal anarquista
O filósofo Pierre Joseph
Proudhon foi sem duvida um dos mais importantes teóricos anarquistas, suas
considerações serviram de base para o desenvolvimento da maioria das teorias
anarquistas e influenciou de forma determinante filósofos como Bakunin,
Kropotkin, Malatesta entre outros.
Das obras de Proudhon
se destaca a tese sobre o que é propriedade? Questionamento que dá nome a seu
livro mais celebre.
A orientação política
de Proudhon é o anarquismo, sendo esse o primeiro teórico a se declarar
anarquista de forma clara e explicita, na tentativa de diferenciar o socialismo
autoritário e a social democracia burguesa do socialismo libertário
(anarquismo).
“Em
suma, não sistematizo: peço o fim dos privilégios, a abolição da escravatura, a
igualdade de direitos, o reino da Lei; Justiça, nada mais que Justiça; tal é o,
resumo do meu discurso; deixo a outros a tarefa de “disciplinar o mundo”.”
(Proudhon, O que é a propriedade?).
Proudhon
figura como um grande ativista anarquista além de teórico muito perspicaz e
comprometido com a causa da liberdade. Tendo nascido em Besançon na França em
15 de Janeiro de 1809 e vindo a falecer no dia 19 do mesmo mês, porém no ano de
1865 aos 56 anos na cidade de Passy.
A
vida política desse pensador confunde-se com suas teorias, o que uma
característica que é própria dos teóricos anarquistas, não apenas pela ascensão
da ciência positivista daquele momento histórico a qual os anarquistas se
serviam para compor algumas analogias entre a ciência exata e a política.
Assim
sendo Proudhon preconiza como forma ideal de aprendizado o modo autodidata,
compreendendo que é assim que o individuo tem maior liberdade para desenvolver
suas potencialidades sem ser influenciado de forma tão brutal pelas
instituições a serviço do estado. Sua formação autodidata confere ao pensador
anarquista uma experiência pessoal de grande valor para a construção do seu
ideal político filosófico. Em sua obra “A filosofia da miséria” expõe dura
critica as elites intelectuais que se julgam detentoras do conhecimento se
pondo a desenvolver teorias complexas sobre questões que nada trazem de
beneficio prático a sociedade. Para Proudhon o trabalhador é o verdadeiro
filósofo que detém o conhecimento real das suas atividades e é senhor do seu
tempo das suas ações conhecendo de forma detalhada suas atividades cotidianas e
sua ação produtiva diária, bastando a ele apenas fazer um esforço reflexivo
sobre ele e sua vida, para desenvolver uma tese de grande valor prático sem as
abstrações infindáveis dos pensadores e teóricos. Onde pergunta Proudhon por
que não se pode deixar de calar esses filósofos metafísicos e se atém a falar
de abstrações e preocupações teológicas que para o trabalhador nada adianta,
essas preocupações segundo o pensador é fruto do ócio dos burgueses que não tem
que trabalhar, portanto tem tempo para se preocupar com abstrações sem sentido.
O pensador francês desenvolve ideias de como modificar a situação de miséria do
povo, onde se destaca sua atuação como parlamentar francês abandonando o cargo
por não ser ouvido em suas reivindicações, o banco do povo que geraria fomento
para subsidiar as pessoas pobres sem cobrar juros, e sobre tudo o federalismo
libertário que teria como principal característica a ausência de governo ou
poder centralizado.
O
que é propriedade? A propriedade é um roubo.
É
assim que Proudhon da inicio a sua proposição política e econômica, (O que é a
Propriedade? Pesquisa sobre o Princípio do Direito e do Governo - 1840) o que
causa grande discórdia principalmente entre os liberais defensores da
propriedade privada e da necessidade de uma economia baseada na propriedade
privada que proporciona prerrogativas econômicas e políticas a determinadas
camadas sociais, com base no pensamento aristotélico de que uma sociedade para
ser justa deve tratar os iguais de forma igualitária e os não iguais de forma
diferenciada, estabelecendo assim a justiça comutativa e distributiva; o que é
questionado por Proudhon “quando Galileu, Descartes, Pascal e os seus discípulos
renovaram a filosofia e as ciências, já havia prescrição para a filosofia de
Aristóteles; quando os nossos pais de 89 pediram a liberdade e a igualdade
havia prescrição para a tirania e o privilégio.” (Proudhon, O que é Propriedade?) a diferenciação
entre as camadas sociais é uma falácia que somente serve para enganar o povo e
manter a condição de servo e senhor, em uma nova nomenclatura a de patrão e
empregado, a justiça de fato é que todos os homens são iguais e nascem iguais a
distorção é feita após sua inserção no sistema social.
Para
Proudhon o conceito de propriedade é a base de sustentação do sistema de
exploração instaurado pela cultura burguesa e da economia capitalista. O
direito dentro de uma sociedade capitalista não tem como base de valor o
indivíduo e suas necessidades intrínsecas, mas estabelece diretos pelo capital
adquirido e a quantidade de propriedades que o individuo possui.
A
oposição de Proudhon a propriedade não era apenas no âmbito privado, mas também
em relação a propriedade estatal, (as propriedade do governo) que embora em
alguns formatos de governo se apresentem em tese como bem publico são na
realidade coisa particularmente utilizado e administrado pelos grupos e
oligarquias que se estabelecem no poder. O bem público se torna privado na
medida em que passa a servir os grupos sociais que manejam a economia e a
politica publica. Proudhon faz uma distinção entre propriedade e posse, onde a
primeira afirma ser um roubo e a posse um direito de todos. Não acreditava em
resolução dos problemas políticos sociais por decreto e reivindicava a tomada de
consciência por parte dos agentes socais com o advento da liberdade e do
estabelecimento do direito de forma igual para todos.
Proudhon
acreditava em uma revolução não violenta agregando todas as classes sociais,
sem a interferência do estado e com a democratização do conhecimento a
revolução seguiria seu curso. “Defensor
da igualdade, falarei sem ódio nem cólera, com a independência própria do
filósofo, com a calma e a segurança do homem livre.
Pudesse eu, nesta luta solene levar a todos os corações a luz que me ilumina e
mostrar, pelo êxito do meu discurso, que se a igualdade não pôde vencer pela
espada é porque deve vencer pela palavra!” (idem)
O
capitalismo e o comunismo são recusados como projeto político econômico, sendo
ambos ilegítimos na detenção dos bens produzidos pela sociedade e
principalmente repressores da liberdade, a sua conceituação econômica chamou de
mutualismo e sua configuração politica de federalismo, as propriedade devem ser
utilizadas na medida da necessidade real das pessoas sem acumulo desnecessário
de qualquer natureza, a terra deve ser dada a quem nela trabalha para produzir
para si e o excedente se tronar bem coletivo, não aprova o lucro com aluguéis
ou arrendamentos devendo apenas se ter o que é necessário para cada um de acordo
com sua necessidade e capacidade. A posse deve ser para moradia ou uso da terra
de forma produtiva, além disso, para Proudhon é explorar o semelhante e lesar a
sociedade.
Os
sindicatos da Europa foram influenciados pelas ideias de Proudhon, “O operário civilizado,
que dá o seu trabalho por um bocado de pão, que constrói um palácio para dormir
numa estrebaria, que fabrica os tecidos mais ricos para usar andrajos, que
produz tudo para abdicar de tudo, não é livre. Não sendo seu associado pela
troca de salário e de serviços, o patrão para o qual trabalha é seu inimigo” (idem), na sua compreensão de que os meios de
produção deveriam ser de posse dos próprios trabalhadores através de
associações e cooperativas de trabalho gerenciando e administrando suas fábricas
sendo os verdadeiros donos dos meios de produção e oferendo seus produtos no
mercado sem intermediação traduzindo o processo produtivo através de uma
logística muito eficaz, beneficiando quem produz e quem consome visto que o
lucro não participa desse projeto econômico tornando o produto muito acessível
ao consumidor.
As
associações de trabalhadores se encarregariam de gestar essa economia, tanto
nas indústrias como no campo sempre de forma democrática e sem a presença de
imposição ou poder centralizado. A sociedade deve se organizar através de um
sistema de comunas livres que seguiriam para uma união federalista na medida em
que seus interesses individuais concorressem para a ajuda e o apoio mutuo, sem
nenhuma imposição de qualquer natureza seja politica ou econômica, com total
abolição do estado de qualquer natureza capitalista ou comunista.
As ideias de Proudhon
trouxeram uma nova visão de organização social não mais de subserviência ou
resignação, dando qualificação aos indivíduos sociais como seres capazes de
resolver seus conflitos sem a necessidade de um estado vigilante e opressor, em
contraposição as ideias liberais (Thomas Hobbes, John Locke); A definição do estado de natureza para de Hobbes tem como base sua
concepção de igualdade entre os homens, que é simplesmente segundo Hobbes, a
condição natural do homem em esforçar-se para satisfazer seus desejos
individuais colocando-se assim em condição de inimigo dos outros indivíduos que
por sua vez também concorrem em satisfazer seus desejos particulares. Hobbes
parte do pressuposto que todos os homens são inimigos em potencial, tornando-se
inimigos de fato quando se opõe a realização do desejo do outro. O estado de
natureza é então um estado de selvageria, não em termos primitivos, mas uma
“civilização selvagem”, onde vê ai a causa de todos os conflitos sociais e
guerras. Reflexo do momento histórico em que vivia Hobbes, a disputa pelo poder
é o grane gerador dos conflitos ocasionando uma luta coletiva, onde apenas o
estado pode interferir, impondo obediência a todos em detrimento da sua própria
proteção, de forma a estabelecer uma ordem social.
Para Locke os homens
em seu estão natural são livres e iguais para fazer suas escolhas de forma
independente, porém exercício da liberdade para Locke esbarra na condição de
não prejudicar o outro, o que se caracteriza um “abuso de liberdade”.
Compreende que existe uma lei natural, que é a razão, que promove a liberdade e
igualdade entre os homens devendo ser respeitada, aquele que inflige essa lei
deve ser castigado, pelo simples fato de ter perdido a razão e dado assim aos
outros o direito de castigá-lo.
Locke estabelece
assim um estado pautado no principio do direito e da razão, onde coexistem os
defensores da legalidade e os transgressores. E apenas o estado pode promover
uma ordem eficaz na sociedade visto que ao ajuizar sobre o direito dos outros a
rigidez seria provável, e ao legislar em causa própria não haveria
imparcialidade. A solução para os conflitos para Locke é a criação de um estado
representativo, formado por poderes distintos que são legislativo, executivo
onde nenhum estaria subordinado ao outro tornando as leis mais justas e sua
execução imparcial.
A teoria de estado de
Locke é reflexo do seu momento histórico onde o parlamentarismo ganha força na
Inglaterra, formando uma monarquia parlamentarista.
Proudhon
não tinha nenhum compromisso com as forças políticas e as oligarquias
dominantes tornando suas teorias totalmente independentes dos interesses
políticos e econômicos de sua época, em contraposição aos pensadores liberais
Proudhon afirma que o homem é um ser sociável e capaz de autogerir suas ações e
coordenar atividades em grupo para trabalhos coletivos sem que para tal se faça
necessário uma superestrutura, mas apenas a ordem social e o senso de justiça e
igualdade com o comprometimento de todos que desejarem viver em sociedade e
participar de forma produtiva na vida social.
O
que é a propriedade? Assim com esse questionamento Proudhon inicia sua tese, a
pergunta feita pelo filosofo é pouco intrigante em sua formação, porém a
resposta que ele nos apresenta é para muitas pessoas inusitadas. A propriedade
é um roubo diz Proudhon, sim um roubo e a ainda mais espantosa é a comparação
de que o proprietário é um criminoso visto a analogia feita pelo pensador, onde
a escravidão é comparada a um assassinato e a propriedade a um roubo, ambos
considerados (assassinato, roubo) crimes segundo o estado de direito.
A
provocação do pensador é interessante na medida em que esclarece de forma
definitiva sua discordância com a lógica social e econômica da sociedade
moderna e capitalista.
Para
informar de forma didática ao leitor suas considerações Proudhon faz uma serie
de analogias entre as ciências e suas descobertas em relação a ciências políticas
e a dificuldade em aceitar questionamentos e novas propostas vista o imperativo
da manutenção do exercício do poder.
Como
a politica moderna tem como lastro as ideais de Aristóteles e suas
considerações, em evidencia nesse caso em particular suas afirmações sobre as
diferenças entre as classes sociais, demonstra então como houve erros por parte
de diversos filósofos em diversas áreas da ciência, a saber; "Como é que não
veem, dizia Santo Agostinho (..) que, se houvesse homens sob os nossos pés,
estariam de cabeça para baixo e cairiam no céu? O bispo de Hippone, que julgava
a terra plana, porque lhe parecia vê-la assim(..)” E assim segue
demonstrando como os alegados princípios lógicos e as categorias definidas
pelos pensadores não se sustentaram diante das novas descobertas tanto na
astronomia como nos diversos seguimentos da ciência.
Proudhon nos fala de como o julgamento é feito através das
aparências das coisas e de simples induções embora forjadas em uma lógica que
se atribui realidade aos conceitos, nos levando ao erro e ao engano e passamos
a acreditar em um numero enorme de absurdos e lorotas. E se passarmos das
ciências físicas para as ciências morais existem diversas verdades construídas
da mesma forma, através de aparências, influências e falsos axiomas. Porém seja
qual for o conceito ou a crença sobre a terra e sua forma ou constituição
física não ira alterar o rumo natural do planeta e as leis naturais, no entanto
as leis morais dependem da ação do homem e dos conceitos formulados pelo homem
no que nos diz Proudhon; “(..) é em nós e
por nós que se cumprem as leis da nossa natureza moral: ora estas leis não
podem executar-se sem a nossa participação pensante, se não as conhecermos.
Portanto, se a nossa ciência das leis morais é falsa, é evidente que, desejando
o bem, provocaremos o mal; se ela é incompleta, bastará durante algum tempo ao
nosso progresso social, mas acabará por nos fazer tomar um caminho falso e por
precipitar-nos então num abismo de calamidades.”
É
nessas questões que devemos atentar para obter mais conhecimento visto sua
inferência na vida econômica e politica da sociedade, e que nos afeta
diretamente. Entre as crenças oriundas dessas leis morais a que mais tempo
acompanha as civilizações, segundo Proudhon, é a crença em Deus instigada pelos
sacerdotes e precursora de um grande número de injustiças e desigualdade na
história das civilizações. Como refutar essas crenças que durante tanto tempo
persiste no imaginário humano, as classes sacerdotais sempre aliadas do poder e
dos mandatários fustigando o povo a não acreditar em novidades e se manterem
fiéis as tradições e aos costumes.
Os
romanos e seus costumes viveram e morreram por suas leis e tradições afogados
em sua luxuria e adorando seus imperadores loucos sem se darem conta de sua
própria derrocada. O cristianismo pregando uma nova lei e uma religião mais
justa não ultrapassou o momento da sua permissividade eclesiástica e logo foram
engolidos pelo sistema, tornando parte da mesma arquitetura contraria a
solidariedade e a justiça.
O
homem segundo a orientação dos teólogos cometeu um pecado imperdoável (o pecado
original) e nada pode ser feito para revoga isso sua condição de miserável é
inevitável, tal é a crença que se propagou no ocidente através da nova
religião. Todos os mártires desde Jesus e seus seguidores que diziam trazer uma
boa nova, nos traz por meio dos sacerdotes uma péssima noticia, viver em
penúria, mais penitencia, jejum privação, escravidão por uma promessa de
recompensa pós-morte,. “A verdade cristã não ultrapassou a idade dos apóstolos; o
Evangelho, comentado e simbolizado por Gregos e Romanos, repleto de fábulas
pagãs, tornou-se um sinal de contradição; e até hoje o reinado da Igreja
Infalível apenas engendrou um grande obscurecimento.”(Proudhon).
A sociedade que se estabelece não é uma sociedade igualitária, mas
sim uma sociedade com base no direito diversificado entre os entes sociais. O
direito do nobre o direito do rei o direito do sacerdote e o direito do plebeu.
O Rei o sacerdote e toda a classe de
possuidores tinham diversos privilégios baseados em direitos de nascença e de
posse e tantos quantos sua imaginação real pudesse criar, para a sustentação de
tantas prerrogativas a privação e a miséria se tornaram o direito do povo.
Somente em 1793 o povo se livra desse julgo e arranca a cabeça do monarca Luiz
XVI, porém a falta de conhecimento e o costume fazem com que a revolta
momentânea não deixe que a revolução se consolide e se opera apenas mudanças já
que a derrocada da monarquia apenas do lugar a democracia e uma e o estado continua
com suas instituições de poder embora de forma mais distribuído, porém não
menos opressor e injusto.
