terça-feira, 14 de junho de 2011

Os Intelectuais e a Organização da Cultura (Antonio Gramsci).


Os intelectuais e a cultura de Gramsci aborda a questão dos intelectuais e sua situação social e a que grupo social e eles pertencem. A principio Gramsci a primeira questão que o autor aborda é a autonomia do intelectual na sociedade, ele é um grupo autônomo ou apenas parte de outro grupo social? O elucidar dessa questão é apontado por Gramsci como a existência de diversos seguimentos intelectuais na sociedade e cada um representando a classe em que está inserido, e demonstra essa ideia através de uma contextualização da história focando na formação dos movimentos intelectuais e suas categorias. 
Segundo Gramsci existe duas formas de intelectuais que merecem destaque, na sua abordagem, que são os que representam os interesses das classes que detém o poder econômico, em determinado período os senhores feudais e posteriormente os empresários e comerciantes e os possuidores das prerrogativas econômicas. A sociedade é movida por uma necessidade essencial a de produção econômica, e o grupo social que detém as prerrogativas econômicas tornam-se possuidora poder político e militar, e a classe dos intelectuais eclesiásticos que durante muito tempo exerceram grande influência em todas as camadas sociais e determinaram os rumos das políticas sociais e econômicas.A classe intelectual é formada de forma paralela a essas esferas sociais, bem como influem na formatação das tecnologias que servem a essas classes que detém o poder e de certa forma influem na história e no desenvolvimento da sociedade.Se colocando quase sempre a disposição dos mandatários e das classes dominantes fomentando os fatos históricos comentados por Gramsci os cientistas, filósofos e teóricos formam o conjunto intelectual da sociedade. “Uma das mais marcantes características de todo grupo social que se desenvolve no sentido do domínio é sua luta pela assimilação e pela conquista "ideológica"dos intelectuais tradicionais, assimilação e conquista que são tão mais rápidas e eficazes quanto mais o grupo em questão elaborar simultaneamente seus próprios intelectuais orgânicos.” (Gramsci).Segundo o autor cada momento histórico é necessário e cada intelectual é, em grande, medida o senhor intelectual de sua época, para Gramsci cada momento tem em si as bases necessárias para promover o período histórico subseqüente, o que o caracteriza com um pensamento puramente marxistas no que se refere a esse pragmatismo histórico.O que limita esse intelectual e qual é o alcance de suas definições intelectivas?A critica intelectual percorre um processo de analise de suas próprias definições intelectivas o que é em si mesmo é um erro metodológico, visto que deveria procurar compreender suas considerações do conjunto das relações sistemáticas.Gramsci acredita que cada ser humano é um intelectual, embora em potencial, visto que somos todos capazes de formular conceitos e produzir pensamentos, porém a distinção se faz entre o trabalhador técnico e o cientista o pensador o filósofo. “Todos os homens são intelectuais, poder-se-ia dizer então: mas nem todos os homens desempenham na sociedade a função de intelectuais” Na medida em que um grupo de intelectuais formam as ideologias e os conceitos, se tornam os detentores do pensamento de sua época, e formam as superestruturas com base puramente ideológicas.Segundo Gramsci,“Formam-se assim, historicamente, categorias especializadas para o exercício da função intelectual; formam-se em conexão com todos os grupos sociais, mas especialmente em conexão com os grupos sociais mais importantes, e sofrem elaborações mais amplas e complexas em ligação com o grupo social dominante.Uma das mais marcantes características de todo grupo social que se desenvolve no sentido do domínio é sua luta pela assimilação e pela conquista "ideológica"dos intelectuais tradicionais, assimilação e conquista que são tão mais rápidas e eficazes quanto mais o grupo em questão elaborar simultaneamente seus próprios intelectuais orgânicos.”(idem).Esses intelectuais são uma classe distinta em sua formação, no entanto, coabitam com os detentores do poder econômico, visto que esses são historicamente seus mecenas, fomentando a classe de intelectuais aos seus serviços, na produção de novas tecnologias bem como formas mais apuradas de dominação.A escola forma pessoas de formas diversas para suprir essas necessidades sociais, tanto para produzir o intelectual técnico que ira servir para o trabalho na industria e bem como para os diversos seguimentos sociais.O sistema atual de organização social o capitalismo com base na divisão do trabalho segundo Taylor é um exemplo de construção intelectual a serviço da dominação, onde se construiu uma nova forma de escravismo e alienação do trabalhador, em uma nova forma de relação entre senhor e empregado.E é na escola que essa distinção se principia na distinção programada entre qualidade e quantidade do conhecimento ministrado e da formação intelectual.Este modo de colocar a questão entra em choque com preconceitos de casta; é verdade que a própria função organizativa da hegemonia social e do domínio estatal dá lugar a certa divisão do trabalho e, portanto, a toda uma gradação de qualificações, em algumas das quais não mais aparece nenhuma atribuição diretiva e organizativa: no aparato da direção estatal e social existe toda uma série de empregos de caráter manual e instrumental (de ordem e não de conceito, de agente e não de oficial ou funcionário, etc.); mas, evidentemente, é preciso fazer esta distinção, como é preciso fazer também qualquer outra.(ibidem)No entanto os intelectuais são os condutores a serviço das classes dominantes, exercem um papel fundamental na execução da hegemonia social, onde é necessário fomentar o exercício das atividades subalternas e a governança política, o demonstra a necessidade de ideologias para a formação de conceitos universais tornando a colaboração das massas trabalhadoras ações espontâneas e constantes, ainda que estejam alienadas de seus direitos e exploradas em seus deveres.Importante salientar a distinção que o autor faz entre os intelectuais provenientes das camadas sociais diversas, essências na manutenção das tecnologias, e na que produção de conhecimento de forma inerente a sua condição ambiental, e os intelectuais que não são trabalhadores técnicos, mas estão a serviço da governança e do aparado de poder.Faz uma clara distinção entre o intelectual que produz conhecimento pelo seu oficio, e as organizações intelectuais que se formam dentro das camadas sociais que estão no poder político e econômico. Lembrando a criação de superestruturas como a criada na idade média pelos eclesiásticos que entre outras medidas se tornaram detentores do conhecimento tornando as pesquisas científicas proibidas e fomentando a alienação das massas a serviço de assegurar o poder político e econômico.Gramsci faz uma analise detalhada do desenvolvimento intelectual em diversos países como Inglaterra, Alemanha, França, Rússia, Estados unidos entre outros, de forma global avalia os processos históricos e econômicos no mundo e a organização social dominante para o exercício das funções subalternas da hegemonia social, aponta para uma camada social de intelectuais que representam um período histórico determinado e trabalham a seu serviço, dando como exemplo os positivistas que produziram muitas obras para firmar as novas relações de trabalho e sociais.As proposições de Gramsci sobre a formação da classe de intelectuais tem como principal argumento a estrutura conceitual formada por Hegel sobre a construção da história e da cultura, porém com forte influência de Karl Marx na medida em que se denota um fatalismo histórico e um pragmatismo evidente nas afirmações de Gramsci. Acredito que toda manifestação social que se manifesta como grupos distintos ou classe especifica tem causas diversas, muito embora Gramsci tenha razão no que se refere à inferência do poder econômico e político em determinados seguimentos sociais principalmente nas responsáveis pelo fomento de tecnologias e construção de políticas ideológicas (intelectuais). No entanto não percebo uma hegemonia intelectual predominante, mas sim uma diversidade, que é a meu ver, uma condição necessária para garantir os saltos na ciência e na construção de políticas sociais mais justas e igualitárias longe de ideologias pragmáticas e engessadas em dogmas e interesses classistas, seja essa classe representada por grupos de intelectuais ou por lideres com nomes pomposos como representante da classe operária.Sempre haverá grupos de intelectuais a serviço das classes dominantes, tanto para aprimorar as técnicas de dominação e controle da economia como para manter o poder político e o controle da sociedade, essa é uma condição essencial em um sistema representativo e de divisão de classes, seja ele absolutista ou representativo. O avanço no pensamento político se dá através das vozes que destoam dessa academia e vão além fazendo um esforço de reflexão sobre a sociedade e não apenas repetindo a tradição e suas falácias.

