Como todo sistema de organização social o sistema capitalista foi formado por uma série de acontecimentos e eventos históricos que culminaram na sua formação e consolidação. A cultura e o modo de desenvolvimento das civilizações ocidentais encontraram um ambiente favorável para o surgimento do capitalismo.
A origem do capitalismo esta na passagem da idade média para a idade moderna. Na idade média os modelos de organização social eram imperialistas, monarquistas ou outros tipos de tiranias cuja economia era basicamente agrícola e tanto o direito como as obrigações sociais estavam estreitamente ligadas à cultura e a religião. A terra era o bem mais valioso na idade média e o ouro e a prata a moeda de maior aceitação e valor reconhecido, visto que a prática do escambo era a forma mais comum de comercializar os produtos de consumo, a terra era o meio mais comum de acumular riquezas. As cruzadas com suas grandes expedições e espoliações traz para a Europa um imenso acumulo de riquezas e fortalece por outro lado o fluxo de comercio entre os outros países.
Com o mercantilismo e a possibilidade de se fazer grandes fortunas, o ambiente econômico sofre uma grande mudança. Nos séculos XIII e XIV com o surgimento dos grandes centros urbanos aparece uma nova classe social, os comerciantes e habitantes dos burgos, essa classe comerciante passa a obter grandes lucros através da exploração do comercio.
Por outro lado surgem os cambistas e os banqueiros, devido às rotas comerciais sofrerem com muitos assaltos, os banqueiros eram de grande serventia para os comerciantes e seus lucros estavam relacionados na circulação da moeda na troca e na guarda dos valores, em uma economia efervescente. Onde se principia o conceito e a cultura do lucro, acúmulo de riquezas. Que até então era algo condenável pela igreja que tinha forte influencia na política e na economia durante a idade média. O controle dos sistemas de produção e expansão dos negócios são os próximos passos dessa economia insurgente.
Nos séculos XVI ao XVIII, as grandes expedições marítimas, proporcionadas pelos nobres e os governos da época, fomentam o acumulo de capital. O cumulo de capital (ouro e prata), modifica a forma de troca inserindo a moeda na economia e a burguesia comercial se fortalece economicamente. Apesar do surgimento dessa nova classe social a maioria da população, os camponeses não participam dos benefícios proporcionados pelo grande volume de capital e de riquezas, mas passam a ser mão de obra de baixo custo para os industriais que vão surgindo. Juntamente com a mudança econômica a uma revolução na forma de produção, a chamada revolução industrial, com o avanço das ciências e das pesquisas em todas as áreas em grande medida promovido pelos mecenas e também à troca de conhecimento entre os povos.
A revolução industrial que se dá primeiramente na Inglaterra e rapidamente absorvida pelo resto da Europa, onde substitui a produção artesanal pelo trabalho nas fábricas, a relação entre patrão e empregados e de exploração de uma mão de obra barata, já que as maquinas faziam o trabalho sem a necessidade de um trabalhador especializado.
Dessa forma os industriais obtinham mais rapidez na produção de seus produtos e com baixo custo. O que trouxe diversos desequilíbrios econômicos, como a queda no preço das mercadorias devida o aumento da oferta e diminuição da demanda, já que os propensos consumidores (os trabalhadores) tinham péssimos salários e o índice de desemprego era muito alto.
Nesse mesmo período pensador como, John Locke e Adam Smith teorizam sobre esse novo formato de organização social. Em conformidade com a realidade e o ambiente econômico de sua época Adam Smith escreve sua obra “A riqueza das nações”, o que foi um marco para a compreensão da economia de sua época, orientando como deveria se portar os sistemas econômicos. John Locke um dos maiores defensores do liberalismo e da economia de mercado estabelece alguns os princípios de como a sociedade e o estado deve se portar em relação à economia e as relações sociais, defende a propriedade privada, o livre mercado e a não intervenção nos assuntos econômicos pelo estado bem como o estado de direito onde se deve estabelecer igualdade perante as leis estabelecidas.
Com a grande expansão industrial o avanço das tecnologias e o aperfeiçoamento do mercado financeiro as economias se tornam globais as grandes corporações fixam sedes em diversos países e a economia toma proporções jamais imaginadas antes, todas as riquezas produzidas no mundo passa pelo chamado sistema financeiro. Os bancos e instituições financeiras regulam o mercado e obtendo grandes lucros, e são os que mais lucram mesmo sem produzir absolutamente nada.
O sistema capitalista (liberal) foi formatado dentro desse contexto histórico, voltado apenas para a idéia de que as pessoas se organizam apenas para suprir suas necessidades, e a economia é a principal força motriz para se constituir uma sociedade viável e que possa agregar e assistir seus participantes. Os acontecimentos históricos que proporcionaram o surgimento do capitalismo esta entre assassinatos, roubo. Saques, a utilização de mão de obra escrava a desvalorização total das pessoas, o desrespeito as crianças que eram utilizadas nas fábricas na Inglaterra por serem mão de obra escrava, visto os valores que lhes eram oferecidos e a carga horária despendida entre outras atrocidades.
Pensar uma sociedade onde apenas a economia prevalece como base na sua constituição, onde os teóricos têm que se desdobrar para justificar as mazelas proporcionadas pela falta de competência desse mesmo sistema, que não satisfaz as necessidades das pessoas que dele participa de forma igualitária e justa.