O
que nos aponta Proudhon é que o povo ao combater a estrutura politica não
compreende a principal causa da manutenção da desigualdade social, a propriedade
privada, o acumulo de capital que provoca o desequilíbrio e as diferenças
sociais.
Proudhon
faz uma distinção entre propriedade e posse, a posse é um direito comum a
todos, a propriedade é que é uma irregularidade, se toda a sociedade e compreendida
entre um acordo entre iguais o proprietário que arrenda sua propriedade e cobra
do arrendatário uma porcentagem da sua produção demonstra ai o desequilíbrio e
a irregularidade se torna clara. Como pode quem não trabalha se beneficiar do
lucro da produção de outro, não obstante o estado e a igreja apoiam e
reivindicam ter direito a parte desse lucro, recaindo sobre o trabalhador
pesado fardo sobre condição de impostos, dízimos e outras modalidades e
confisco. “Outrora
a nobreza e o clero não contribuíam para as despesas do Estado senão a título
de ajuda voluntária e doações; os seus bens eram inacessíveis mesmo para
pagamento de dívidas: enquanto o plebeu, sobrecarregado de tributos e impostos
era incomodado sem descanso, tanto pelos cobradores do rei como pelos dos
nobres e do clero”(idem).
Com a revolta o povo sonhou com a propriedade sendo utilizada por
todos assegurando o direito a terra, não compreendendo que mantinha o mesmo
principio do regime que acabava de destituir, a propriedade foi mantida e colocada
como coisa principal a se defender, tornando a propriedade intocável.
A organização social tem que ser livre para que a igualdade seja
assegurada os meios de produção e os demais benefícios que um ajuntamento de
pessoas possa proporcionar devem ser divididos da forma mais justa possível e a
diferença entre as pessoas não deve existir, apoiando sua genialidade na
liberdade e na igualdade os homens devem redefinir seus costumes e sua conduta
moral, sem as discrepâncias proporcionadas pela propriedade privada e os
privilégios econômicos que ela proporciona.
Não obstante, o proprietário reivindica o lucro o ganho sobre seus
bens sem que ele próprio tenha condições de produzir sozinho o mesmo ganho que
julga merecer. O direito que os ilustres proprietários querem defender não tem
base na razão e na lógica quer seja econômica ou moral, a justa porção que
recai sobre o proprietário não pode ultrapassar o que ele é capaz de produzir
sozinho.
Ora o que se prática é a
oneração do trabalho alheio para suprir a ganância e o roubo do lucro do
trabalho alheio. Não há limites para as perspectivas de ganho dos patrões e
arrendatários, quer ganhar dez, cem, mil ou um milhão de veze mais do que sua
capacidade individual de produção. O proprietário sozinho não seria capaz de
faturar nem mesmo metade do que reivindica para si, o lavrador deve arrendar a
terra e pensar em como pagar o dono das terras, os impostos, o custo da
produção e o dizimo da igreja.
No que diz Proudhon, “Portanto. tudo o que transaciona
das mãos do ocupante para as do proprietário a titulo de lucro e como preço da
licença para ocupar, é irrevogavelmente adquirido pelo segundo, perdido pelo
primeiro, nada podendo voltar a este senão como doação, esmola, salário de
serviços ou pagamento de mercadorias por ele entregues.”
O
proprietário não apenas se apropria do produto do trabalho de quem realmente
produz como exige valor e tempo específicos a fim de sanar a sua usura.
O
conceito de propriedade como fonte permanente de lucro faz com que o
proprietário que utiliza seu imóvel da prejuízo a si mesmo e acumula o
percentual de perdas a cada mês que permanece no imóvel que deixou de alugar
para aferir lucro. O pequeno proprietário core o risco de acumular dividas com
impostos e obrigações com o fisco, provenientes do suposto lucro que deveria
aferir caso não ocupasse sua propriedade podendo até mesmo ser tomada pelo
governo por falta de pagamento dos impostos compulsórios.
O
arrendatário, porém é obrigado a pagar todas às dividas provenientes do direito
de propriedade com o fruto do seu trabalho, devendo pagar o que não é capaz de
produzir. Como o trabalhador não consegue sanar todas as dividas as quais foi
submetido, fica sujeito a adquirir empréstimos que vão se acumulando e não
consegue acabar de pagar nunca. O proprietário se ausenta do trabalho, mas não
se distancia da propriedade, sempre atento a situação da produção pronto para
exigir mais dos trabalhadores a sua disposição, no que diz Proudhon se o
trabalhador pode produzir 10 o proprietário lhe exige como sua parte nos lucros
12, deixando o trabalhador sempre em divida e preso a seu contratante.
O
costume e as leis não são pautados na justiça, mas na consideração da defesa da
propriedade, que consome a sociedade pelos seus princípios sem lógica e suas práticas
injustas. No que salienta o pensador a justiça tem como premissa irrevogável a
igualdade, não apenas a igualdade de ação concomitantemente a igualdade de
condições. A razão e a lógica que Proudhon lança mão definem em suma o fato
concreto de que o direito ao lucro é em outras palavras o direito ao roubo,
confisco e apropriação indevida do esforço e trabalho alheio.
A
propriedade consome o fruto do trabalho por usura e não por necessidade, e
esgota o trabalhador impossibilitando seu progresso, o que define a sociedade
com base na propriedade como inviável no que toca a justiça e a igualdade. “A propriedade é
impossível; a igualdade não existe. A primeira nos é odiosa e queremos destruí-la:
a segunda absorve todos os nossos pensamentos e não sabemos concretizá-la.”
Para que se estabeleça igualdade de direitos e deveres a liberdade
deve ser o ponto de partida a convergência social, a liberdade deve ser a base
da sociedade não a propriedade. A distinção feita por Proudhon entre
propriedade e posse demonstra sua compreensão sobre o uso da terra, a terra
deve ser de quem nela produz, bem como as fábricas e os meios de produção aos
que deles fazem uso, e engrandecem a sociedade com seus resultados. A presença
do proprietário é a de um ser estranho e de certa forma uma abstração surreal
do processo produtivo.
A essência da organização social é a liberdade, e a única forma de
assegurar a justiça e a igualdade social tornando equânime as relações entre os
entes sociais e possibilitando uma comercialização justa entre os centros
urbanos e os trabalhadores agrícolas. O apoio mutuo consolidando as relações
entre as nações federadas de acordo com as condições de cada uma,
compartilhando os entendimentos as tecnologias e os bens de produção fomentando
o desenvolvimento coletivo. De modo que a justa proporção seja a medida da
troca e que não haja acumulo de riquezas desnecessárias a economia, que nenhum
ligar tenha mais do que necessita e que não tenha carência em nenhuma região e
que ninguém passe por dificuldades em detrimento do luxo de alguns poucos. “A
propriedade e a realeza estão em decadência desde o principio do mundo; como o
homem procura a justiça na igualdade, a sociedade procura a ordem na
anarquia”(ibidem). É essa a proposta de Proudhon como
organização social, tendo o homem como medida para a constituição de uma ordem
social justa e igualitária, sem mestres ou patrões senhores ou lideres, apenas
a sociedade sendo autogestionada e a vontade popular sendo efetivamente
aplicada sem intermediação ou imposição de grupos ou pessoa exercendo o poder
do estado e de suas instituições.
A
posse deve ser individual, nos indica Proudhon, o que torna a propriedade
ilegal ação que por si só modifica todas as relações econômicas da sociedade,
tornando mais justa a distribuição de terras e moradias, proporcionando a todos
de forma igual o direito de ocupar variando de acordo com o numero de ocupantes
na intenção de impossibilitar a propriedade, o trabalho passa a ser um dever de
todos e o resultado do emprego dessa força de trabalho passa a ser propriedade
coletiva. No que conclui, o trabalho acaba com a propriedade e a exploração do
homem pelo homem. As transações comerciais devem se feitas na medida da troca
do produto pelo produto, impossibilitando uma renda desproporcional nas
transações comerciais, toda troca dever ser feita de forma livre e equivalente
entre os interessados, observando essas condições a desproporcional diferença
entre ricos e pobres deixara de existir e problemas como a escassez de
alimentos será coisa do passado. “Os
homens estão associados pela lei física e matemática da produção antes de o
serem pelo seu pleno acordo: portanto, a igualdade de condições é justa, quer
dizer, de direito social; a estima, a amizade, o reconhecimento apenas de
direito equitativo ou proporcional.”(ibidem)
O
homem sozinho não produz nem mesmo para suprir todas as suas necessidades, mas
em grupo ultrapassa as necessidades econômicas.
Por
intermédio de livre associação e cooperação mutua com a manutenção da igualdade
de direitos e deveres preservando a liberdade individual é, com efeito, a única
maneira de se promover uma sociedade justa e igualitária.
Não
existe possibilidade de justiça em uma sociedade onde a base econômica é a
propriedade e a desigualdade produzida por essa forma de economia que gera
pobreza e riqueza de forma diretamente proporcional, o governo de poucos sobre
os demais é mantido pela ação violenta do estado e de suas instituições. A
organização social deve ser pautada em uma politica de liberdade e igualdade que terá como consequência justiça social, a
busca por uma sociedade perfeita tem como base de apoio a fusão entre a ordem e
a anarquia.
Breviário sobre M. A. Bakunin
Bakunin
foi um dos grandes pensadores anarquistas, Foi um homem de ação e exerceu sua militância
politica de forma intensa na Europa nos anos de 1848 até sua morte em
1876. Nascido em Premukhino, 11 de maio
de 1814, Rússia. Era filho da nobreza russa, tendo a partir de 1832, começado
sua oposição ao absolutismo czarista na Rússia.
Suas considerações e escritos sobre o
movimento anarquista, bem como sua atividade frenética nos levantes
revolucionários o faz figurar como um precursor do ideal anarquista. E suas
ideias de organização revolucionária vão influenciar em grande medida os anarquistas
e o movimento revolucionário.
Devido
sua intensa participação nas insurreições e ações revolucionárias em toda a
Europa Bakunin passou muito tempo preso e sendo perseguido em diversos países.
Devido
ter sido encarcerado por diversas vezes seus escritos não possuem uma abordagem
muito profunda pela falta de ambiente próprio para a pesquisa e o
desenvolvimento teórico. A fragmentação das ideias de Bakunin pode ser vista
como uma característica do escritor, na intenção de não concluir seus conceitos
deixando para o leitor a tarefa de aprimorar e complementar suas ideias.
No
entanto, Bakunin escreveu muitos artigos e panfletos que foram de grande ajuda
para a constituição do legitimo ideal revolucionário. Diversos pensadores
anarquistas sofreram influencia das ideias de Bakunin, anarquistas como Carlos
Cafiero, Eliseu Réclus e Errico
Malatesta. Mais do que um teórico Bakunin foi um homem de ação, procurando
sempre estar onde a batalha estivesse acontecendo.
Em
1830 Bakunin faz um discurso inflamado onde disseminou a ideia de uma aliança
revolucionária entre os poloneses e russos, após ter sido aclamado pela plateia
Bakunin chegou à seguinte conclusão:
“Na medida em que temos
permanecido desunidos, temos mutuamente paralisado nós mesmos. Juntos,
devem ser todo-poderoso para o bem. Nada pode resistir a nossa ação comum
e unida. A reconciliação da Rússia e da Polônia é uma tarefa enorme, que
merece nossa devoção total. Esta será a emancipação de sessenta milhões de
homens, a libertação de todos os povos eslavos que estão gemendo sob jugo
estrangeiro. Será, no final, a queda, o colapso definitivo do despotismo
na Rússia”.
Sua
atuação proporcionou forte indignação do Czar , que passou a perseguir Bakunin.
Para
Bakunin a questão social é prioritariamente uma questão de subversão dos pobres
contra o julgo dos ricos e dos governos, sua atuação em Praga lhe rendeu a
perseguição do regime russo. Refugiou-se em Dresden onde se envolveu em uma
insurreição contra o governo, maio de 1949, com o titulo de oficial revolucionário
participou da insurreição sendo aprisionado após rebelião.
Na
Rússia o czar já havia se encarregado de roubar todo que pertencesse a Bakunin
devido o incidente eslavo e suas declarações subversivas, tendo todos os seus
direitos civis suspendidos em 1844.
Ao
ser preso foi sentenciado a morte, porém ficou preso durante treze meses e
depois foi entregue aos austríacos que também eram seus perseguidores. Passou
nove meses preso em Praga até ser transferido para Olmutz, lugar onde foi
torturado física e psicologicamente, Bakunin foi acorrentado a uma parede e
condenado a morte por enforcamento, após dois meses foi entregue ao governo
russo sendo levado a prisão de Pedro e Paulo, lugar onde contraio escorbuto
doença que entre outros males causa a perda de todos os dentes e severos
sangramentos. Aparentemente todos os governantes queriam se vingar de Bakunin e
apresenta-lo como exemplo para quem quisesse acompanhar suas ideias. O tempo
total de encarceramento de Bakunin foi de aproximadamente 10 anos, até ser exilado
para a Sibéria de onde em 1857 fugiu para o os Estados Unidos da América
seguindo para Londres em 1861.
Em
Londres Bakunin participa da primeira internacional dos trabalhadores, projeto
no qual havia diversos sindicalistas fomentados pelas ideias de Proudhon para a
constituição de um levante dos trabalhadores europeus. Deixou a Inglaterra rumo
a Itália para fazer parte de um grupo revolucionário que mais se assemelhava a
uma sociedade secreta do que um grupo revolucionário, coisa que redeu criticas
do próprio Bakunin.
Devido
a grande perseguição dos governos os grupos revolucionários não tinham a
liberdade de publicar seus manifestos nem tampouco identificar seus autores,
sobre o risco de ser presos e condenados a morte.
O
que aproximou esses sindicatos e grupos da maçonaria, sociedade secreta muito
popular no século 20. Alguns anarquistas, como Malatesta , até mesmo chegam a
participar da maçonaria abandonando após concluírem sua incompatibilidade com o
ideal anarquista. Entre esses grupos Bakunin participa de um sob o titulo de
Revolucionária Sociedade / Fraternidade em 1865, grupo que passou a se chamar
Aliança da Democracia Socialista atuando dentro da liga pela Paz e Liberdade,
na intenção de divulgar as ideias federalistas no meio republicano, e tornar o
grupo socialista, embora fosse formado em sua maioria por republicanos.
Dentro
da Aliança a composição normativa não é pronta e definitiva, mas sim seguem
como norteadores prontos para acompanhar as necessidades do grupo. A ideia não
é formar grupos de liderança de uma vanguarda revolucionária, mas sim através
da experimentação compor paradigmas de organização livres, sem estatutos
definitivos ou modelos acabados, sempre prontos a se adequar as circunstancias
e necessidades do grupo. Exemplos organizacionais que demonstram a composição
de uma proposição de organização social feita por Bakunin, um ensaio ao
coletivismo libertário que lhe é atribuído. A primeira concepção de ordem
social tem parâmetros de condução para a revolução por grupos melhor preparados,
coisa essa que Bakunin ira abandonar no futuro, visto seu amadurecimento no
campo libertário, e suas experiências nas insurreições que participou ao longo
de sua vida.
Segundo
Bakunin,
"O
advento da liberdade é incompatível com a existência dos Estados... A sociedade
humana livre podem surgir no passado, não mais organizada.... de cima para
baixo .... mas sim a partir do indivíduo livre e da livre associação e
comunidade autónoma, de baixo para cima........ mulheres, diferente do homem,
mas não inferior a ele, inteligente, trabalhador e livres como ele é, deve ser
declarado o seu igual em todos os direitos políticos e sociais .... casamento
religioso e civil, deve ser substituído pelo casamento livre, e que a
manutenção , educação e formação das crianças deve ser uma questão para todos,
uma carga sobre a sociedade .... crianças que não pertencem nem a sociedade nem
para seus pais, mas sim a sua liberdade futura...a revolução .... pode .... só
pode ser efetuada por pessoas....a revolução .... não pode ter êxito a menos,
varrer, como uma conflagração mundial ..abrange toda a Europa para começar e
depois o mundo....a revolução social .. não .... colocar a sua espada antes que
ele tenha destruído todo estado .... em todo o mundo civilizado inteiro " Bakunin no Programa da Irmandade (1865),
conforme publicado em Deus e o Estado, nenhum deus, nenhuma Masters Vol. 1,
p133 – 137.
O
ambiente histórico vivenciado por Bakunin é de grande insatisfação e revolta
por parte da população nos diversos países da Europa, tanto pelo pesado julgo
do absolutismo quanto pelo fracasso das economias, o que é muito influente na
formatação das ideias de Bakunin, bem como sua relação com Proudhon, anarquista
pelo qual Bakunin nutria grande respeito e admiração.