 Referencias:Antonio Gramsci. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. Editora Civilização Brasileira S.A. RJ. 1982.

2 comentários:

  1. Tenho problemas em entender reflexões políticas, então perdoe minha ignorância. Me parece que Gramsci faz aí um resgate, mesmo que acidental, embora justificado pela sua influência hegeliana, da Missão do Sábio, de Fichte. Eu detesto vários aspectos do pensamento de Fichte, mas concordo que os intelectuais têm seu papel em guiar a sociedade mais tola a sua liberdade. Porém, Fichte só poderia ter dito isso se ele fosse partidário da divisão do trabalho, portanto um classista.
    Então me parece que o senhor Gramsci ressuscita essa ideia e lhe dá uma polida, principalmente porque ele diz que todos são intelectuais, embora potenciais, e aponta que intelectuais podem surgir de qualquer lugar, enquanto que Fichte os trata como uma coisa completamente distinta e alheia às massas sociais, quase como se fosse um tipo de Messias, que vem de fora para salvar os de dentro.
    Uma coisa, contudo, que não entendi bem é que parece que Gramsci trata os intelectuais como uma classe distinta, com subclasses até. Ele fala aí de classe social? Classe social dos intelectuais?

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    1. Não se trata de um revisionismo ou repaginada em idéias classistas, não posso lhe afirmar sobre a analogia feita mentre os intelectuais citados com Fiche e Hegel. claro que no caso de Hegel a influência é inevitável dada a orientação Marxista de Gramsci e a relação já citada no texto acima.No entanto atente a afirmação que "a existência de diversos seguimentos intelectuais na sociedade e cada um representando a classe em que está inserido, e demonstra essa ideia através de uma contextualização da história focando na formação dos movimentos intelectuais e suas categorias. " portanto não se trata de uma classe no sentido de divisão de classes sociais mas de indivíduos que se destacam entre seus pares no que implica ai a defender sua respectiva classe social ou, outro sim, criticá-la. "Sempre haverá grupos de intelectuais a serviço das classes dominantes, tanto para aprimorar as técnicas de dominação e controle da economia como para manter o poder político e o controle da sociedade. no que digo também durante o texto.

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