As organizações sociais têm em seu cerne fatores culturais, morais, religiosos, necessidades que a economia não tem competência pra analisar. Os paradigmas capitalistas e liberais não trouxeram a felicidade para o homem, apenas acrescentou necessidades que antes não existiam para aquecer o mercado consumidor. O sistema foi elaborado com o intuito de sempre expandir, tem proporcionar cada vez mais lucros para um numero cada vez menor de pessoas, provavelmente com o ranço dos governos imperialistas que o precedeu, não respeitando os ditos direitos iguais, mas sim favorecendo prerrogativas para as classes dominantes e as oligarquias econômicas. O poder político das “republicas” são uma falácia, visto que quem não detém o poder econômico em um sistema como esse não tem o poder político e nem tampouco é representado pelos seus delegados (vereadores, deputados, presidentes).
Os benefícios da economia de mercado não são proporcionados para os famintos da áfrica nem tampouco para os flagelados dos países pobres, os pobres assalariados e desempregados de qualquer parte do mundo.
Não há preocupação real com as pessoas as relações humanas suas configurações morais e de como vão ser estabelecidas e convencionadas as relações sociais. Há quem interessa o progresso se não se pode participar dos benefícios proporcionados por ele, a quem interessa a ordem se a sua fundamentação não tem comprometimento com a justiça social, com a liberdade e a igualdade de direitos e deveres.
O anarquismo
O anarquismo tem seu surgimento como ideário político e de organização social em diversos países da Europa, mas o uso da palavra anarquia foi notabilizado após Proudhon afirmar suas convicções políticas de acordo com estes princípios.
O anarquismo é um ideal de organização social que se opõe ao poder centralizado e sobre tudo a constituição de um estado gestor que detenha o poder econômico e político na sociedade.
Indiferente de ser um estado tirano ou representativo não se prevalece através da concepção anarquista como legitimo para representar os interesses do povo.
Segundo P.J. Proudhon, pensador e ativista anarquista, ”Anarquismo é uma teoria política que pretende criar anarquia, a ausência do senhor, do soberano” (Proudhon).
A palavra é proveniente do grego “na” ausência e “archos” governo. A palavra anarquia trás implícita a definição do ideário anarquista, que é a ausência de um governo centralizado e de um gestor do poder, para o maior avanço que uma sociedade pode obter que é a autogestão.
O anarquismo preconiza a ordem em seu mais alto grau de formação, onde todos devem partilhar das prerrogativas proporcionadas pelo trabalho coletivo de uma sociedade produtiva e tecnologicamente avançada como é a sociedade moderna, e de igual forma ser responsável pelos seus atos atividades e comprometimento com a manutenção e constituição da sociedade.
A sociedade anarquista tem que proporcionar igualdade de fato, onde a possibilidade de exercitar as diferenças e subjetividades de cada um promove a igualdade real, não enquanto lei ou decreto, mas de forma real e plena. Os indivíduos sociais dentro dos sistemas autoritários se acostumaram a ser alienados de seus direitos e deveres delegando a outros a tarefa de lhes representar e tomar decisões em seu lugar. Seja através de governos autoritários ou por representante eleitos através do sufrágio universal, nunca haverá quem represente a pessoa melhor do que ela mesma, os representantes e delegados do povo tem em seus discursos um comprometimento ideológico de resolver as necessidades do povo e na sua prática um empenho real em manter-se no poder e defender interesses particulares e de seus grupos e oligarquias.
Em oposição ao capitalismo o anarquismo tem a critica a exploração do homem pelo homem a corrupção e a ideologia política (que mascara a realidade), e mais demonstra que um sistema social viável que proporcione justiça social e igualdade de direitos e deveres para todos tem no mínimo que ser pensado através de questões sociais em todos os ângulos e não apenas na economia e na necessidade. O Marxismo também como no capitalismo pensou a sociedade através do viés econômico e já nasceu fadada a derrota, não se promove igualdade através de ideologias, a vida é mais dinâmica e cheia de subjetividades que a ideologia não é capaz de abranger.
A justiça tem que ser um dos pilares da sociedade, e como se promove justiça em igualdade. Uma das mazelas do sistema capitalista é justamente a falta de igualdade social, enquanto alguns são muito ricos outros estão na mais estrema miséria.
Outro ponto que o anarquismo preconiza é a liberdade, não como chavão para discurso como fazem os liberais, mas outro sim uma liberdade real vivenciada e promovida através de conquistas coletivas. A liberdade a qual reivindicam os anarquistas é a liberdade de ser, de viver, e exercitar suas individualidades. Porque somente no respeito das subjetividades de cada um podemos ser totalmente iguais em direitos o que inevitavelmente promove a justiça social. Ora a liberdade de direitos implica na responsabilidade integral pelos atos de cada individuo, e eleva o nível de organização
Onde cada individuo tem deveres e responsabilidades sociais de caráter permanente, e que reflete em toda a sociedade.
O anarquismo é em ultima analise o maior grau de organização já pensado pelo homem.
Onde as preocupações com as responsabilidades e a participação de todas as pessoas e de tal maneira importante, e que se torna essencial à vontade e o comprometimento com a organização da sociedade.
Pensadores anarquistas como Kropotikin desenvolveram estudos para demonstrar suas considerações sobre organização social, discorre sobre as organizações de seres como formigas abelhas até chegar aos mamíferos superiores em tribos primitivas, (sendo um grande colaborador da enciclopédia britânica), Kropotikin mostra como o apoio mutuo é determinante para suprir as necessidades dos animais e insetos, bem como nas tribos primitivas para a sobrevivência em situações e regiões inóspitas.
Muito fácil é desenvolver formas de compartilhar as riquezas os economistas de plantão têm diversas teorias de como se devem dividir os bens e produtos, mas socializar a miséria não é tarefa fácil para quem compreende a sociedade apenas através do viés econômico.
Não se conclui um projeto social de forma perfeita já que o participante de uma sociedade feita de seres que estão muito distante de qualquer traço da perfeição não pode ser perfeita, mas sim a busca constante para se promover o melhor é o ideal, para a convivência e a organização social.
P.R.S. Santos
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