O
novo modelo de sociedade que queriam os anarquistas como Bakunin, era um avanço
radical para sua época e continua a ser admiravelmente acentuado, um programa
socialista revolucionário foi proposto por Bakunin em Genebra, agosto de 1867,
onde havia 6.000 pessoas presentes. Onde Bakunin faz um pronunciamento
criticando o nacionalismo. No congresso seguinte de Berna, em 1868, Bakunin já
está compenetrado na edificação de organizações revolucionárias e os membros da
antiga associação denomina Aliança da Democracia Socialista ingressam na
Associação Internacional dos Trabalhadores, onde abandonam a Liga, e passam a
atuar na AIT, onde o ambiente é muito mais promissor para a difusão das ideias
anarquistas. Dentro da AIT não se faz nenhuma distinção de ideias ou
direcionamento político ou religioso a intenção principal é o combate a
exploração patronal, no entanto a influencia das ideias de Proudhon se faz
evidente o que propicia um ambiente favorável a Bakunin e aos ingressos
provenientes da Aliança da Democracia Socialista.
Bakunin
demonstra que sua proposta de mudança é inclusiva e não formadora de elites de
qualquer espécie para dirigir as massas, ou conduzir a revolução. A divergência
de Bakunin com Marx é provocada por essa característica própria do anarquismo,
a não doutrinação e a não elitização operada por grupos insurgentes, não se
pode fazer a revolução apenas com a classe dos trabalhadores industriais, os
camponeses e os artesãos também devem participar de forma efetiva, formando
cooperativas e elegendo seus delegados assim como os sindicatos na indústria e
suas cooperativas e associações de trabalhadores. Não delimitando assim a ação
revolucionária aos centros urbanos ou a categorias especificas do conjunto da
sociedade.
"As cooperativas e
associações já provaram que os trabalhadores são capazes de administrar as
empresas industriais, que pode ser feito pelos trabalhadores eleitos de seu
meio e que recebem o mesmo salário. " (O sistema capitalista, disponível
em: http://struggle.ws/anarchists/bakunin/writings/capitalist_system.html)(...)
Os
grupos revolucionários tem um papel fundamental no processo revolucionário além
de colaborar com a ação revolucionária ainda deve propagandear e unir as
associações tanto no campo quanto nas regiões urbanas, destruindo qualquer
poder constituído em prol da vitória da revolução libertária.
No entanto na medida que a representação das
necessidades populares não corresponderem com a ideia proposta, essa cessa de
ser revolucionária, e passa a vala comum.”(..)
A organização deve aceitar com toda a sinceridade a ideia que é um servo e um
ajudante, mas nunca um comandante das pessoas, nunca, sob qualquer pretexto o
seu gerente, nem mesmo sob o pretexto do bem-estar do povo.”
O
cuidado em não formar elites intelectuais é evidente, segundo a perspectiva
anarquista a formação de qualquer tipo de distinção de classe e concessão de
prerrogativas a grupos sociais é a perpetuação do sistema de classes e o fim da
revolução.
“Nada
é tão perigoso para a moral privada do homem quanto o hábito do comando. O
melhor homem, o mais inteligente o mais desinteressado, o mais generoso, o mais
puro, se estragará infalivelmente e sempre nesta atividade. Dois sentimentos
inerentes ao poder jamais deixam de produzir esta desmoralização: o desprezo
pelas massas populares e o exagero de seu próprio mérito.” (Bakunin,) BAKUNIN,
Mikhail. Federalismo, Socialismo e Antiteologismo Cortez editora,São Paulo-SP,
1988
E
segue Bakunin,
“Nós somos grandes inimigos de todo
poder oficial, mesmo que fosse de energia ultrarrevolucionária. Somos inimigos
de todos os ditadura reconheceu publicamente, somos anarquistas
social-revolucionário. Mas você vai perguntar, se somos anarquistas, com que
direito é que nós queremos e por que método podemos influenciar as pessoas?
Rejeitando qualquer possibilidade, por que o poder, ou melhor, por que força
devemos direcionar a revolução do povo? Uma força invisível reconhecido por
ninguém, imposta por ninguém através da qual a ditadura coletiva de nossa
organização será tanto mais forte, mais ele permanece invisível e não
reconhecida, mais ela continua sem qualquer legalidade oficial e significado.”(idem)
As
ideias de Bakunin se opõe a instituição de um poder centralizado e da
fragmentação das organizações revolucionárias, tornando sua ideia ao mesmo tempo
contraditória e inovadora, sua proposta inclui uma dialética organizacional, o
que seria um embrião para o federalismo libertário, o coletivismo de Bakunin
não propõe uma organização modelo, mas sim aponta que a organização
revolucionária deve ser feita por alianças sociais de forma ampla e aberta
tanto no âmbito regional como de forma macro e internacional. A criação de
órgão regional fomenta a rejeição dos poderes instituídos, levando através das
associações internacionais sua intolerância ao jugo e ao uso do poder sobre as
massas de trabalhadores. Com a simples ideia de rejeição ao poder tanto na sua
representação politica como econômica, no que diz nem pátria nem patrão.
A
revolução se dará de baixo para cima em uma união dos trabalhadores do campo e
urbanos, na medida em que compreendam sua condição de servidão e rejeitem sua
própria história vivida até esse momento, na certeza de que o caminho não é
predestinado, mas se faz com união, coragem e luta.
O
que fala Bakunin,
"É necessário
falar-lhes do seu próprio comércio e as condições de seu trabalho no localidade
específica onde vivem; das condições duras e longas horas de trabalho diário,
do pagamento de pequeno porte, a mesquinhez do seu empregador, o custo de vida
elevado, e como é impossível para eles corretamente para apoiar e sustentar uma
família."fundadores da Associação Internacional dos Trabalhadores,
http://flag.blackened.net/daver/anarchism/bakunin/bakunin3.html
A
revolução deve ser necessariamente obra do próprio povo, e desejada pelo povo.
“É óbvio que a
liberdade não será restituída à humanidade, e que os verdadeiros interesses da
sociedade – quaisquer que sejam os grupos, organizações sociais ou indivíduos
que a compõem – só serão satisfeitos quando os Estados não mais
existirem. “Deus e o estado.
Não
se tratando apenas de uma condição histórica ou de desenvolvimento cultural, a
revolução se concretiza pela ação direta e a luta constante para a abolição do
poder. O estado não tolera oposição ao poder, perseguindo e punindo seus
opositores. A vida de Bakunin é o espelho de suas teorias, sempre atribulado e
em busca de mudanças na sociedade e justiça. Um dos mais ativos teóricos
anarquistas morreu em 1876, em Berna Suíça.
O
pensador e teórico anarquista M.A. Bakunin fez diversas considerações e
criticas sociais que foram de grande valor para o desenvolvimento do pensamento
anarquista, no entanto o que nos chama a atenção são três assuntos principais
da obra de Bakunin, o coletivismo (economia), anticlericalismo (cultural), a
educação libertária (sociológica).
O
coletivismo
A
ideia de coletivismo é proposta por Bakunin em um contexto histórico de grande
efervescência politica, se de um lado os liberais insistiam em defender a
ideologia de representatividade politica, havia também os que desejosos por
mudanças imediatas queriam um socialismo de estado, como os seguidores de Marx
e Engels, o paco dessas discussões era a internacional dos trabalhadores a AIT.
Para
Bakunin a ideologia liberal de representatividade e a manutenção de um estado
gestor da sociedade são fundamentadas no medo, um argumento defendido por
teóricos liberais que afirmavam ser a civilização um ambiente hostil e que
apenas com um estado forte e repressor se poderia garantir a segurança e a
ordem social. Bakunin refuta esses argumentos, e aponta a secular presença da
igreja e das religiões como principal causadora dessa propagação do terror
social, não se pode garantir nenhuma condição de bem estar social e organização
econômica através do estado e da diferença de classes, o homem não é o lobo do
homem, o estado e a igreja sim são os verdadeiros entraves para a ordem e o
desenvolvimento social.
A
sociedade somente pode se desenvolver de forma plena através do empenho
coletivo e da manutenção da igualdade e liberdade.
A
concepção econômica de proposta por Bakunin é o coletivismo, grosso modo é
compreendido como sendo tudo de todos, e na questão das atribuições e direitos
sociais a cada um conforme sua necessidade e a cada um de acordo com sua
capacidade.
Segundo
Bakunin o sistema capitalista tem como base principal da sua fisiologia a
exploração e a busca pelo lucro máximo. E a economia tem outro sentido que não
o da satisfação das necessidades da sociedade.
No
que diz Bakunin,
“Para
o capitalista e para o detentor da propriedade, eles significam o poder e o
direito, garantidos pelo Estado, de viver sem ter de trabalhar (..).. isso
significa o poder e o direito de viver à custa da exploração do trabalho
alheio, o direito de explorar o trabalho daqueles que não possuem propriedade ou
capital e que, portanto, são forçados a vender sua força produtiva aos
afortunados detentores de ambos. Na presença dessas autoridades poderosas e
respeitáveis, eu não posso sequer permitir-me questionar se esse modo de vida é
legitimo do ponto de vista da justiça, liberdade, igualdade e fraternidade
humanas. Eu simplesmente me pergunto: sob tais condições, serão possíveis a
fraternidade e a igualdade entre o explorador e o explorado, serão a justiça e
a liberdade possíveis para o explorado?”(idem)
O
fisiologismo do sistema capitalista é incoerente com os argumentos apresentados
pelos teóricos liberais. A ideia de que a liberdade individual está
condicionada a um contrato social onde o limite da liberdade de cada um é a sua
ação em relação ao próximo, não faz o menor sentido no seu aspecto prático.
“Os liberais
doutrinários, o raciocínio das premissas da liberdade individual, colocam como
os adversários do Estado. Entre aqueles que afirmam que o governo, ou seja, o
corpo de funcionários organizados e designados para exercer as funções do
Estado é um mal necessário, e que o progresso da civilização consiste em sempre
e continuamente diminuindo os atributos e os direitos dos Estados, são
inconsistentes. Essa é a teoria, mas na prática esses mesmos liberais doutrinários,
quando a existência ou a estabilidade do Estado está seriamente ameaçada, são
tão fanáticos defensores do Estado como são os monarquistas e jacobinos. Sua
adesão ao Estado, o que contradiz frontalmente suas máximas liberais, pode ser
explicado de duas maneiras: na prática, seus interesses de classe faz a imensa
maioria dos liberais doutrinários membros da burguesia. Este numeroso e
respeitável classe demanda muito, só por si, os direitos e privilégios
exclusivos da licença completa. A base socioeconômica de sua existência
política repousa sobre nenhum outro princípio que a licença livre, expressa em
frases famosas do laissez faire e laissez aller.”(idem)
Para que a liberdade de fato se
estabeleça na sociedade é necessário que os meios de produção e os diversos
setores da sociedade sejam gestados pelos seus membros de forma direta, através
de associações de trabalhadores quer sejam do campo ou urbanos da indústria ou
dos diversos setores necessários a manutenção da economia e dos serviços
pertinentes a satisfação das necessidades da sociedade. Bakunin não se
aprofunda na funcionalidade dessas associações, porém deixa claro a necessidade
da participação coletiva em todas as esferas sociais e a impossibilidade de
qualquer tipo de hierarquia ou liderança, sendo o processo de autogestão o mais
associado à funcionalidade da organização proposta por Bakunin.
A sociedade deve estar de tal maneira
organizada que todos os indivíduos tem que ter garantidos recursos para a sua
manutenção e o seu desenvolvimento tanto para o trabalho como para as suas
necessidades individuais para o pleno desenvolvimento de suas faculdades
intelectuais e físicas. A preocupação com a formação de grupos gestores é para
que não haja novamente a exploração do trabalho alheio e prerrogativas
econômicas a grupos que desfrutam da riqueza social sem participar da produção
dessa riqueza diretamente.
Segundo Bakunin,
“A futura organização da sociedade deveria
ser realizada de baixo para cima, pela livre associação e união dos operários;
primeiro em associações, depois em comunas, em regiões, em países e,
finalmente, numa grande federação internacional e universal. Só assim poderá
ser estabelecida a liberdade e a facilidade geral da nova ordem, uma ordem que,
longe de querer negar, garante e tenta harmonizar os interesses dos indivíduos
e da sociedade”(idem)
A proposta de um socialismo de estado é
de pronto rejeitado por não tornar o processo de organização social diferente
do sistema que se almeja destruir, não existe diferença entre os governos
representativos que exploram o trabalhador proporcionando privilégios as suas
classes elitistas, em relação ao socialismo de estado que forma também cidadão
distintos membros de grupos dirigentes que terão suas prerrogativas políticas e
econômicas, assim como seus predecessores.
Bakunin define seu projeto de
organização social da seguinte forma:
“Nosso programa pode ser resumido em
poucas palavras: Paz, emancipação e felicidade dos oprimidos. Guerra contra
todos os déspotas e opressores. Restituição total aos trabalhadores: todo o
capital, as fábricas, e todos os instrumentos de trabalho e matérias primas
devem ir para as associações, e a terra para os que a cultivam com suas
próprias mãos. Liberdade, justiça e fraternidade para todos os seres humanos sobre
a terra. Igualdade
para todos. A todos sem distinção alguma, todos os meios de desenvolvimento e
educação iguais possibilidades de vida e trabalho. A organização de uma
sociedade mediante uma federação livre, de baixo para cima, de associação de
trabalhadores, tanto industriais como associações agrícolas, cientificas e literárias
– primeiro em comunas, depois em federações de comunidades regionais, de
regionais em nacionais e de nacionais em uma associação fraterna e
internacional.”(idem)
Como solução para o fim da desigualdade
social, (visto que a justiça para Bakunin está diretamente ligada a igualdade
de fato, em todos os seus aspectos tanto políticos, econômicos e sociais), o
sistema de herança pelo qual os bens de capital são repassados de geração para
geração, deve ser um agente facilitador para a instauração da igualdade social,
e o fim das classes. O que para Bakunin é essencial para a mudança do regime de
exploração para o de justiça e igualdade social.
Que a terra seja de quem cultiva a
terra e as fábricas de quem trabalha nas fábricas, essa é a configuração do
plano econômico proposto por Bakunin, um processo de autogestão nas fábricas e
nas associações rurais.
O que configura o ponto principal do
coletivismo de Bakunin é disponibilização dos bens e riqueza produzida pelos
trabalhadores quer sejam do campo ou urbanos, a todos os membros da sociedade,
reivindicando a provisão das necessidades dos indivíduos sociais desde sua
infância, sem distinção de gênero ou faixa etária, todos os indivíduos devem
ter suas necessidades garantidas a partir de seu nascimento. Porém é
proporcionado a cada membro da sociedade condições para desenvolver e executar
trabalho produtivo, de modo a auxiliar (de acordo com sua capacidade), na
manutenção das necessidades da coletividade. A máxima coletivista tudo é de
todos engloba o dever como sendo também de todos, a exploração do trabalho
alheio é inaceitável na visão coletivista.
A necessidade de uma mudança radical na
configuração econômica e social, para que haja uma real emancipação dos
trabalhadores da servidão a que estão submetidos pelo sistema capitalista. A
relação patrão e empregado senhor e escravo deve ser extinta de forma
definitiva, em todas as suas manifestações e configurações que se apresentaram
durante a história das civilizações. O poder político que é efeito causador
dessas desigualdades, por manter e defender as classes dominantes e propiciar
as prerrogativas dos grupos que se estabelecem no poder deve ser aniquilado do
meio da sociedade. Somente assim a sociedade pode caminhar para o socialismo
verdadeiramente.
A educação Libertária
De acordo com o entendimento de Bakunin, para que o
povo de fato possa se emancipar e tornar-se livre definitivamente do estado, se
faz necessário a aquisição do conhecimento, através da educação.
A educação para Bakunin não é apenas a simples
democratização dos entendimentos e saberes adquiridos pela humanidade durante a
história, a educação é plena completa proporcionando ao individuo total
compreensão de como ele deve se situar dentro do corpo social, e ser capaz de
gerir sua própria vida e fazer suas escolhas de acordo com suas predileções. A
educação deve ser completa no que se refere a formação intelectual e nos
valores individuais e na cultura.
Não se faz escolhas sem ter informação, e não é
possível compartilhar as escolhas sem ter educação. O conhecimento é para
Bakunin um agente libertador, que proporciona a seu detentor condições para
exercer sua liberdade de forma plena.
A idade ideal para o ensino é a infância, onde o
individuo ainda está em processo de formação intelectual, educar é nesse
aspecto fornecer aos indivíduo informação e conhecimento suficientes par que
possam ter autonomia na construção do seus valores, e partilhar com a sociedade
suas evoluções de forma livre e plena.
A diferenciação dos grupos sociais é promovido em
diversos setores da vida social e a educação não foge a esse padrão
estabelecido na sociedade de classes. O que faz com que o pensador libertário
chame a atenção a essa questão, reivindicando uma mudança na distribuição dos
saberes gerados pela sociedade, para Bakunin a educação oferecida a maioria da
população é voltada apenas para a formação técnica destinada ao desenvolvimento
do trabalho manual, em contra partida a qualificação educacional destinada as
classes privilegiadas a qual ele denomina burgueses, é qualitativamente
superior em todos os aspectos, O que impede o trabalhador de compreender a sua
condição de explorado e facilita a manutenção do sistema de exploração e
prerrogativas das classes dominantes.
No que diz Bakunin;
“Poderá
a emancipação das massas operárias ser completa, enquanto a instrução que as
massas recebe for inferior aquela que é dada a burguesia?(..)Aquele que sabe
mais dominará aquele que sabe menos.” (A instrução integral Bakunin).
Dentro
dessa perspectiva existe uma proposição, que por meio da educação, possa haver
uma mudança na consciência dos trabalhadores, dando a população ferramentas
para levar adiante uma revolução sociocultural. De acordo com as ideias de
Bakunin, e de outros teóricos anarquistas que o procederam, os trabalhadores
deveriam exigir uma transformação na educação que lhes proporciona-se
conhecimento integral, de modo a objetivar uma formação abrangente e que venha
a satisfazer os diversos aspectos da condição humana: intelectual, moral e
político, bem como voltado para as artes e a filosofia.
Segundo
Bakunin;
“Na instrução integral,
paralelamente ao ensino cientifico ou teórico deverá existir necessariamente o
ensino industrial ou prático. Só assim será possível formar um homem completo:
o trabalhador que compreende e que sabe.”
Na
medida em que as pessoas possam compreender o seu papel na sociedade e sua
verdadeira condição dentro de um sistema baseado na exploração do trabalho e na
divisão injusta dos bens de consumo e riquezas produzidas pela sociedade, os
anarquistas como Bakunin acreditam que a mudança dos valores ocasionara uma
revolução social verdadeira e profunda. Onde as diferenças sociais provenientes
de uma moral mentirosa e hipócrita darão lugar a humanização dos valores e da
igualdade e justiça social. Somente é possível mudança e revolução social
através da educação e da tomada de consciência por parte dos trabalhadores, na
indústria e no campo essa é a proposta de Bakunin para a sociedade por
intermédio da educação.
O
anticlericalismo
A
classe sacerdotal sempre se estabeleceu entre os meios mais abastados da
sociedade, vivendo de forma confortável e transitando entre os círculos de
poder, sendo a própria classe sacerdotal, seja ela de qual religião pertencer,
dotada de poderes e privilégios dentro do corpo social. A influência que a
igreja católica obtinha sobre a sociedade no século XIX e inicio do XX
evidencia a sua posição no meio da sociedade.
A
grande carga que os trabalhadores e camponeses tinham que suportar era agravado
pelo quinhão destinado a igreja, não obstante o poder político que a igreja
detinha a transfigurava em um braço forte na sustentação do estado. A
moralidade pregada pela igreja procurava justificar as desigualdades e as
prerrogativas da nobreza e sua própria condição de superioridade em detrimento
dos demais membros da sociedade.
Bakunin
protesta contra a hipócrita e mentirosa moral sacerdotal, denuncia a igreja
como um aliado do estado contra o povo, e propõe a abolição da instituição
religiosa e o repudio a toda a sua moral metafísica que renega o homem e o
coloca em uma condição de miserável.
Segundo
Bakunin,
“A
abolição da Igreja e do Estado deve ser a primeira e indispensável condição
para a verdadeira libertação da sociedade; só depois que isso acontecer é que a
sociedade poderá ser organizada de uma maneira diferente.” (A igreja e o
estado. Bakunin).
Para
Bakunin a revolução deve ser completa e para que isso ocorra deve-se começar
pela abolição das classes sociais e a constituição de uma sociedade
igualitária, a igualdade deve ser politica e econômica, e a educação
universalizada, e a rejeição da moral divina imposta pela igreja no que deve
ser substituída por uma moral humana baseada na solidariedade e na fraternidade
e na justiça social.
O
despotismo sempre foi apoiado pela igreja com base na moral divina da
hereditariedade do direito dos reis e da nobreza.
Segundo
Bakunin,
“Todos
os sistemas metafísicos teológicos estão unidos de tal forma que são mutuamente
explanatórios. Esta é a razão porque os defensores destes sistemas podem e
devem continuar a explorar as massas em nome da Igreja e do Estado.”
A
igreja não apenas se beneficia da sua condição privilegiada no sistema como
exerce um papel fundamental na manutenção do estado e sua justificativa.
Da
mesma forma que os liberais defendem o estado como único mantenedor da ordem e
promotor do desenvolvimento da civilização, a igreja figura como único
representante da moral e condutor para a salvação da alma e da vida eterna.
Como não existe relação que justifique a exploração humana e desigualdade
social em contraposição a ordem e o progresso da civilização os argumentos
sobre a necessidade do estado são falácias que não refletem a realidade social,
bem como não se pode apresentar uma única prova da imortalidade da alma e a sua
relação com a perpetuação da miséria humana os argumentos dos clérigos para a
obediência ao estado e a manutenção da vida de forma resignada, também é falso
e não é suscetível de discussão visto a sua incoerência em propor algo concreto
para que se receba recompensa abstrata.
Segundo
Bakunin,
“Já
que nenhuma abstração existe por si ou para si mesma, já que não tem pernas
para andar, nem braços para criar, nem
estômago para digerir as milhares de vítimas que lhe são dadas para que devore,
torna-se óbvio que essa abstração religiosa e celestial, o próprio deus,
representa na verdade os interesses muito positivos e reais de uma casta
privilegiada, o clero. Da mesma forma que seu complemento terreno, a abstração
política, que é o Estado, representa os interesses não menos reais e positivos
da classe que é hoje o principal – se não o único – agente da exploração e que,
além disso, ainda demonstra uma certa tendência para absorver todas as outras
classes: a burguesia. E assim como o clero sempre estava dividido e hoje tende
a dividir-se ainda mais entre uma minoria rica e poderosa e uma maioria
empobrecida que lhe é subordinada; assim também a burguesia e suas várias
organizações – tanto sociais quanto políticas, na indústria, agricultura,
bancos e comércio, bem como em todas as funções administrativas, financeiras,
judiciárias, acadêmicas, policiais e militares do Estado – tendem a tornar-se
uma verdadeira oligarquia. Transformar-se-ão em enorme massa de indivíduos
pretensiosos e decadentes, vivendo numa ilusão perpétua, empurrados
inevitavelmente e cada vez mais para o proletariado pela força irresistível da
situação econômica atual e reduzidos a servir como instrumentos cegos dessa
toda-poderosa oligarquia.” (idem).
A
analogia entre a igreja e o estado é feita de forma muito precisa e
esclarecedora por parte do pensador anarquista, não a duvidas que os interesses
do estado e os interesses da igreja são convergentes, se por um lado o estado
se mantém com o apoio da igreja a igreja por sua vez não conseguiria manter sua
condição privilegiada na sociedade sem a colaboração do estado.
Para
que haja um ambiente salutar e propicio par uma transformação social os
preconceitos fomentados pela igreja e as práticas impostas pelos seus dogmas
devem ser extirpados do meio social, não pode haver igualdade onde se perpetua
o privilegio, não há justiça onde se
dissemina a mentira e o engano. Os valore para a nova sociedade deve ter como
condição primeira a liberdade e a igualdade e a ética deve estar pautada na
igualdade de direitos e deveres humanos e não divinos, para que não venham a
privilegiar uma nova classe de sacerdotes iniciando novamente as prerrogativas
de grupos que logo se tornariam senhores escravizando os demais.
Conclusão
Os
manuscritos que compõe a obra de Bakunin tem um papel fundamental na
constituição de uma contextualização do pensamento libertário, sua influência
no pensamento anarquista é determinante para a constituição teórica dessa
filosofia político. Embora sempre composta de forma fragmentada, os textos
deixados por Bakunin são abrangentes na sua abordagem e tem a profundidade
necessária para fazer o leitor pensar sobre os diversos temas que esse autor
aborda com tanta maestria.
Os
trabalhos de Bakunin são divididos em dois momentos distintos de sua vida
politica, em primeiro lugar tem uma preocupação voltada para quebra do
despotismo e na obtenção da liberdade para os povos eslavos, sugerindo um
federalismo democrático para os povos eslavos e a derrocada do poder ditatorial
do czar. Em um segundo momento já mais amadurecido o pensamento de Bakunin é
claro em definir como caminho verdadeiramente desejável o anarquismo. Coloca a
subversão como condição primeira para a obtenção da liberdade e o desejo de
viver associado a revolta, como elemento essencial e motivador para o levante
revolucionário. A crença na mudança motivada pela conscientização do povo e no
desejo positivo das pessoas em fazer o melhor para si e para os seus semelhantes
é uma característica marcante do coletivismo libertário de Bakunin, no que
rejeita qualquer forma de direcionamento ou vanguarda intelectual que venha a
conduzir a revolução.
O principio da não doutrinação é
explicito nas proposições de Bakunin, outro sim é sua crença na natureza humana
em evoluir e conspirar para uma sociedade melhor e mais justa, essa crença que
Bakunin expressa em seus escritos é alimentada, em grande medida, pela sua
atuação nas frentes de revolucionárias e no ambiente de grandes mudanças e
descobertas cientificas, rasgando o véu de Maia em que a sociedade vivia há
séculos. A preocupação com a educação demonstra sua preocupação com o futuro,
para o pensador revolucionário a diferenciação dos conteúdos disciplinares da
educação oferecida para o povo em relação às elites era inaceitável e uma das
causas da desigualdade na sociedade, a falta de informação torna o povo passivo
diante da exploração das classes dominantes, para Bakunin a mudança social
passa necessariamente pela revolução na educação. O que realmente Bakunin
reivindica é uma mudança radical na sociedade em todos os seus valores, assim
como Proudhon ele afirma que os ensinamentos que nos foram dados até aqui estão
contaminados pelos interesses dos despostas e das classes dominantes, que são
quem articulam as diretrizes que servem de base para a constituição dos valores
socialmente impostos, bem como são os que promovem as ideologias. “Mas, é preciso que o diga, reconheci primeiramente que
nunca havíamos compreendido o sentido destas palavras tão vulgares e tão
sagradas: Justiça, Igualdade,
liberdade; que sobre cada uma dessas coisas as nossas ideias eram
profundamente obscuras; e que, enfim, essa Ignorância é a única causada pobreza
que nos devora e de todas as calamidades que se abateram sobre a espécie
humana.” (Proudhon).
Nenhuma
sociedade pode ter como base organizacional uma ideologia seja ela qual for,
visto que nunca satisfazem as necessidades reais dos indivíduos sociais, mas
privilegiam as abstrações políticas que sempre possibilitam prerrogativas
econômicas e sociais a classes distintas em detrimento do bem estar do povo. Um
ideal político tem que dialogar como as proposições econômicas e ao mesmo tempo
representar o mais fielmente possível os desejos e as necessidades reais do
povo.
E
é nessa dialética que Bakunin apoia sua proposta de federalismo coletivista,
com grande dose de otimismo e fé na bondade das pessoas e na mudança através da
educação.
O
que Bakunin aponta como principal fator para que haja uma revolução social, é
uma mudança no estado de coisas não apenas na economia ou na politica social,
mas uma mudança nos valores sociais e nas relações sócio econômicas, uma
mudança radical na sociedade uma revolução verdadeira e profunda na sociedade.
Os
métodos empreendidos por Bakunin e seus companheiros de luta não foram
eficazes, a necessidade imediata de mudança pode ser um dos fatores de
ineficácia na maioria das insurreições, o que traz um questionamento sobre como
mudar e de que forma a sociedade pode avançar no sentido de melhorar as
relações humanas.
Esse
pensador revolucionário foi um gigante, dentro do processo de mudança na
sociedade de sua época, bem como de grande influencia aos teóricos anarquistas
que o precederam.
A
conquista do pão – Piotr Kropotkin
As
considerações de Kropotkin começam por referenciar a mudança que passou a
sociedade humana durante o processo civilizatório desde sua vivencia nas
cavernas até a idade moderna, apontando principalmente a sua conduta em relação
ao acumulo de bens e a herança. Não deixando mais do que o exemplo de como
sobreviver as intempérie da natureza o homem tinha uma vida de grande esforço
para manter sua existência. No entanto após muito esforço e tempo, séculos de
trabalho e reestruturação de diversas formas, acumulou o homem imensa riqueza,
tanto materiais como intelectuais. Compreendendo como modificar a natureza dos
objetos e padronizar o ambiente para melhor lhe servir, tanto para suprir suas
necessidades básicas como para seu conforto e segurança.
Segundo
Kropotkin;
(.) o gênero humano
acumulou inacreditáveis tesouros. (..) os pântanos, fez trochas nos bosques,
abriu caminhos; edificou, inventou, observou, pensou; criou instrumentos
complicados, arrancou seus segredos à natureza, domou o vapor, tanto que, ao nascer,
o filho do homem civilizado encontra hoje a seu serviço um capital imenso,
acumulado por seus predecessores. (..) Somos ricos, muitíssimo mais do que
cremos. Ricos pelo que possuímos já; ainda mais ricos pelo que podemos
conseguir com os instrumentos atuais; infinitamente mais ricos pelo que
pudéssemos obter de nosso solo, de nossa ciência e de nossa habilidade técnica,
se se aplicassem a tentar o bem-estar de todos. (Kropotkin, A conquista do
pão).
Porem
se é assim que está à civilização tão maravilhosamente abastada e servida de
técnicas e proventos de toda sorte porque existe tanta miséria, indaga ainda
Kropotkin, como com tantos avanços tecnológicos tanto na indústria como na
agricultura, podendo agora produzir muito mais e com mais qualidade e aproveitamento
se tem um acumulo tão grande de miseráveis e famintos no mundo. Se todo o
avanço da civilização é participado pela história da humanidade como um todo e
do esforço de todos em comum, por que o beneficio é regrado e propiciado apenas
há uma pequena parcela da sociedade? Não faz o menor sentido que se possam
negar a ninguém as conquistas adquiridas por todos, dando a algumas
prerrogativas e a maioria nada sendo servido.
“Cada descoberta, cada progresso,
cada aumento da riqueza da humanidade, tem sua origem no conjunto do trabalho
manual e cerebral, passado e presente. Então, que direito assiste a ninguém
para apropriar-se a menor partícula desse imenso tudo e dizer: Isto é meu e não
vosso?”(idem)
A
propriedade privada invenção imoral que permite a determinados grupos sociais
se apropriar da riqueza produzida por outros para si. O que chamou Proudhon de
roubo, é o que ocorre na sociedade moderna com o aval do Estado e ratificada
pelas leis, onde o trabalhador não fica com o produto do seu trabalho mais é
repassado para o patrão, que de certa forma tomou o lugar do senhor feudal, e o
Estado se dedica a providenciar a manutenção e a garantia dos direitos da
classe patronal e dos detentores do poder econômico é o capitalismo.
Os
meios de produção foram arrancados dos trabalhadores e tudo passou a ter um
proprietário, não sendo possível sobreviver sem se sujeitar a exploração e a
venda da sua própria força de trabalho o camponês e o trabalhador urbano se
sujeita a produzir para o enriquecimento das elites proprietárias, a lógica
econômica não se aplica a prática capitalista já que se produz apenas para
avançar no acumulo de riqueza e de lucro dos proprietários e não para sanar as
necessidades econômicas da sociedade. O que compromete, em grande medida, a “saúde”
econômica do próprio sistema.
As
diversas crises econômicas que já sucederam na história são fruto da ganância e
da falta de comprometimento político com as reais necessidades da sociedade e
não de incapacidade produtiva, o que condena as teorias malthusianas sobre a
impossibilidade de produção de viveres em relação ao avanço demográfico.
Promover
a igualdade de condições e bem estar a todos é perfeitamente possível. O que
nos diz Kropotkin: “O bem-estar para todos não é um sonho. É possível, realizável,
depois do que fizeram nossos antepassados para fazer fecunda nossa força de
trabalho. (..)”
O
que ocorre é que devido o sistema se balizado no provento do lucro e da usura
de alguns poucos, não se pode produzir com toda a capacidade real, a existência
de verdadeiros exércitos de desocupados sobrecarrega os trabalhadores
produtivos e sobremaneira a quantidade imensa de atravessadores que não
produzem nada, mas ganham com as negociações das mercadorias frutos do trabalho
alheio, o processo produtivo é
sobrecarregado com o esquema montado para valorizar o produto na chamada “lei
da demanda” se um produto não tem seu
valor acrescido nas infindáveis manobras
do sistema capitalista, o gargalo produtivo faz com que com a escassez do
produto esse se valorize no mercado. O sistema com base na elevação do lucro
incessante não é um sistema econômico é sim antropofágico, se auto consome.
O
imenso desperdício feito pelo estado para a produção de armas a fins de
intimidar os países vizinhos geram um uso inadequado da força de trabalho, bem
como da manutenção do luxo dos ricos e da sua ostentação inútil. Não obstante,
para manter toda essa estrutura se paga milhares de servidores públicos como
policiais, juízes e gente de toda sorte para consolidar os privilégios dos
ricos e manter o que chamam de justiça e ordem publica. Um gasto considerável e inútil para a
economia da sociedade, os gastos com essa estrutura sendo direcionado para a produção de bens
para o consumo da sociedade e de melhor serventia para todos, a quantidade de
parasitas que não trazem nenhuma contribuição rela para a vida social faz com
que o trabalhador seja sobrecarregado em
suas tarefas para suprir a demanda social.
A proposição de bem-estar para todos, feita pelo
anarquismo , é possível se todos esses milhares de parasitas deixem de ser
apenas um estorvo social e passem a contribuir com sua força de trabalho e os
proprietários não sejam mais senhores de
toda a riqueza produzida pelos trabalhadores. “É mister que o rico instrumento da produção seja propriedade comum, a
fim de que o espírito coletivo saque dele os maiores benefícios para todos.
Impõe-se a expropriação. O bem-estar de todos como fim; a expropriação como
meio(..)Devolução à comunidade de tudo o que sirva para conseguir o bem-estar.
Mas este problema não pode resolver-se pela via legislativa. O pobre e o rico
compreendem que nem os governos atuais nem os que pudessem surgir de uma
revolução política seriam capazes de resolvê-lo. Sente-se a necessidade de uma
revolução social,.”(ibidem)
A revolução social não se processa por mudanças políticas
esquecendo-se dos direitos econômicos do povo, não se pode suportar
modificações legislativas e imposições de ditaduras e golpes de qualquer sorte,
com nomenclaturas pomposas, o que queremos é uma revolução de fato onde o povo
tenha seus direitos resguardados e os bens sejam expropriados e utilizados para
a promoção da igualdade e da justiça social, não se pode aceitar uma sociedade
que produz viveres em quantidades chamais imaginadas e o povo passa fome,
indústrias têxteis espetaculares e a falta de roupas para as pessoas. O que se
espera da revolução não é uma mudança representativa, mas a tomada dos meios de
produção e dos bens de consumo pelo povo e para o povo. Tomar para si toda a riqueza propicia ao povo
conhecer o que é bem-estar, e como é viver na fartura assim como se conhece o
trabalho duro e a escassez do que se deseja e necessita.
“O
direito ao bem-estar é a possibilidade de viver como seres humanos e de criar
os filhos para fazer-lhes membros iguais de uma sociedade superior à nossa, ao
passo que o direito ao trabalho é o direito a continuar sempre sendo um escravo
assalariado, um homem de labor, governado e explodido pelos burgueses do manhã.
O direito ao bem-estar é a revolução social; o direito ao trabalho é, no
máximo, um presídio industrial.”(ibidem)
Como os anarquistas imaginam a possibilidade de uma
sociedade igualitária e economicamente possível na forma de proporcionar
bem-estar a todos? Essa sem duvida é uma pergunta importante a ser elucidada, e
Kropotkin assim como outros teóricos anarquistas nos apresentam várias
proposições, entre elas o comunismo anarquista que é justamente a proposição de
Kropotkin. No que diz: Toda sociedade que rompa com a propriedade
privada se verá no caso de organizar-se em comunismo anarquista. (ibidem)
Em um momento distante na história da civilização o
coletivismo servi para promover ações em comum que favoreceram toda a
comunidade sem prejuízo a ninguém, a construção de poços, pontes e estradas não
dependiam de empreendimento assalariado, mas da necessidade das aldeias e
vilas, o que era feito por meio de ação coletiva, algo que na sociedade moderna
não funciona, o advento do capitalismo instituiu como meio para a distribuição
dos bens de acordo com o trabalho desempenhado, o salário, e segundo os
economistas liberais o que foi seguido ao menos na concepção de distribuição de
bens por Marx, e o seguimento socialista Marxista, cada trabalhador tem sua
parte na produção mensurada pelas horas de trabalho empregadas no serviço. O
que proporcionalmente não significa sanar uma necessidade real ou valorar seu
esforço de acordo com a produção desenvolvida.
A síntese dessa ótica é a remuneração do trabalho está vinculado ao
tempo de trabalho gasto na produção dos bens, o que nos propõe Kropotkin é
irmos além dessa visão economicamente limitada e limitante para a promoção do
bem-estar social.
Para uma sociedade onde os meios de produção serão
de todos, denotando uma mudança total na formatação do trabalho e nas
atividades e relações de trabalho, a distribuição dos produtos desse trabalho
também tem que sofrer uma mudança radical, não com a forma suavizada de um
comunismo de estado (Marxismo), mas se todos tralham então que todos possuam. O
fim da propriedade traz consigo essa mudança proporcionalmente, não havendo
proprietários cada um tem para si o apenas a posse do que necessita para o seu
bem estar, e não sendo pago pelo trabalho ou recebendo bonificações, mas
possuindo as riquezas assim como o trabalho é coletivo as riquezas também devem
ser. “O salário nasceu da apropriação
pessoal do solo e dos instrumentos para a produção por parte de alguns”. Era a
condição necessária para o desenvolvimento da produção capitalista; morrerá com
ela, ainda que se trate de disfarçá-la sob a forma de «bônus de trabalho». A
posse comum dos instrumentos de trabalho trará consigo necessariamente o goze
em comum dos frutos do labor comum”(..) Mas nosso comunismo não é o dos
falansterianos nem o dos teóricos autoritários alemães, senão o comunismo
anarquista, o comunismo sem governo, o dos homens livres”. Esta é a síntese dos
dois fins perseguidos pela humanidade através das idades: a liberdade econômica
e a liberdade política. (ibidem).
O anarquismo não compactua com os conceitos
retrógrados onde figura a ideia de “estado gestor”, soberano na manutenção do
bem estar social e da segurança econômica da sociedade, o mito ideológico não
tem reflexo na realidade, a maioria das atividades produtivas da sociedade são
desassociadas da gestão do estado, quanto maior a interferência do estado nas
atividades econômicas maior à possibilidade de insucesso e fracasso. Em síntese
a ação do estado interfere no processo produtivo apenas para confisco e não
como provedor e administrador. Os processos necessários para garantir uma nova
organização econômica, que faças jus a essa ciência, compreender as
necessidades humanas e promover formas de satisfazê-las, terão duras e difíceis
, não se modifica uma estrutura social de forma tão radical com mudanças e
reformas singelas, é como utilizar pano novo para remendar roupas rotas, com o
tempo tudo está rasgado novamente, após sublevar o antigo sistema e
apropriar-se dos meios de produção é necessário integrar as ações de trabalho e
compondo uma verdadeira conexão entre os trabalhadores do campo e o trabalhador
urbano podendo haver através das livres associações trocas de mantimentos
necessários para a vida urbana por produtos manufaturados que interessem aos
camponeses, a tudo que for abundante que se peguem sem regulação e o que for
escasso que tenha comedimento. “Mas uma sociedade que conceda a cada um de
seus membros a instrução ampla, filosófica e científica saberá organizar o
trabalho corporal de maneira que seja orgulho da humanidade, e a sociedade sábia
chegará a ser uma associação de pesquisadores, de aficionados e de obreiros, os
quais conheçam um ofício manual e se
interessem
pela ciência.”(ibidem)
A revolução anarquista tem como premissa a liberdade
do individuo de forma incondicional, se partimos dessa premissa para compor as
relações sociais, “do individuo livre para a sociedade livre”, como nos diz
Kropotkin, assim também e compreendido as questões econômicas. Não se pode
organizar a economia com base na administração de um estado central que define
as condições de trabalho e a remuneração dos trabalhadores, como se deve
trabalhar quantas horas se deve dispensar no empenho do trabalho, a divisão
feita por economistas liberais e marxistas beirão ao absurdo, compreendendo que
não se pode mesurar de forma justa o valor de cada atividade social de modo a
conceder a cada um o que seria justo ara satisfazer suas necessidades, com
atribuir a determinado produto seu valor em horas de trabalho, ou padronizar a
necessidade de horas de lazer e ocupação para todos de modo a não desagradar ou
comete injustiça com ninguém. Não dessa forma que compreendemos a mudança
econômica sugestionar sobre a economia não quer dizer padronizar as relações
econômicas, porém as livres associações sabem de que forma podem contribuir
para a manutenção da sociedade e como pode ser mais bem aproveitado as riquezas
da comunidade sem tornar necessárias legislações e penalidades para a execução
de tarefas e o bom uso das riquezas produzidas pela comunidade. As práticas
burguesas devem morrer com o sistema capitalista, uma nova sociedade requer
esforço e vontade de todos, na certeza de se estabelecer o melhor para todos.
Almejando promover uma sociedade solidária onde a
liberdade e o respeito as individualidades seja uma prática comum, as ações
positivas para elucidar os problemas cotidianos serão reforçadas pela vontade
de melhor e avançar para uma sociedade superior.
Não em simbologia e ideologias vazias de propósitos
reais, mas superior nas relações e no respeito aos semelhantes, que a igualdade
de direitos não passem de letra morta em legislação imprópria, mas de se
consolide todos os dias na prática das relações de trabalho e de solidariedade
em uma sociedade anarquista.
Conclusão - O anarquismo
O anarquismo é uma
política-filosofica que tem como base a não aceitação de qualquer tipo de poder
e hierarquia como modo de organização social. Com as ações e métodos
organizacionais pautados na livre organização e na iniciativa autônoma e
voluntária.
No que diz Malatesta,
“O anarquismo é o método para realizar a anarquia
por meio da liberdade e sem governo, ou seja, sem organismos autoritários que,
pela força, ainda que seja por bons fins, impõem aos demais sua própria
vontade.”(Anarquia e anarquismo, Errico Malatesta ).
O anarquismo não admite
nenhuma forma de governo ou autoritarismo, visando sempre em suas ações
eliminar qualquer forma de governo e dominação. A hierarquia organizacional não
é tolerada, seja qual for o seu modelo, pela política anarquista. Toda forma de
organização tem que ser necessariamente livre, e aceita de forma espontânea, as
organizações devem ser organizações livres.
Segundo Malatesta,
“A anarquia é a
sociedade organizada sem autoridade, compreendendo-se a autoridade como a
faculdade de impor a própria vontade. (...) a autoridade não somente não é
necessária para a organização social, mas, mais ainda, longe de beneficiá-la
vive dela como parasita, impede seu desenvolvimento e extrai vantagens desta
organização em benefício especial de uma determinada classe que explora e
oprime as demais. Enquanto há harmonia de interesses em uma coletividade,
enquanto ninguém deseja e nem tem meios de explorar os demais, não existem
traços de autoridade.” (idem)
O termo anarquia (sem
governo) teve sua interpretação popular modificada e distorcida de forma
propositada devido a forte perseguição ao movimento operário que tinha como
maior numero de integrantes anarquistas, os patrões e o próprio governo,
principalmente na Europa colaborou para essa confusão tendesse a se tornar senso
comum, com a ação repressora e a forte propaganda alardeou que o anarquismo era
sinônimo de bagunça, confusão falta de ordem, por volta do inicio do século XX
essa ação feita pelos governos e com o apoio da igreja católica, o mau
entendimento do termo se tornou vulgar até os nossos dias. Não sendo
compreendido na sua etimologia e nem tampouco no contexto político que
representa.
Anarquia denota falta
de coibição, ausência de um poder repressor constituído, não falta de ordem.
A anarquia é, em grande
medida, sinônima da mais alta expressão da ordem organizacional, visto que
preconiza uma gestão autônoma de seus participantes, com a livre iniciativa de
cada um para a manutenção do bem comum e da coletividade, sem, no entanto
comprometer os direitos e necessidades individuais. No que não pode deixar de
haver um forte laço solidário entre os atores sociais, porque cada um deve
zelar pelo seu bem estar e pelo bem estar comum em uma sociedade anarquista.
“O anarquista é, por definição, aquele que não quer
ser oprimido e que não quer ser opressor, aquele que deseja o maior bem-estar,
a maior liberdade, o maior desenvolvimento possível para todos os seres
humanos. Suas ideias e suas vontades têm origem no sentimento de simpatia, de
amor, de respeito para com a humanidade: um sentimento que deve ser
suficientemente forte para fazer com que cada um queira o bem dos outros, assim
como quer o seu próprio bem, renunciando as vantagens pessoais cuja obtenção
requer o sacrifício dos outros.”(ibidem)
Para a formatação de
uma sociedade anárquica se faz necessário uma mudança radical e completa do
estado de coisas, ou seja, uma revolução social. A forma como se pode instaurar
uma sociedade anarquista é uma questão que tem diversas opiniões, cujas
proposições deram origem a muitas vertentes desse pensamento político
filosófico.
No que o movimento
operário, do final do século XIX e inicio do século XX, e as organizações
sindicais libertárias foram de grande importância para compor esse debate, no
que surgi como vertente anarquista, de movimento de luta operária, o
anarco-sindicalismo, bem como os muitos teóricos e pensadores anarquistas.
Entre essas questões estão à necessidade de uma configuração definida para as
organizações anarquistas, sua relações econômicas, educacionais e sociais.
Segundo Nascimento,
“Inicialmente, o
sindicalismo, seja qual for sua expressão, constitui um enfoque numa das partes
de atuação do movimento operário (..). Considerando a história das lutas
sociais em sua manifestação moderna, o movimento operário instaurou novas
formas de atuação em todas as dimensões da existência social (..)Na verdade, as
atividades abraçadas pelos trabalhadores dentro do movimento operário e,
principalmente, entre os anarquistas, possuíam um caráter pedagógico e
educacional inegável. (...)A transformação da sociedade, em suas relações
sociais mais diversas, passava necessariamente por uma ação transformadora das
pessoas a respeito de seu mundo interior, individualidade e valores. (...)Ao
envidarem esforços na organização de eventos culturais, científicos
relacionados à situação social do trabalhador, como greves, congressos,
meetings, manifestações públicas, saraus, bailes, piqueniques, encontros
locais, regionais, nacionais e internacionais, teatro; de espaços de atividades
diversas como escolas, bibliotecas, ateneus, universidades populares,
tipografias, ligas, federações, confederações, associações; de atividades no
campo da comunicação social como jornais, revistas, manifestos, panfletos,
boletins e outros(..) Estas ações constituem indícios do estabelecimento de
relações sociais avessas ao princípio de autoridade e afirmativas do princípio
de liberdade.”
O anarquismo propõe
soluções para os problemas de injustiça, autoritarismo e desigualdade social,
balizado na ideia de liberdade e igualdade de direitos a todos. Ao recusar
qualquer forma de poder e de dominação se propicia a possibilidade da
configuração de uma forma superior de organização humana, sem sufrágio
universal sem ditaduras ou fascismo. Negando a suposta necessidade de
dirigentes ou lideres, que conduzem as massas e representam seus anseios
dirigindo a vida de todos.
No que nos fala Elisée Reclus,
“Homens nos quais nasceu o sentimento de igualdade
não se deixam mais governar, aprendem a governar a eles mesmos. Precipitando do
alto dos céus aquele do qual todo poder era suposto descer, as sociedades
derrubam também todos aqueles que reinavam em seu nome. Tal é a revolução que
se realiza.”
O anarquismo preconiza
que todos são capazes de seguir o seu próprio caminho, onde o direito de cada
um seja respeitado e os deveres entendidos como uma relação solidária e
necessária para a manutenção do bem comum, onde as atribuições de cada um
sempre sejam escolhidas de forma autônoma, sem subordinação a nenhum tipo
autoridade constituída ou norma institucionalizada que reprima a vontade do
individuo e seu inalienável direito de ser livre.
Segundo Bakunin,
“(..)o
homem, o último e o mais perfeito animal desta terra, apresenta a
individualidade mais completa e mais notável por causa de sua faculdade de
conceber, concretizar, personificar, de um certo modo, em sua existência social
e privada, a lei universal. Ela sabe, enfim, quando não está viciada pelo
doutrinarismo teológico ou metafísico, político ou jurídico, ou mesmo por um estreito
orgulho, quando ela não é surda aos institutos e às aspirações da vida, ela
sabe, e esta é sua última palavra, que o respeito ao homem é a lei suprema da
Humanidade, e que o grande, o verdadeiro objetivo da história, o único
legítimo, é a humanização e a emancipação, é a liberdade real, a prosperidade
de cada indivíduo vivo na sociedade. A menos que se recaia nas ficções
liberticidas do bem público representado pelo Estado, ficções fundadas sempre
sobre a imolação sistemática do povo, deve-se reconhecer que a liberdade e a
prosperidade coletivas só existem sob a condição de representar a soma das
liberdades e das prosperidades individuais.(Deus e o Estado, Bakunin).
O principio da não
doutrinação é um dos conceitos que diferem o anarquismo das ideologias em
geral, não se propões uma doutrina anarquista, mas sim sugestões de como se
organizar com base em determinados princípios como a liberdade individual, a
igualdade universal e a justiça social. O anarquismo não é uma ideologia pelo
fato de não estabelecer doutrina que compromete a realidade social em uma
concepção de mundo dogmática embasada em pontos de vista de seus criadores.
Assim como o pensamento
é heterodoxo, não havendo limites para o entendimento do mundo e como ele se
apresenta para nós, o anarquismo não se limita a uma interpretação absoluta da
realidade, o que tornaria seu ideário engessado em uma ideologia, a realidade
não se apreende, mas se compreende, se a realidade é heterodoxa as proposições
de como a sociedade devem ser organizadas somente podem ser desenvolvidas de
forma heterodoxa. Sempre respeitando os princípios de igualdade, liberdade e
justiça social.
Não existe um escritor
ou teórico que se deva seguir sua ideia no entendimento libertário, ou como
diria Platão o filósofo rei, o ideário anarquista rejeita todo alinhamento
hierarquizado não há gurus, lideres, pensadores, chefes ou qualquer outro tipo
de iluminado profeta ou dirigente. A liberdade de pensamento é fundamental para
a promoção do anarquismo.
Os teóricos anarquistas
são em grande medida, militantes e ativistas políticos que deram sua
contribuição a construção do ideal através de estudos e considerações sobre a
diversidade politica filosófica, sem comprometer o imperativo da liberdade
principio fundamental na teoria anarquista, e que é um direito inalienável, a
contribuição dos pensadores anarquistas foram sempre de grande valor para o
aprimoramento do ideal anarquista e como norteadoras do movimento anarquista,
no entanto sem idolatria ou discipulado, os escritores anarquista foram apenas
companheiros de uma luta social contra o autoritarismo e a exploração.
Como não se configura
como religião ou ideologia não tem comprometimento com doutrinas dogmáticas,
seguindo um fluxo de ideias livres e desinibidas por parte de seus teóricos não
possuindo formatação definitiva ou método impositivo na construção de suas
teorias seja econômica, política, educacional ou social.
O que torna suas
proposições como reflexo de suas experiências e compreensões empíricas,
somando-se ao desenvolvimento de teorias racionais propositivas e não
doutrinárias, com espaço para adaptações dentro da conjuntura histórica e
sociológica a que se faça necessário para o convívio social de forma justa e
igualitária.
O anarquismo é um
pensamento político que vai além de um momento histórico transcende a cultura,
os costumes e a economia de uma única época.
Não propõe um modelo
com base nos conceitos formulados pela interpretação da realidade momentânea,
dos hábitos e costumes de um povo ou tribo, nem tampouco nos vícios da
civilização, mas enfoca a necessidade de uma socialização que preconize a
felicidade e o bem estar de todos, alijado dos preconceitos e dos valores
arcaicos baseados nos costumes e nos interesses de uma oligarquia dominante.
Cada indivíduo social
deve ser capaz de compreender sua função social, responsável pela construção de
sua própria razão e dos seus valores, a participação do indivíduo não está
apenas na produção de bens de consumo, mas também na construção intelectual da
sociedade, seus hábitos sua cultura seus valores éticos e morais. Todos os
indivíduos devem possuir ferramentas intelectuais que propicie formular juízo
de valor sobre a realidade que participam ter autoconsciência e a liberdade de
ser de forma plena.
Se formos de fato o
resultado de nossas escolhas somente podemos ser de fato se houver liberdade
para a execução das escolhas que fazemos, de forma individual e sem a
inferência das imposições feitas através das convenções sociais que são feitas
antes mesmo do individuo nascer.
A liberdade de escolha
potencializa a própria condição do ser enquanto individuo social, quando
compreende que a igualdade se consolidada na comparação do diferente e não pela
similaridade, mas sim pela diferença que é próprio de cada individuo e a solidariedade
e a ajuda mutuo fomenta a construção de uma sociedade igualitária. Pois é no
exercício das nossas diferenças que nos tornamos verdadeiramente igual.
Qualquer forma de
governo é vista pelos anarquistas como autoritário e ilegítimo, pois apenas
perpetua a dominação e a exploração do homem pelo homem, e mantém as
prerrogativas de um a elite dominante em detrimento do resto da população. A
politica organizacional anarquista é também chamada de socialismo libertário,
onde a existência de um governo gestor não é admitida nem mesmo para uma
transição de sistema, o que já foi preconizado por vertentes socialistas
autoritárias que afirmavam que apenas após uma gestão provisória de um estado
operário poderia alcançar condições para uma mudança socialista de fato. De
pronto essa ideologia não condiz com os ideais do socialismo libertário, visto
que a liberdade não pode ser exercida através do emprego da coação da
liberdade, da violência legal de um estado instituído, somente se pode exercer
a liberdade na real prática da liberdade, não se socializa por decreto, mas por
ação socializadora de todos.
A organização social se
da de forma livre e sem normas e regras impositivas, os bens de consumo e as
propriedade são socializadas, dentro do entendimento de que se todos trabalham
todos tem o direito de usufruir dos bens de consumo produzidos na sociedade.
Sem que aja para isso a necessidade de autoridades reguladoras ou qualquer tipo
de liderança ou governança, as organizações em todas as esferas sociais devem se
feitas de forma livre, e assim como se compõe devem se desfazer, sem pretensas
obrigações e imposições desnecessárias ao bom convívio e a manutenção do bem
estar social. O que apenas objetiva a garantia plena da liberdade de escolha
dos agentes socais, tanto no que vão fazer como irão se associar.
A estrutura social deve
ser feita por cooperativas e coletividades espontânea e de acordo com a
necessidade real das pessoas, visto que são elas mesmas que irão se
representar. As terras devem ser coletivizadas operando uma melhor integração
entre quem planta e vive da terra e seu meio de produção e as tecnologias
agrícolas. os saberes e técnicas devem ser compartilhados, visto que não
havendo a imposição de mercado para determinar patentes sobre o conhecimento adquirido,
mas sim o imperativo da socialização da informação e do conhecimento. As
indústrias e os de mais meios de produção também devem ser tomados como bem
comum e não mais de propriedade privada e particular, o anarquismo abomina a
propriedade privada dada as suas consequências de acumulação desnecessária de
bens para alguns e a escassez total par a maioria. Os investimentos não
dependem de indicadores econômicos com base no lucro fácil, mas sim na demanda
e na necessidade do consumo coletivo. Todas as esferas da sociedade devem ser
gestadas pela própria coletividade de forma independente e livre.
Cada associação deve
ser feita de forma espontânea e livre não obrigando seus membros ao comprimento
de nenhuma regra ou tarefa que não seja feita de livre e espontânea vontade
onde até mesmo sua participação ou permanência não sofrera nenhuma imposição ou
coerção.
A gestão social deve
ser feita através desses grupos e associações livres, visto que é somente assim
que se pode exercer a vontade individual em uma coletividade, não pela
representação, mas pela ação direta de cada ente social. Os grupos, as
cooperativas e associações devem ser organizados para suprir as necessidades da
sociedade em esfera regional ou federal. Com uma grande interação entre todos,
para buscar sempre uma melhor conformidade das necessidades econômicas e
culturais de cada grupo social, bem como dos demais setores da sociedade,
cooperando também de acordo com a necessidade de cada um dos grupos federados
nos diversos setores da sociedade como saúde educação e urbanismo.
A proposição anarquista
prima pela destruição total do estado não apenas na sua sistematização politica
mas em todas as suas manifestações tanto físicas como psicológicas, o poder que
o estado e a cultura de dominação exerce sobre os indivíduos deve ser
considerado um inimigo a ser aniquilado, para que uma revolução libertária seja
feita deve se ter a consciência que a cultura arcaica de dominação está além
das instituições que detém o poder, e que cada individuo deve se libertar dessa
condição imposta pelo estado de coisas, as relações de poder devem ser abolidas
de forma radical em todas as instancias sociais. Suprimindo a arquitetura
hierárquica nas relações sociais e aniquilando o culto ao poder os indivíduos
poderão compreender a sua real condição e seus deveres e direitos na sociedade
que participam. Somente assim haverá uma completa destruição do estado e de
suas instituições proporcionando a condição necessária para o pleno
reconhecimento da liberdade e de seu exercício de forma plena.
Segundo o ideário
anarquista o estado não é necessário para a organização da sociedade, sendo o
corpo social capaz de se auto-organizar sem a necessidade de nenhuma estrutura
de poder e instituição autoritária
“Está claro que
todos os chamados interesses gerais que o Estado deveria representar são de
fato uma abstração, uma ficção, uma mentira. Estes interesses, na realidade,
não são nada mais que a negação total e contínua dos interesses reais das
regiões, comunas, associações e da grande maioria dos indivíduos submetidos ao
Estado. O Estado é um enorme matadouro, um vasto cemitério no qual, sob a
sombra e o pretexto de abstração, todas as reais aspirações e forças ativas de
um país deixaram-se enterrar generosa e pacificamente.” Bakunin.
tária, o que
proporcionaria a igualdade de direitos e deveres entre os indivíduos.
“Está claro que
todos os chamados interesses gerais que o Estado deveria representar são de
fato uma abstração, uma ficção, uma mentira. Estes interesses, na realidade, não
são nada mais que a negação total e contínua dos interesses reais das regiões,
comunas, associações e da grande maioria dos indivíduos submetidos ao Estado. O
Estado é um enorme matadouro, um vasto cemitério no qual, sob a sombra e o
pretexto de abstração, todas as reais aspirações e forças ativas de um país
deixaram-se enterrar generosa e pacificamente.” (idem).
O abandono da cultura
hierarquizada do antigo sistema teria sua origem através do avanço da
conscientização coletiva proporcionada pela educação libertária. Para os
anarquistas o autoritarismo e a hierarquização nas relações de trabalho não
favorecem a produção ou proporcionam melhor rendimento econômico somente tornam
o ambiente de trabalho desconfortante e as relações insuportáveis. Favorecendo a
corrupção e o favorecimento em nada tendo a ver com produtividade, apenas
coibindo uma condição natural do ser humano que é a organização livre e a busca
pela melhor forma de se executar as tarefas cotidianas a criatividade, o
esforço coletivo e o apoio mutuo.
A conscientização
somente se processa após a com preensão da condição de igualdade entre os seres
humanos bem como sua realidade coletiva, o que é algo inato, apenas tendo sido
suprimida pelo estado e as relações de poder que foram cultuadas durante
séculos nas civilizações.
No entanto a liberdade
é um sentimento inconfundível e latente em todos os seres humanos e é a ideia
preconizada pelo ideário anarquista como fundamental para o exercício da vida
social.
A liberdade é um
imperativo nos princípios do anarquismo, embora aja várias vertentes de como se
pode organizar e constituir uma sociedade anarquista, a liberdade é fundamental
e imprescindível na sua composição o que torna a liberdade uma fusão todos os vértices estruturais do
ideário anarquista. A liberdade deixa sua condição simbólica vista de forma
apenas contemplativa e passa a ser algo concreto vivenciado e cultuado na
sociedade.
A concreta execução da
liberdade passa a ser indispensável para o desenvolvimento social e individual,
para que uma sociedade possa ser considerada anarquista se faz imperativo o
exercício da liberdade de forma real, bem como seus ideais e ações tem que
condizer com essa qualidade indispensável ao anarquismo.
A liberdade deve ser
compreendida aqui através de um amplo conceito, não apenas de forma abstrata,
mas na sua execução, de como escolher e fazer suas escolhas, na liberdade de
expressão, de gênero, liberdade de ação de interação, liberdade de participar e
de partilhar, de usufruir e contribuir com os recursos produzidos pela ação
humana e os recursos naturais, liberdade de expressão, liberdade cultural e de
criação, liberdade intelectual. A liberdade não se processa na coação do
direito do outro, portanto sua prática somente pode ser conciliatória, não
sendo possível exercer a liberdade impondo uma vontade individual a outro ente
social, porém a liberdade não acaba no direito do outro, mas compõe uma gama
ainda maior de possibilidades de construção coletiva, de livre iniciativa, de
participação mutua de apoio, bem como liberdade de relação tanto afetiva e
sentimental como de amizade possibilitando uma interação verdadeiramente livre
e libertadora. A liberdade de produção
de todos os bens da coletividade tanto
intelectuais como materiais e sua livre socialização.
No entanto dentro do
ideal anarquista, a liberdade somente pode ser exercida com a total ausência de
autoritarismo e imposição ou gerenciamento das ações individuais ou coletivas.
O anarquismo somente se processa na ausência total de autoritarismo, hierarquias,
chefes, sem lideres ou representantes que possam exercer seu poder ou domínio
de uma pessoa sobre a outra, ou qualquer esfera de poder seja executivo
judiciário ou em qualquer outra manifestação de poder.
O socialismo libertário
tem sua funcionalidade totalmente vinculada a ausência do poder centralizado ou
em qualquer de suas manifestações, burocrático ou absolutista, defendendo uma
forma de organização pautada na livre iniciativa e na autogestão. O que
possibilita assim o exercício real da liberdade individual em condição de
igualdade e de forma justa para todos os entes sociais.
A meta primeira do
anarquismo é a aniquilação do estado e de suas instituições de poder, desde sua
estrutura econômica (capitalismo), a sua arquitetura burocrática (órgão públicos
e suas repartições), bem como seus órgãos de repressão como a policia e o
exercito, suas instituições de dominação e alienação (igreja e instituições de
ensino). Acreditando que somente assim as pessoas poderão exercer sua liberdade
de fato e viver de forma plena. O que somente pode ser alcançado através de uma
revolução, pela ótica anarquista, uma revolução de fato não uma insurreição
conduzida por partidos ou grupos ideológicos que nada fazem além de trocar um
instrumento de poder por outro, destituir um grupo ou classe social do domínio
da sociedade para estabelecer outro, isso não é a revolução que o anarquismo
preconiza, a revolução social que o anarquismo propõe deve atingir todas as
camadas da sociedade não sendo apenas de condução a mudança, mas sim de mudança
desejada pela sociedade preconizada pela ação de cada individuo e de toda a
sociedade, no que se dará o desaparecimento do autoritarismo do meio da
sociedade de forma definitiva. Não podendo haver períodos de transição ou
intermediação no processo revolucionário, a mudança deve ser feita por todos e
de forma decisiva, sem atalhos ou ponderações sobre pena de se manter viva os
instrumentos de dominação do antigo regime.
De acordo com o
pensamento anarquista os indivíduos devem exercer seu papel social de forma
ativa e pessoalmente não delegando a ninguém responsabilidade ou direito que
seja seu cada um de acordo com a sua necessidade e a cada um de acordo com a
sua capacidade, os problemas devem ser resolvidos de forma direta e sem intermediações.
O processo de intermediação ou representatividade ocasionaria a volta dos
antigos meios de resolução dos problemas sociais então abolidos como o estado e
suas instituições. As assembleias e os mutirões são vistos como formas de ação
direta e ação coletiva, o que agem com facilitadores de resolução de problemas
regionais.
Para uma gestão
coletiva, no entanto se faz necessário uma composição solidaria geral, com uma
coletividade harmonizada através do apoio mutuo e a preocupação de todos com o
bem comum.
A proposta anarquista
aponta os laços solidários e a ajuda mutua como fator fundamental para a
manutenção de qualquer ajuntamento social, desde animais inferiores a
civilização humana, e com base nos estudos feitos por um pensador anarquista
(P. Kropotkin), a principal condição de sobrevivência de qualquer espécie na
natureza é justamente essa capacidade humana de apoiar-se mutuamente e sua
tendência a ser solidário com seus pares de forma espontânea e livre, e não a
coação e a imposição de forma autoritária como defendem alguns intelectuais
liberais.
Com base na ideia de
que através da solidariedade e que podemos suplantar o estado e sua dominação
opressora o anarquismo propõe o fim de toda forma de discriminação, segregação
e discriminação seja ela por cor raça ou etnia compondo assim uma única espécie
que componha o gênero humano, a espécie humana. O que caracteriza o anarquismo
como uma politica filosófica global, não reconhecendo fronteiras físicas ou políticas
impostos pelos governos e estados autoritários.
As divisões sociais são
verdadeiras barreiras para a socialização, desde a divisão de classes até a
divisão de nações, o que o anarquismo afirma ser uma forma de dominação dos
estados autoritários e devem ser descartados
tanto por não ter nenhuma funcionalidade social como por serem verdadeiros
entraves para a vida na sociedade vista de um âmbito humano e global, a ideia
de globalização sempre foi manifesta pelos ideal anarquista, porém a
globalização que o anarquismo deseja nada tem a ver com a globalização do
estado moderno que é apenas vinculada a acordos comerciais e de fim financeiro
e econômico, a globalização anarquista é o que vulgarmente se chama de aldeia
global, sem distinção de riqueza ou interesses comerciais com uma integração
entre todas as comunidades do planeta em prol do bem comum e do progresso
coletivo, tanto econômico, intelectual e culturalmente, respeitando as culturas
e suas diversidades.
As divisões sociais são
negativas para a formação de uma sociedade justa e igualitária visto que gera
conflitos impróprios para a sociedade e propicia incompatibilidades na
coletividade e para a ação solidária, o que torna descartável qualquer tipo de
divisão social. Todos devem ser compreendidos moralmente iguais como o são
naturalmente, sem que para isso seja considerado sua localização espacial ou
características genéticas proeminentes.
A mensuração do valor
das ações humanas, pela ótica anarquista, não tem relação a que parte do mundo
o indivíduo seja proveniente, suas manifestações virtuosas, seus fracassos e
vitórias são indiferentes a cor raça ou local de nascimento. Todas as
propriedades relevantes na formação do caráter do individuo não estão
relacionados com a sua localização geográfica, sim com suas escolhas durante a
vida.
A formação de cada
indivíduo esta propensa a ser influenciada de acordo com o universo cultural em
que ele esta inserido, o que não torna o espaço geográfico um determinante, mas
a sociedade que com ele convive, cada civilização tem a sociedade que escolhe
que deseja durante a constituição da sua história.
O inerente caráter
global do ideário anarquista o faz uma politica filosófica totalmente distinta,
não sendo baseado em interesses capitalistas ou imperialistas, com uma visão
globalizada sem impor fronteiras políticas, comerciais ou de qualquer natureza
ideológica, afastando qualquer tensão proveniente de disputas por território ou
lucro comercial, o anarquismo propõe uma globalização integral, onde tudo seja
mutuamente compartilhado entre todos, e não apenas prerrogativas de alguns ou
de determinados países que tem suas estruturas industriais e comerciais
privilegiadas e detendo o monopólio e grande vantagem nas relações comerciais
internacionais.
A globalização
anarquista é uma ação mutua e solidária, que mobiliza todas as atividades
sociais, promovidas nos diversos setores
da sociedade em busca da melhor maneira de se originar o bem comum. Integrando
o conhecimento e as tecnologias produzidos nas diversas partes do mundo a fim
de aperfeiçoar as técnicas de produção para obter um melhor aproveitamento na
produção e distribuição dos bens de consumo.
O que devera ocorrer de
forma justa e igualitária sem concorrências desnecessárias e disputas
comerciais com uma hegemonia econômica.
O anarquismo advoga a
favor da insatisfação dos indivíduos perante sua condição de subordinados aos
sistemas autoritários, a qualidade de insurgente é uma característica
proeminente no ser humano que se apresenta em situação de opressão, e através
da revolta e da insurreição os agentes sociais podem deslumbrar um caminho
melhor a seguir, livrando-se do jugo do autoritarismo seja ele empregado de
forma física ou psicológica. Os anarquistas desenham essa característica,
descontentamento humana, como ponto basilar para a autoconsciência da realidade
do ser.
O que para todas as
ideologias é algo visto como inconveniente, a subversão, para o anarquismo é
peça de grande importância para a construção do entendimento do ideal
anarquista, os resignados não podem compreender a verdadeira função da
revolução, ação necessária para a organização de uma sociedade anarquista.
Somente através da
insatisfação total o ser humano passa a ver além, e passa a buscar novas perspectivas, é nessa
revolta que o anarquismo se apoia para a decomposição dos valores arcaicos que
se baseiam na cultura da dominação e da exploração do homem pelo homem, o que é
visto como inconveniente pelas ideologias autoritárias para o anarquismo é um
motor motivacional um fundamento humano de grande valor. Bastando para isso
alterar a subversão e a revolta em ações
efetivamente producentes na conflagração de uma transformação social profunda e
radical.
Um assunto recorrente a
composição de uma sociedade anarquista é a harmonização dos conceitos e
opiniões entre as pessoas e como se cultiva a ordem social, visto a condição
primordial do ideal anarquista que é a liberdade, o mote dos sistemas
autoritários é justamente a necessidade de um poder centralizado para organizar
e coordenar a sociedade, gerenciando e intermediando os conflitos de
interesses, em uma sociedade em que todos têm os mesmos direitos e a liberdade
não pode ser cerceada como manter a ordem? O entendimento sobre a liberdade é
fato discernido pelos anarquistas como dito anteriormente, como ato de exercer
a liberdade e não a ação de impor desejos particulares, visto que a ação de
impor algo é por si só antagônica a prática da liberdade. Não obstante, a ordem
social somente pode ser exercida em uma sociedade anarquista através da
conformidade dos indivíduos com sua condição de seres capazes e autônomos, na
gestão de suas vidas.
A divulgação do
conhecimento e o acesso à informação para todos é algo preconizado pelos
anarquistas como fundamental para a formação de pessoas capazes de formar seus
próprios conceitos e fazer juízo de valor sobre as ações e coisas dentro do
ambiente social, tornando-se autossuficientes na gestão de suas vidas. Para
tanto a proposição anarquista perpassa pela ideia de educação libertária e
educação integral.
A educação libertária
não se baseia na doutrinação dos indivíduos ou na instrução utilitarista e
tecnocrata, a educação integral tem como expositor o teórico anarquista M.
Bakunin que acreditava que através do acesso a informação os indivíduos sociais
se tronariam menos propensos a serem ludibriados pelos governos e pela igreja
com seus dogmas e falácias, tornando-se pessoas mais instruídas nas diversas
ciências e principalmente coma cesso a pesquisa e a filosofia, bem como a
musica e as artes. A educação libertária não segue nenhuma metodologia em especial,
mas corrobora a necessidade do autodidatismo, e da aquiescência da diversidade
cultural. A educação libertária promoveria o ambiente social de pessoas capazes
de desenvolver uma organização social harmoniosa e com absoluto desenvolvimento
humano.
A ação efetiva da
organização social anarquista se materializa na confrontação de ideias de forma
dialética concretizando sua arquitetura, nunca de forma definitiva e absoluta,
sempre em constante integração com a realidade e o ambiente social.
O ambiente social em
uma sociedade anarquista tem por propriedade iminente a solidariedade máxima e
apoio mútuo de todos os indivíduos, buscando a motivação meritória das
atividades diárias e no desempenho dos trabalhos dentro do corpo social, sem o
que ocorre no modelo representativo de organização social permeado de
prerrogativas e favorecimentos na hierarquização do trabalho e na divisão de
classes.
O anarquismo quebra
toda a cadeia de dominação desestruturando a arquitetura de poder e de divisão
de classes, a classe dos endinheirados e dos sacerdotes, os lideres políticos e
espirituais não encontram lugar em uma sociedade anarquista.
Todos os indivíduos são
considerados iguais em direitos e deveres suas obrigações não são mesuradas
pela sua atividade especifica ou grupal nem mesmo pela sua nacionalidade, cor,
raça, gênero, características físicas, habilidades especiais ou qualquer outra
diferenciação física ou psicológica, diferenças essas comuns a todos os seres
humanos, outro sim a igualdade se compreende no simples direito de ser, cada
individuo é único e inigualável enquanto ser, no entanto a igualdade social se
processa na garantia do respeito às diferenças e do exercício pleno de suas
características individuais e preferências individuais.
A igualdade comumente
feita pelos teóricos liberais assim como Thomas Hobbes, teórico defensor do
modelo absolutista de governo, é a comparação feita pela similaridade
identificando a semelhanças com o intuito de estabelecer um padrão de
semelhança ou uma relação de repetição podendo assim estabelecer uma
compreensão do que viria a ser o igualmente justo.
Porém a igualdade
compreendida dessa forma não pode ser vista nem mesmo nos objetos concretos,
porque cada coisa é uma coisa particular e única e sua igualdade justa e idêntica,
seria o mesmo que admitir ser o mesmo e não outra coisa.
A igualdade de direitos
também segue essa linha nas ideologias e conceitos de organização social onde a
liberdade é tida como um problema na manutenção da ordem social. O igual justo,
dentro de um entendimento de moralidade, não pode ser feito com a perspectiva
de similaridade vista sua impossibilidade no plano real numa perspectiva de
justiça.
A deformação no conceito de igualdade
contamina toda a estrutura dos valores idealizados pelas ideologias
autoritárias e representativas.
homem contra o homem é
fato gerado em uma sociedade pautada nessa compreensão de organização social,
que não entendem que igualdade não é a comparação de medidas, comparações
numéricas ou mensurar condições. A igualdade social é a igualdade de direitos e
deveres é a justiça pelo direito de exercer nossas diferenças, e é nesse
direito ao exercício de ser que nos tornamos todos iguais.
A igualdade vista pela diferença compreendida
pela diferença proporciona outro anglo de uma construção ética, não do homem
contra o homem, mas sim do homem a favor do homem de uma viabilidade de
socialização mútua e construtiva, não tendo em mim o que vejo no outro podemos
então compartilhar para uma construção de valores melhores ricos em
entendimentos.
Por essa deficiência na perspectiva de
igualdade de Hobbes que sua solução de estado gestor aparece como solução, o
que para mim é um absurdo o estado não é capaz de manter nem mesmo suas
estruturas mínimas de forma justa, muito menos gerenciar conflitos sociais.
O igual uso dos bens de
consumo a todos os entes sociais sem distinção, privilégio ou cerceamento, bem
como ao acesso a informação e as ciências perpetuando a garantia plena do
exercício das diferenças e na solidariedade e do respeito mútuo.
Os conflitos de
interesses devem ser resolvidos entre as partes envolvidas através do debate e
da troca de ideias, a justiça é feita na sua concepção primeira da justa
posição das coisas, sem privilegiar nenhuma das partes e sem intermediação de
leis herméticas ou dogmáticas, que em nada tem a ver com a realidade dinâmica
da vida social. As negociações devem seguir para o melhor entendimento e na
manutenção do bem comum salvaguardando sempre os direitos individuais, com o
dialogo e a racionalidade como mediadoras, sem a necessidade de juízes e
interventores.
Os indivíduos que não
concorrerem com a harmonia social e a preservação da paz e do bom entendimento
devem procurar outro lugar para viver, visto que a sociedade anarquista não
aquiesce com a imposição e o cerceamento da liberdade.
Os anarquistas apontam como resolução da
maioria dos conflitos sociais a ausência da competitividade própria do sistema
capitalista, onde todos competem contra todos, em uma sociedade anarquista
todos convergem a favor do bem estar comum. E visto também o fator de
consciência individual com o incentivo a busca pelo conhecimento e
autodidatismo, o que proporcionara uma consciência social em alto grau. A ganância,
o egoísmo, ostentação, corrupção, roubo o acumulo desnecessário de propriedades
e bens perderia totalmente sua funcionalidade dando lugar a autocrítica, a
moral individual, a ética a solidariedade e o respeito mútuo.
Para os anarquistas o
ser humano não pode desenvolver-se plenamente sem a liberdade que é principio
basilar de uma sociedade anarquista, e o ser em uma condição de pura liberdade
tende a consolidar suas aspirações e buscar o bem comum e a felicidade
individual de forma mais intensa e eficaz.
Em uma sociedade
anarquista o remédio para as desarmonias e os conflitos sociais é justamente a
liberdade e a igualdade de direitos, dentro de um clima de constante
solidariedade e fraternidade os indivíduos se tornariam propensos a cultuar
essas práticas, deixando de lado velhos hábitos e atividades desapropriadas e
calamitosas.
Assim como não é
natural que alguém procure a própria destruição, salvo em casos de distúrbios
psicológicos passivos de ajuda médica, o individuo que conviver em um ambiente
solidário e fraterno naturalmente procurará adequar-se a essa nova realidade.
Em uma sociedade
anarquista a justiça não se impõe se prática cotidianamente de forma dinâmica
adequando as ações a cada realidade, assim com é a própria vida.
As codificações de
conduta sempre ressaltadas de punições são descartadas pelo ideal anarquista,
visto que sua funcionalidade não encontra reflexo na realidade vivenciada, mas
sempre foi utilizada para privilegiar a classe dominante e nunca para favorecer
a mediação de conflitos ou estabelecer a igualdade de fato.
Os intelectuais quase
sempre estiveram prontos a servir as classes dominantes e os sacerdócios,
eficazes na construção das leis e nas justificativas teóricas, bem como na
necessidade de ideologias que privilegiam essas castas sociais e do imperativo
de suas funcionalidades.
Os intelectuais abordam a
questões sociais por uma ótica particularmente voltada a privilegiar o grupo
social que eles pertencem
Uma critica que denota essas
considerações é feita por Antônio Gramsci.
A princípio a primeira questão a
ser aborda é a autonomia do intelectual na sociedade, ele é um grupo autônomo
ou apenas parte de outro grupo social? O elucidar dessa questão é apontado por
Gramsci como a existência de diversos seguimentos intelectuais na sociedade e
cada um representando a classe em que está inserido, e demonstra essa ideia
através de uma contextualização da história focando na formação dos movimentos
intelectuais e suas categorias.
Segundo Gramsci existe duas
formas de intelectuais que merecem destaque, na sua abordagem, que são os que
representam os interesses das classes que detém o poder econômico, em
determinado período os senhores feudais e posteriormente os empresários e
comerciantes e os possuidores das prerrogativas econômicas. A sociedade é
movida por uma necessidade essencial a de produção econômica, e o grupo social
que detém as prerrogativas econômicas tornam-se possuidora poder político e
militar, e a classe dos intelectuais eclesiásticos
que durante muito tempo exerceram grande influência em todas as camadas sociais
e determinaram os rumos das políticas sociais e econômicas.
A classe intelectual
é formada de forma paralela a essas esferas sociais, bem como influem na
formatação das tecnologias que servem a essas classes que detém o poder e de
certa forma influem na história e no desenvolvimento da sociedade.
Se colocando quase
sempre a disposição dos mandatários e das classes dominantes fomentando os
fatos históricos comentados por Gramsci os cientistas, filósofos e teóricos
formam o conjunto intelectual da sociedade.
“Uma das mais marcantes características de todo grupo social que se desenvolve
no sentido do domínio é sua luta pela assimilação e pela conquista
"ideológica" dos intelectuais tradicionais, assimilação e conquista
que são tão mais rápidas e eficazes quanto mais o grupo em questão elaborar
simultaneamente seus próprios intelectuais orgânicos.” (Gramsci).
Segundo o autor cada
momento histórico é necessário e cada intelectual é, em grande, medida o senhor
intelectual de sua época, para Gramsci cada momento tem em si as bases
necessárias para promover o período histórico subsequente, o que o caracteriza
com um pensamento puramente marxistas no que se refere a esse pragmatismo
histórico.
O que limita esse
intelectual e qual é o alcance de suas definições intelectivas?
A critica intelectual
percorre um processo de analise de suas próprias definições intelectivas o que
é em si mesmo é um erro metodológico, visto que deveria procurar compreender
suas considerações do conjunto das relações sistemáticas.
Gramsci acredita que
cada ser humano é um intelectual, embora em potencial, visto que somos todos
capazes de formular conceitos e produzir pensamentos, porém a distinção se faz
entre o trabalhador técnico e o cientista o pensador o filósofo. “Todos
os homens são intelectuais, poder-se-ia dizer então: mas nem todos os homens
desempenham na sociedade a função de intelectuais” Na medida em que um grupo de intelectuais formam as ideologias e os
conceitos, se tornam os detentores do pensamento de sua época, e formam as
superestruturas com base puramente ideológicas.
Segundo Gramsci,
“Formam-se assim,
historicamente, categorias especializadas para o exercício da função
intelectual; formam-se em conexão com todos os grupos sociais, mas
especialmente em conexão com os grupos sociais mais importantes, e sofrem
elaborações mais amplas e complexas em ligação com o grupo social dominante.
Uma das mais marcantes características de todo grupo social que se desenvolve
no sentido do domínio é sua luta pela assimilação e pela conquista "ideológica
“dos intelectuais tradicionais, assimilação e conquista que são tão mais
rápidas e eficazes quanto mais o grupo em questão elaborar simultaneamente seus
próprios intelectuais orgânicos.”(idem).
Esses intelectuais são
uma classe distinta em sua formação, no entanto, coabitam com os detentores do
poder econômico, visto que esses são historicamente seus mecenas, fomentando a
classe de intelectuais aos seus serviços, na produção de novas tecnologias bem
como formas mais apuradas de dominação.
A escola forma pessoas
de formas diversas para suprir essas necessidades sociais, tanto para produzir
o intelectual técnico que ira servir para o trabalho na indústria e bem como
para os diversos seguimentos sociais.
O sistema atual de
organização social o capitalismo com base na divisão do trabalho segundo Taylor
é um exemplo de construção intelectual a serviço da dominação, onde se
construiu uma nova forma de escravismo e alienação do trabalhador, em uma nova
forma de relação entre senhor e empregado.
E é na escola que
essa distinção se principia na distinção programada entre qualidade e
quantidade do conhecimento ministrado e da formação intelectual.
Este modo de colocar a
questão entra em choque com preconceitos de casta; é verdade que a própria
função organizativa da hegemonia social e do domínio estatal dá lugar a certa
divisão do trabalho e, portanto, a toda uma gradação de qualificações, em
algumas das quais não mais aparece nenhuma atribuição diretiva e organizativa:
no aparato da direção estatal e social existe toda uma série de empregos de
caráter manual e instrumental (de ordem e não de conceito, de agente e não de
oficial ou funcionário, etc.); mas, evidentemente, é preciso fazer esta
distinção, como é preciso fazer também qualquer outra.
No entanto os
intelectuais são os condutores a serviço das classes dominantes, exercem um
papel fundamental na execução da hegemonia social, onde é necessário fomentar o
exercício das atividades subalternas e a governança política, o demonstra a
necessidade de ideologias para a formação de conceitos universais tornando a
colaboração das massas trabalhadoras ações espontâneas e constantes, ainda que
estejam alienadas de seus direitos e exploradas em seus deveres.
Importante salientar
a distinção que o autor faz entre os intelectuais provenientes das camadas
sociais diversas, essências na manutenção das tecnologias, e na que produção de
conhecimento de forma inerente a sua condição ambiental, e os intelectuais que
não são trabalhadores técnicos, mas estão a serviço da governança e do aparado
de poder.
Faz uma clara
distinção entre o intelectual que produz conhecimento pelo seu oficio, e as
organizações intelectuais que se formam dentro das camadas sociais que estão no
poder político e econômico. Lembrando a criação de superestruturas como a
criada na idade média pelos eclesiásticos que entre outras medidas se tornaram
detentores do conhecimento tornando as pesquisas científicas proibidas e
fomentando a alienação das massas a serviço de assegurar o poder político e
econômico.
Gramsci faz uma analise detalhada do
desenvolvimento intelectual em diversos países como Inglaterra, Alemanha,
França, Rússia, Estados unidos entre outros, de forma global avalia os
processos históricos e econômicos no mundo e a organização social dominante
para o exercício das funções subalternas da hegemonia social, aponta para uma
camada social de intelectuais que representam um período histórico determinado
e trabalham a seu serviço, dando como exemplo os positivistas que produziram
muitas obras para firmar as novas relações de trabalho e sociais.
A proposição de
Gramsci sobre a formação da classe de intelectuais tem como principal argumento
a estrutura conceitual formada por Hegel sobre a construção da história e da
cultura, porém com forte influência de Karl Marx na medida em que se denota um
fatalismo histórico e um pragmatismo evidente nas afirmações de Gramsci.
Acredito que toda
manifestação social que se desponta como grupos distintos ou classe especifica
tem causas diversas, muito embora Gramsci tenha razão no que se refere à
inferência do poder econômico e político em determinados seguimentos sociais
principalmente nas responsáveis pelo fomento de tecnologias e construção de
políticas ideológicas (intelectuais). No entanto não percebo uma hegemonia
intelectual predominante, mas sim uma diversidade, que é a meu ver, uma
condição necessária para garantir os saltos na ciência e na construção de
políticas sociais mais justas e igualitárias longe de ideologias pragmáticas e
engessadas em dogmas e interesses classistas, seja essa classe representada por
grupos de intelectuais ou por lideres com nomes pomposos como representante da
classe operária.
Sempre haverá grupos
de intelectuais a serviço das classes dominantes, tanto para aprimorar as
técnicas de dominação e controle da economia como para manter o poder político
e o controle da sociedade, essa é uma condição essencial em um sistema
representativo e de divisão de classes, seja ele absolutista ou representativo.
O avanço no
pensamento político se dá através das vozes que destoam dessa academia e vão
além fazendo um esforço de reflexão sobre a sociedade e não apenas repetindo a
tradição e suas falácias. Os pensadores anarquistas são legítimos
representantes dessas manifestações intelectuais que diferem do servilismo da
dominação politica e econômica, sobre os quais versaremos mais adiante, e como
suas considerações e propostas foram importantes na construção de um pensamento
autônomo e independente para a filosofia politica do anarquismo.
Prescindindo de
qualquer tipo de privilegio a grupos ou seguimentos de qualquer espécie na
sociedade, o pensamento anarquista é tecido na busca pela liberdade plena do
individuo e na sua realização pessoal. Um pensamento que se aplica em um
aspecto mais amplo abstraindo-se do momento histórico em que está inserido e da
situação em que possa estar seu precursor.
Na perspectiva de uma
ideal compreensão do ambiente social, onde de fato as ideias são desenvolvidas,
o pensamento anarquista é desprovido de qualquer composição doutrinaria ou
dogmática, optando pela flexibilização dos conceitos e a não doutrinação.
Como a dinâmica da
história pode ser diretamente relacionada com as escolhas feitas pelos
indivíduos que dela participam a não interação desses indivíduos com a
organização social torna o conceito político filosófico dessa coletividade
propenso a uma não conformidade com a realidade social e a histórica dos entes
sociais que essa politica assiste.
A questão que o
anarquismo levanta é como um conjunto de leis e regras pode ser capaz de suprir
à demanda dos interesses sociais e a dinâmica com que os desejos dos indivíduos
se apresentam, bem como os sonhos, conquistas, perspectivas não se enquadram em
normas estáticas e padrões conceituais dogmáticos. O que ocasiona um entrave na vida e no
desenvolvimento individual. E é justamente na problematizarão do contexto
social que o anarquismo acredita residir à necessidade de uma construção
constante e dinâmica dos entendimentos e convenções sociais, onde a organização
seja vista como funcional e temporária podendo ser modificada de acordo com a
conveniência coletiva.
A organização em uma
sociedade anarquista segue a dialética da história vivenciada e da necessidade
real da coletividade, não se apoiando no devaneio e nos artifícios dos conceitos
ideológicos.
As ideologias não são
provenientes de diálogos com a história da cultura social, comprometidas, em
grande medida, com os interesses econômicos e com abstrações feitas por seus
idealizadores que supõe situações futuras e modificam seus prognósticos de
acordo com a conveniência dos governos.
As estruturas sociais
são fragilizadas e o desenvolvimento pleno dos indivíduos sacrificados por
interesses de grupos que formam elites sociais, desprovida de classes e sempre
imparcial no comprometimento social o ideal anarquista visa um fortalecimento
das relações sociais em uma estrutura desburocratizada que tenha como função a
satisfação das necessidades dos indivíduos. Uma economia que seja testada de
forma concreta em constante dialoga com a coletividade, sem abstrações
técnicas.
Uma das propostas de
organização social feita pelos anarquistas é o federalismo, onde cada
comunidade possa se relacionar, livremente e com total autonomia, para discutir
e trocar ideias bem como partilhar o trabalho e as técnicas com as demais
comunidades, apoiando e solidarizando-se no mais alto grau de entendimento e
comprometimento social. A divisão da sociedade em pequenos núcleos é uma forma
de garantir a participação politica de todos. Essas subdivisões feitas na federação
podem ser comunas, confederações e diversas formas de ajuntamento e associações
humanas, que não significam submissão das comunidades a nenhum comitê central
da federação, a premissa básica do federalismo libertário é a potencializarão
da economia. Não sendo mais pautada na produção, mas sim no consumo e na real
necessidade da sociedade como um todo. E é através dessa interação que os
problemas poderão ser compreendidos melhor e a busca por soluções
potencializada.
A organização
anarquista não permite a formação de grupos privilegiados na sua constituição,
o federalismo que é empregado na sociedade capitalista e liberal em nada se
assemelha com a proposição de federalismo anarquista, as organizações não são
regidas de cima para baixo nem tampouco seguem qualquer determinação que não
seja de comum acordo e que esteja em total convergência com os interesses dos
entes federados, desde sua célula comunal até o desejo de cada participante da
comunidade ou cooperativa, associação ou grupo que faça parte da federação.
Impossibilitando o uso de poder contra as comunidades e grupos bem como
prevenindo a ascensão de classes elitistas e da centralização do poder.
O federalismo
libertário vai muito além da condição de assembleia administrativa ou de
conselho comunal para a configuração de conector de uma rede solidária que
auxilia na comunicação e no apoio mutuo dos diversos grupos que fazem parte da
federação. Não sendo assim um representante de grupos e seus interesses, mas
participando das necessidades pessoais de cada integrante da sociedade, o que o
caracteriza como politica singular na competência de união ordenada para a
satisfação das necessidades do indivíduo social.
Algumas políticas e
ideologias são baseadas na economia ou na técnica politica, o anarquismo se
diferencia ainda nessa característica em particular por ser pensado a partir
das necessidades humanas, indiferente a cálculos ou prognósticos e abstrações políticas
comum aos técnicos e políticos profissionais. A realidade concreta é o que
fomenta os conceitos do ideal anarquista. As dificuldades cotidianas é que
servem como vetores nas decisões na organização anarquista e não os interesses
abstratos sejam pessoais ou de grupos. A sempre a possibilidade de modificações
na estrutura da organização, de acordo com os interesses da coletividade uma
melhor elaboração dos paradigmas ou simples ajustamento nas relações
interpessoais e econômicas, desde que se preserve a liberdade e a justiça bem
como a solidariedade e o apoio mutuo, o anarquismo está sempre propenso a
modificações na busca para uma melhor forma de organização humana. A definição
organizacional é definida pela dinâmica natural da vida cotidiana, visto que a
participação de todos naturalmente proporciona essa ação e potencializa essas
mudanças. As acepções precedentes organizacionais são consideradas induções que
se complementam de forma dialética através da concepção da federação
libertária.
O individuo tem sua
liberdade e autonomia preservadas acima de qualquer conceito, no entanto sua
responsabilidade social é uma condição imprescindível em uma sociedade
anarquista. O tema responsabilidade é recorrente na discussão sobre como ideal
anarquista trata os deveres individuais, como a responsabilidade dos indivíduos
é compreendida. Assim como em toda coletividade as relações entre os
participantes sociais tem duas formas básicas que é a de individuo para
individuo e a do individuo para com a comunidade, na atuação essas situações se
complementam.
A responsabilidade
individual é inerente a cada ação operada pelo individuo, não sendo imputada a
nenhum conceito de moralidade abstrata sua conduta, mas de forma concreta e
objetiva a autoconsciência e os valores individuais regem a ação de cada
individuo. O anarquista sempre procura o progresso nas relações sociais agindo
em conformidade para o ajustamento dos interesses pessoais e as necessidades da
coletividade.
No aspecto dos
deveres coletivos aparece a perspectiva do interesse geral, em oposição ao
desejo individual. O que não é fato verdadeiro o interesse individual converge
para a vontade do individuo na medida em que esse é ator ativo na coletividade
e se vê refletido na ação social, na cooperativa, associação ou grupo social
que emerge para a execução de qualquer ação coletiva. Onde o individuo se
esforça para ultrapassar as dificuldades enfrentadas pela coletividade, que
também o beneficiara no âmbito pessoal.
Assim como no âmbito
individual as ações provenientes dos grupos emergentes são de total
responsabilidade desses agrupamentos, toda a decorrência é de sua inteira
responsabilidade os projetos ajustes e consequências são totalmente de seu
encargo.
A operacionalidade
dos agrupamentos sociais deve ser feito de forma organizada e com o máximo de
empenho para que cada um possa colaborar com a sua parcela de trabalho sem
onerar a ninguém, a contribuição deve ser na medida de cada um segundo a sua
capacidade. A organização em uma sociedade anarquista deve ser no mais alto
grau, desmistificando a crença popular de bagunça e falta de ordem, da palavra
anarquismo. A falta de ordem impossibilita qualquer forma de convivência
coletiva ou ação individual que tencione atividade produtiva e reiterada para a
sociedade. Os anarquistas propõe uma organização social onde a ordem seja
estabelecida e preservada por todos os entes sociais, de forma harmoniosa e os
conflitos sejam compreendidos como fomento para o aprimoramento da ordem
social.
Ao contrario do que o
senso comum entende como anarquismo sendo o contrário de ordem, os anarquistas
entendem que a ordem é fundamental para o exercício de qualquer atividade
coletiva, e a responsabilidade individual é imprescindível para a ordem
coletiva, os modelos de organização onde o poder centralizado é incumbido de
administrar a ordem social através do emprego da violência, é totalmente
ineficaz e incompetente. O que gera desordem e desajustes na sociedade, não
existe nenhum governo na história que tenha sido competente na sua gestão
social, o que aponta os anarquistas como o grande entrave no desenvolvimento da
sociedade, o poder constituído do estado.
A ausência de governo
proporcionaria a sociedade grande beneficio, visto que seria imperativa a
vontade social e não a condução do povo pelo estado. Para possibilidade de uma
ordem social de fato é imprescindível que a vontade social seja voltada
efetivamente exercida, e sobre tudo que a sociedade queira tomar para si a
responsabilidade que lhe compete.
A mudança social para
uma sociedade anarquista somente é possível a partir da vontade social, não
existe grupo ou pessoa que possa conduzir a sociedade a um nível tão elevado de
ordem social.
A preocupação com a
formação de uma ideia político social que tenha a capacidade de dialogar com a
moral social e a necessidade coletiva nos seus mais diversos aspectos,
econômico, organizacional e político se monstra uma tarefa de e dificuldade
extrema devido a circunstancias civilizatória e suas implicações.
Segundo Kropotkin,
“A história do
pensamento humano recorda o balançar de um pêndulo que leva séculos para se
balançar. Depois de um longo período de descanso vem um momento de despertar.
(...) quebra as cadeias. (..) Ela começa a investigação em novos caminhos,
enriquece nosso conhecimento com novas descobertas, cria novas ciências.
Mas os inimigos
inveterados de pensamento - o governo, o legislador, e do padre - que logo se
recuperar de sua derrota. Aos poucos eles se juntam suas forças dispersas e
remodelar a sua fé e seu código de leis para adaptá-las às novas necessidades.
Então, aproveitando a servidão de pensamento e de caráter, que eles próprios
tão efetivamente cultivados; aproveitando, também, pela desorganização
momentânea da sociedade, aproveitando a preguiça de alguns, a ganância dos
outros, as melhores esperanças de muitos, fluência que suavemente de volta para
seu trabalho, antes de tudo tomar posse da infância através da educação.”
O que o anarquismo
propõe, em grande medida, é uma ação coletiva no sentido de mudar os valores
cultuados há séculos, revolucionar o pensamento e o comportamento social na
medida que os indivíduos tenham consciência da necessidade dessa mudança e
passem a desejar essa mudança. Pensamento esse que seja pautado na justiça
social, na igualdade de direitos e na responsabilidade coletiva, e tenha como
novo paradigma a liberdade a igualdade e a solidariedade.
O que o anarquismo busca é sem duvida uma
revolução, uma mudança profunda em todas as estruturas sociais, políticas,
econômicas e éticas. Harmonizando ordem, liberdade, igualdade, paz e
solidariedade.
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Um grande pensador
anarquista de muita influência no desenvolvimento do pensamento libertário, com
participação direta nos grandes eventos de sua época como a comuna de Paris e a
constituição da Associação internacional dos trabalhadores.
Trabalho desenvolvido
por Kropotkin onde através de suas experiências e estudos demonstra como os
animais e as comunidades humanas se relacionam melhor quando existe cooperação
nas suas relações sociais, o que ele chama de apoio mutuo, o que favorece a
comunidade como um todo na luta contra as dificuldades naturais para a
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